
O texto a seguir é uma colaboração enviada pelo jornalista Maurício Macedo, que está pesquisando sobre o sambista Caco Velho para um trabalho acadêmico e posterior publicação em livro.
“Dono de um suingue inigualável, Caco Velho gravou mais de 30 LPs, influenciou astros e estrelas e levou a ginga brasileira aos Estados Unidos e à Europa. Mesmo assim, o sambista gaúcho, que completaria cem anos no último dia 12 de março, nunca teve o reconhecimento que merece.
Matheus Nunes, seu nome de batismo, chamava a atenção desde guri, assobiando e batucando no meio de gente bamba. Ao cantar a música Caco Velho, de Ary Barroso, sua vida dura começou a mudar. O jovem projeto de sambista, de início, detestou o apelido, mas com ele correu o mundo.
Na capital gaúcha, onde nasceu, ganhou notoriedade em um concurso de músicas carnavalescas ao vencer Lupicínio Rodrigues (seu parceiro no samba Que Baixo!). Aos 23 anos, tocava pandeiro na Rádio Gaúcha, com o Conjunto Regional de Piratini, e também em cassinos e boates da Argentina e do Uruguai. Em São Paulo, o instrumentista, compositor e intérprete era estrela da Rádio Tupi. Pioneiro da televisão brasileira, cantou e dançou nas telas de cinema ao lado de Grande Otelo e Oscarito. Atacava ainda no piano, baixo e bateria. Com o pandeiro na mão, conheceu Walt Disney na Cidade Maravilhosa. O gaúcho teria sido uma das inspirações para o personagem Zé Carioca.
Em meados dos anos 1950, Le Petit Caco botava todo mundo para dançar no cabaré La Macumba, onde astros como Fred Astaire marcavam presença em Paris. Na França, 'o homem com a cuíca na garganta', como diziam, gravou o disco Soirée a La Macumba (Noite em La Macumba), que inclui os sambas Pourquoi, Voala e Mademoiselle Denise.
De volta ao Brasil, se autoproclamou 'O Comendador da Bossa Nova', o LP com os clássicos Samba de Uma Nota Só e O Pato. Após dois anos tocando em cassinos dos EUA, com o conjunto Brazilian’s Bar, seguiu direto a Portugal para shows em teatros, rádios e emissoras de TV. Em terras portuguesas, a toada Mãe Preta – composta em parceria com Piratini - foi gravada pela cantora Maria da Conceição. A letra sobre a escravidão acabou censurada, o que não impediu a canção ficar mundialmente conhecida na voz da Rainha do Fado, Amália Rodrigues, que eternizou a versão Barco Negro, escrita por David Mourão-Ferreira.
Assim depressa, a vida é essa! Caco Velho teve os seus grandes momentos, mas morreu cedo, aos 52 anos, em 14 de setembro de 1971, há 48 anos. Para não deixar o Sambista Infernal cair no esquecimento, o músico Rafael Rodrigues e o produtor Lucas Luz lançaram o projeto Rafa 16 & Caco Velho Ensemble. Disponível para apresentações ao vivo, o grupo resgata arranjos originais preservando a memória desse artista gaúcho que ajudou a fazer do gingado brasileiro uma referência universal”.
