Coleção Zatti
Especialmente nas décadas de 1960 e 1970, um gaúcho de Caxias do Sul era assíduo frequentador das páginas de jornais e revistas. A razão era sempre a mesma, Arlindo Pedro Zatti possuía, em seu apartamento na Rua Mostardeiro, no bairro Moinhos de Vento, aqui na Capital, mais de 1,5 mil armas de fogo.
Era reconhecido como "o maior colecionador particular de armas do mundo". O comerciante ganhou do pai, aos 13 anos, um revólver Smith & Wesson. O presente fascinou de tal forma o garoto, que ele tomou um amor pelas armas que nunca mais o abandonou. Ele próprio tratava de fazer a manutenção, recuperação ou limpeza de cada peça, numa oficina montada para isso, em sua residência. Numa das edições da revista Aconteceu, da Rio Gráfica e Editora Ltda, em 1963, uma reportagem de Acyr Méra, com fotos de Jorge Peter, o identifica como o Rei das Armas e revela que, nessa época, ele tinha "800 revólveres e 200 carabinas, todas em perfeito estado e prontas para atirar". Zatti também caçava, mas gostava mesmo era de cuidar da sua coleção. "Elas (as armas) estão para mim como a minha própria família", segundo suas palavras. Da arcaica pederneira à mais moderna metralhadora, havia de tudo (criteriosamente catalogado e legendado) pendurado nas paredes do local onde vivia. Mantinha o interesse e sempre incorporava mais um exemplar "raro" ao enorme acervo.
O jornal Correio da Manhã, num dia de 1974, noticiou que Zatti, orgulhosamente, teria rejeitado US$ 500 mil por sua coleção, oferta feita pelo milionário norte-americano Nelson Rockefeller. Muitas outras tentativas de compra devem ter sido feitas.
O Museu de Armas da Polícia Civil do Distrito Federal, instituição cultural pública, pertencente à Polícia Civil do DF, iniciou as suas atividades na década de 1980, quando a transferência de 253 armas do Tribunal de Justiça propiciou o início da sua coleção. Em 1991, a importância do acervo aumentou consideravelmente, incorporando a coleção de Arlindo Pedro Zatti, com 2,5 mil peças, informa a Wikipédia. Zatti morreu em 1997, aos 90 anos. Nestes tempos de Estatuto do Desarmamento, lei federal que entrou em vigor em 2003, e que "dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição (...)", imagino que dificilmente Zatti conseguiria manter sua coleção particular. Por outro lado, ele estaria livre de uma preocupação que o atormentou ao longo de toda a sua vida: o maior temor de Arlindo Pedro Zatti era ser vítima de ladrões ou assaltantes que pudessem roubar suas armas.
*Colaboração de Cláudio Paglioli