Por Pedro Haase Filho, interino
Neste sábado (2), dezenas de milhares de fiéis deverão manter uma tradição açoriana que remonta a meados do século 19. Há 144 anos ocorre em Porto Alegre uma das maiores manifestações de fé em nosso Estado: a procissão de Nossa Senhora dos Navegantes, reconhecida como o primeiro patrimônio cultural imaterial da cidade. A imagem da santa será conduzida desde a Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Centro Histórico, até o templo dedicado a ela na Zona Norte, no chamado Santuário de Navegantes.
Protetora dos nautas, como os portugueses costumavam se referir aos navegadores, a imagem veio de Portugal, em 1871, por encomenda de um grupo de açorianos moradores da Capital destinada ao escultor lusitano João d’Affonseca Lapa. Em 1875, a imigrante Margarida Teixeira de Paiva doou um terreno, no qual foi construída uma capela de madeira. No entorno, que ficou conhecido como Arraial dos Navegantes, construiu-se uma praça. Naquele mesmo ano, após a conclusão da obra, deu-se a primeira procissão oficial em honra à Nossa Senhora dos Navegantes.
Em 1896, um incêndio destruiu a primeira capela, mas a imagem da santa não foi atingida pelo fogo. Até que fosse construído outro templo no Arraial dos Navegantes, a imagem ficou exposta na Igreja do Rosário. Desde então, todo ano, no mês de janeiro, a imagem é transladada para o templo do Centro Histórico, onde permanece por um período. No dia 2 de fevereiro, a escultura de madeira retorna, então, à igreja de origem, em procissão. Reconstruída em 1897, outro incêndio atingiu a igreja em 1910. Desta vez, causando danos irreparáveis à imagem. Com a ajuda da comunidade, o templo foi novamente reconstruído em 1912. No ano seguinte, chegou de Portugal outra escultura, esculpida pelo mesmo artista.
Durante muitos anos, milhares de fiéis acompanhavam a procissão, principalmente, por via fluvial. Por motivos de segurança, a tradição foi interrompida nos anos 1990. O acompanhamento do cortejo de barco pelo Guaíba foi retomado em 2005, mas em proporções bem menores, com saída das ilhas. Atualmente, a maioria dos fiéis faz o trajeto a pé, acompanhando a imagem da santa por quase cinco quilômetros, muitas vezes sob um sol inclemente.
A procissão católica de 2 de fevereiro coincide com as manifestações de fé das religiões de matriz africana. Devido ao sincretismo religioso − presente desde o período da escravidão −, nesta data, reverencia-se também Iemanjá, a Rainha do Mar, quando a orla marítima do Estado é coberta por devotos, flores e perfumes, em homenagem a Yemonja, nome que no idioma yorubá significa “a mãe cujos filhos são peixes”.
Colaboração de Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite, pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa