Com ar divertido, homens de paletó, bengala e chapéu se equilibram ao caminhar sobre a estreita tábua que liga o barco Itapuã à terra firme, sob o olhar atento de um cão. Alguns carregam pacotes e sacolas embaixo dos braços. Ao fundo, na outra margem do braço do rio, uma casa de estilo colonial destaca-se em meio à mata junto a uma moradia de madeira com um varal de roupas brancas estendidas.
Com data provável de 1900, a imagem descreve uma cena cotidiana da época na Ilha da Pintada, a mais populosa das 16 que formam o arquipélago do Delta do Jacuí. Desembarque na Ilha da Pintada, fotografia de Lunara – pseudônimo que agrega as primeiras sílabas de nome e sobrenome do fotógrafo amador e comerciante porto-alegrense Luiz Nascimento Ramos (1864-1937) –, faz parte da exposição Interfaces Arquipélago: um Bairro Feito de Ilhas e Muitas Histórias, em cartaz no Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, na Rua João Alfredo, 582, no bairro Cidade Baixa, até 6 de março.
Além das fotografias históricas, a mostra apresenta imagens atuais do arquipélago, captadas por alunos das escolas Maria José Mabilde e Almirante Barroso, da Ilha da Pintada, e Alvarenga Peixoto, da Ilha dos Marinheiros. Os jovens participaram de oficinas de linguagem fotográfica e cinematográfica promovidas pelo projeto Interfaces Arquipélago, desenvolvido entre 2016 e 2019, com financiamento do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural (Fumproarte). Além das fotos em exposição, os jovens produziram também o documentário Interfaces: os Narradores do Arquipélago, já postado no YouTube.
— Afora o domínio técnico das linguagens, necessário para que registrassem suas próprias vivências, a ideia era a de proporcionar a eles uma visão do passado por meio de fotografias antigas e visitas a diferentes museus — relata o antropólogo Yuri Schönardie Rapkiewicz, coordenador da iniciativa.
Segundo Leticia Bauer, diretora do Museu de Porto Alegre, a mostra – que conta também com objetos representativos da cultura ilhéu contemporânea do acervo do Museu das Ilhas — busca aproximar distintos territórios da Capital, que pouco se conhecem, além de fomentar um novo público para frequentar museus.
— Esperamos que a exposição seja um convite para que as pessoas conheçam as ilhas, fundamentais para a história da nossa cidade — conclui Leticia.