Nascido na Hungria, em 27 de dezembro de 1907, Miklós Weinréb chegou ao Brasil em 1930. Primeiro, estabeleceu-se em São Paulo e traduziu seu nome para Nicolau Weinreb. Alguns anos depois, veio para Porto Alegre em busca do clima frio europeu. Na capital gaúcha, em março de 1935, abriu sua relojoaria na Rua General Câmara, número 326, a Relojoaria Ladeira.
Exerceu seu ofício com competência, sendo reconhecido no Estado e até no resto do país. Tinha paixão pelos relógios, pelas engrenagens, pelas máquinas e pelo seu ofício. Conquistou a fama de recuperar e, inclusive, construir peças na sua obstinação em não deixar nenhum relógio avariado sem solução. Dizia: “O coração não pode parar”.
Nos 55 anos em que esteve na sua relojoaria, pela localização do seu negócio (na subida da Ladeira, no caminho para o Palácio Piratini, Assembleia Legislativa e Tribunal de Justiça), presenciou fatos históricos e assistiu ao trânsito dos personagens da política gaúcha. Conquistou estimadas amizades, desde a moça que lhe servia o almoço na Praiana, a garçonete que lhe servia o cafezinho no balcão do Rihan, servidores públicos, bancários, funcionários e todo tipo de pessoas. Gostava de atender pessoalmente os clientes da loja. Ouvia com paciência o histórico dos “sintomas” de cada relógio que chegava para conserto. Tinha um carisma especial, por isso era muito procurado. Assim, só tinha o turno da noite para fazer os reparos. Sua dedicação, tanto para resolver os problemas como para cumprir os prazos de entrega do serviço, roubava-lhe horas de sono.
Sua satisfação com os bons resultados era seu maior prêmio. Para auxiliá-lo, tinha no húngaro Tibor Heczler o seu principal relojoeiro. Para pessoas humildes, fazia um preço especial, muitas vezes nem cobrava. Foi relojoeiro de confiança e fez as regulagens e os consertos de carrilhões, relógios-cucos e relógios maiores em muitas residências de famílias porto-alegrenses.
Em 1990, foi homenageado pela Câmara Municipal de Porto Alegre com o título de Cidadão Emérito, projeto do vereador Airto Ferronato. Um reconhecimento da cidade por manter-se por tantos anos prestando seus serviços com extrema dedicação, zelo, ética e amor. Sua origem não era marcada só pelo sotaque carregado, mas pela presença da comunidade húngara em seu estabelecimento, tanto nos dias de semana como nos sábados pela manhã, onde o idioma mais comum era o húngaro.
A existência dessa relojoaria teve uma marca forte: era comum o transeunte subir a Ladeira e conferir a hora no bonito relógio com pêndulo exposto na parede do fundo da loja, mas com plena visibilidade da rua. Relógio daqueles com ponteiros, que deixaram de marcar presença em meados da década de 1990, para a tristeza dos muitos que ainda sentem saudade do relógio da Ladeira.
Colaboração de Denise Weinréb