O Instituto de Educação Flores da Cunha é a mais antiga escola de formação de professores do Estado. Fundada em 1865, durante o Império, como Escola Normal da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, ainda recebeu outros nomes, como Colégio Distrital, Escola Complementar e Escola Normal de Porto Alegre, até ganhar a denominação atual em homenagem ao general José Antônio Flores da Cunha, governador do Estado entre 1930 e 1937.
No início, o colégio da rede pública estadual funcionava na esquina das ruas Duque de Caxias e Marechal Floriano, no centro da Capital. Em março de 1937, foi inaugurada a sede atual, junto à Redenção, na Avenida Osvaldo Aranha, no bairro Bom Fim. Uma curiosidade é que o edifício, projetado em estilo neoclássico pelo arquiteto espanhol Fernando Corona, abrigou o Pavilhão Cultural da Exposição do Centenário Farroupilha, em 1935, antes de estar totalmente finalizado. Hoje, é tombado como patrimônio histórico estadual e municipal.
Além de formar educadores, o instituto se destacou na promoção da cultura. As paredes internas foram decoradas com telas de Lucílio de Albuquerque (Garibaldi e a Esquadra Farroupilha, de 1919) e Augusto Luiz de Freitas (A Chegada dos Casais Açorianos, de 1923, e A Tomada da Ponte da Azenha, de 1922). Outro exemplo é o orfeão de alunos, criado em 1937.
Nas décadas de 1950 e 1960, quando foi regido pela professora Dinah Néri Pereira, que havia estudado com o compositor Heitor Villa-Lobos no Rio de Janeiro, o coral chegou a gravar dois discos. Uma das maiores intérpretes de música popular do país, Elis Regina emprestou sua voz ao orfeão quando estudava no Instituto de Educação. Atualmente, o grupo é constituído de 16 ex-alunas, algumas com idade acima de 90 anos, que ensaiam todas as sextas-feiras, sob a regência de Bernardo Jean Marie Varriale. Por sua vez, Dinah Néri Pereira (falecida em 1978) dá nome à escola anexa de Ensino Fundamental do instituto, situada do outro lado da Redenção, na Avenida José Bonifácio.
No edifício-sede da escola, as aulas estão suspensas desde 2016, em face de um conturbado processo de restauração. No momento, as obras se encontram paralisadas devido à falta de recursos. Havia a expectativa de que fossem retomadas agora em janeiro, mas ainda não há data definida para que isso ocorra, informa a Secretaria de Educação do Estado. A sensação de abatimento frente à atual situação do colégio é generalizada entre os que vivenciaram o apogeu do instituto.
— Estamos muito tristes com o desmonte físico, moral e emocional da escola — diz a presidente da associação de ex-alunos, Vera Neusa Lopes, que fez parte da primeira turma de jardim de infância instalada no prédio, em 1937.
Uma equipe de jovens ex-alunos está produzindo o curta-metragem IE: 150 Anos de Educação. O objetivo é lançar o documentário em meados de 2020.
— A ideia é resgatar a importância histórica do colégio, mas também expor o desmanche dos sonhos e da memória afetiva de várias gerações que passaram por ele — conta o diretor e roteirista Fredericco Restori, que estudou no instituto de 2012 a 2016.