Na edição do fim de semana anterior, o Almanaque abordou as dificuldades para se chegar aos balneários da orla nas décadas de 1950 e 1960. Confirmando o que dissemos, antes disso era naturalmente mais penoso ainda. Leitores que se identificaram com a matéria enviaram depoimentos que dão uma boa ideia da encrenca que era uma viagem rumo ao Litoral, não só partindo da Capital (ou do interior do Estado), mas também de cidades mais próximas ao mar, como Santo Antônio da Patrulha, ou até mesmo distritos de Torres.
Maria Eloisa da Costa, natural e moradora de Santo Antônio, diz: "Pelos idos de 1938, 1940, famílias de Barrocadas, interior de Santo Antônio, como a da minha mãe, Joana Costa, veraneavam em Tramandaí. Deslocavam-se de carreta de boi. Mas, antes, havia a preparação toda: carneavam e faziam charque. A mulherada se reunia e fazia pão, bolacha, pão de ló, rosquete, broa, rosca de polvilho, biscoito. Levavam galinha, vaca de leite (havia crianças pequenas). Faziam roupas, como maiôs de pelúcia, para usarem na praia. Passavam pelo Rio da Galinha, Passinhos, Lagoa dos Índios, Estância, até chegarem a Tramandaí. Lá, alugavam uma casa, na beira do rio, hoje Rua Beira-Rio. Após descarregarem a mudança, um dos homens deslocava-se até onde hoje se situa a Petrobras para deixar os bois num campinho do seu Cristino, retornando, então, a pé para a casa alugada. Para os banhos de mar, levantavam ao clarear do dia, horário recomendado como o melhor para a saúde, atravessavam cômoros de areia fininha, tocada pelo vento nordestão batendo nas pernas, e a criançada berrando. Na volta é que tomavam café da manhã. À tardinha, iam ao centro, onde a atração eram o pau de sebo e o salão de baile (Salão Sete). A viagem era feita em dois dias para ir e dois dias para voltar. Ficavam em torno de 10 dias no Litoral".
Já Marineia Roldão da Rocha conta que seu bisavô Tibúrcio foi um dos primeiros a chegar na antiga Rua Nova, localidade no pé da serra, interior de Torres (hoje Mampituba), onde tinha uma propriedade rural.
"Ele possuía, também, casa de praia em Torres. Lá por 1940, meu avô, Artur Patrício, ia de carro de boi de Rua Nova a Torres, com seus cinco filhos, com comida e bebida para a viagem. Iam pelo lindo Interior e levavam dias (hoje, 20 minutos). Ao chegar, ele deixava o carro, e seus bois, onde agora é o campo da Ulbra (local do festival do balonismo) e subia a pé até a Rua José Picoral, no centro, onde era a casa do meu bisavô", diz ela.
O engenheiro Mário Capparelli lembra: "Vivi as peripécias das décadas de 1950 e 1960, veraneávamos em Torres (a chuleada era saber como estava a praia, quando chegássemos em Tramandaí/Imbé), atravessávamos os cômoros e esteiras e seguíamos, se possível, praia afora, no Ford 1940 de meu pai, enfrentando areia fofa. Santa Terezinha, Capão, Arroio Teixeira, Arroio do Sal e o que Deus mandava... Era a única opção". Capparelli faz menção também ao belo trabalho de Gilberto Rufino, criterioso restaurador de Woodies (autos ou caminhonetas que usam madeira na carroceria), que tem uma oficina/ateliê, em Tijucas/SC.
"Me encantei com o que lá vi", diz o engenheiro, que enviou o site http://www.celeirodocarroantigo.com.br