Hoje, dia 26 de outubro, faz exatos cem anos que o então presidente da República, Venceslau Brás, declarou guerra contra o Império Alemão e seus aliados. O Brasil foi o único país latino-americano que participou da I Guerra Mundial. Quando o conflito começou, em 1914, o Brasil declarou a sua neutralidade e não se envolveu. Porém, em 1917, os alemães passaram a torpedear todo e qualquer navio que entrasse na zona marítima restrita. O Brasil dependia da exportação de café, borracha, cacau e açúcar, e Inglaterra e França, inimigas do Império Alemão, eram os nossos principais clientes. Assim, os navios brasileiros arriscavam-se nas zonas de combate.
No dia 5 de abril de 1917, o vapor brasileiro Paraná, um dos maiores navios da marinha mercante (4.466 toneladas), carregado de café, navegando de acordo com as exigências feitas a países neutros, foi atacado por um submarino alemão a milhas do cabo Barfleur, na França, e três brasileiros morreram. Quando o naufrágio foi noticiado, grande comoção popular tomou nosso país.
Em Porto Alegre, passeatas foram organizadas. Inicialmente pacíficas, as manifestações passaram a atacar estabelecimentos comerciais de alemães ou descendentes – o Hotel Schmidt, a Sociedade Germânia, o clube Turnebund (atual Sogipa) e o jornal Deutsche Zeitung foram invadidos e queimados.
Os jornais da época, ao invés de criticar a violência, a incentivavam, tachando os alemães, turcos e austríacos que viviam aqui de espiões e traidores da pátria. Esta pressão acabou por forçar o presidente Venceslau Brás a declarar guerra à Alemanha. Assim, no início de 1918, o Brasil enviou uma missão médica, que atenderia feridos da frente francesa, e uma missão militar, que se engajaria com os aliados.
Sob o comando da França, os brasileiros atuaram nas trincheiras da Bélgica e até receberam posições de comando no exército francês, como o marechal José Pessoa, que foi designado para o front no comando do pelotão da 2ª Divisão de Cavalaria do exército francês, recebendo várias condecorações. A Marinha foi atuante durante o conflito. A esquadra naval brasileira foi incumbida de patrulhar a costa noroeste africana, sob as ordens do almirantado britânico. Os brasileiros conseguiram abater um temido submarino alemão. Em 11 de novembro de 1918, a I Grande Guerra acabou, deixando um saldo de aproximadamente 20 milhões de mortos, sendo a metade civis.
A guerra espalhou mundialmente a gripe espanhola, pois marinheiros que retornaram aos seus países espalharam o vírus. Foram registradas em torno de 300 mil mortes devido à epidemia apenas no Brasil. A doença foi tão severa, que, em 1919, vitimou até o presidente da República, Rodrigues Alves.
Neste centenário, lembremos dos bravos soldados, médicos, marujos e até uns poucos pilotos que atuaram naquele que é considerado o conflito que mais mudou o mundo na história recente. Lembremos também da dor e da tristeza que a guerra provoca.
Colaboração de Jorge Rogélson da Silva, de Selbach/RS