Por Pedro Haase Filho, interino
Durante o Estado Novo, nos anos 1930, brilhava no cenário teatral brasileiro a atriz Dulcina de Moraes (1908-1996), que costumava excursionar pelo país em temporadas de companhias teatrais da época. O Theatro Sete de Abril, em Pelotas, era destino certo da artista. Já no final dos anos 1920, estivera na cidade gaúcha como principal estrela da Companhia de Leopoldo Fróes, que encenava também peças do pelotense Abadie Faria Rosa. Pouco depois, em 1932, voltou a Pelotas, desta vez à frente da Companhia Brasileira de Comédia, que liderava com Manoel Durães.
Como era praxe em cada temporada teatral naqueles tempos, as presenças de Dulcina e seus atores no então exuberante teatro pelotense mereceram a publicação de catálogos, peças que hoje são consideradas raridades, principalmente se encontradas em bom estado de conservação. Este é o caso do catálogo daquela nova temporada, de 1932, de Dulcina de Moraes em Pelotas. Impresso no formato 23,5cm x 15,5cm, em 15 páginas que traziam a programação da companhia, o elenco e vários anúncios publicitários de produtos e casas de comércio tradicionais da cidade, como o do Bazar Edison, fundado por Francisco de Paola, um dos pioneiros do cinema gaúcho, com projeções também em Porto Alegre.
Outro anúncio inusitado é o do fotógrafo espanhol Ildefonso Robles, cuja faceta como publicitário era desconhecida. Robles tinha um estúdio que atendia a elite pelotense e inspirou o músico e escritor Vitor Ramil no livro Satolep. O personagem Selbor é um anagrama de Robles. Havia, também, anúncios da Casa Krentel (perfumes), do Café Lamego, do Café For, da Tinturaria Caprio, além de fábrica de aparelhos ortopédicos, ferragem, restaurante, hotel, salões de beleza e confeitarias.
Aquela temporada de Dulcina de Moraes e sua companhia no Theatro Sete de Abril foi, como sempre, um sucesso. No elenco, estava também o marido da atriz e galã do grupo, Odilon Azevedo, além de Conchita Bernard, Afonso Stuart, Henriqueta Brieba, entre outros. A estrela manteve-se ativa no teatro até os anos 1980, quando inaugurou o Teatro Dulcina de Moraes, em Brasília.
Colaboração do jornalista Klécio Santos, autor dos livros Sete de Abril, O Teatro do Imperador, Mercado Central, Pelotas e Bibliotheca Pública Pelotense.