O Hospital São Paulo, de Lagoa Vermelha, surgiu de um movimento iniciado em 1937 e que culminou, seis anos depois, com sua inauguração. Foram muitas as dificuldades, mas a união da comunidade lagoense levou àquela grande conquista.
Em 25 de julho daquele ano, o prefeito, Carlos Aguirre, presidiu uma comissão de “elementos representativos das diversas classes sociais da vila e arredores” com o fim de montar “um hospital de acordo com os mais modernos requisitos teóricos e científicos”, que se chamaria Hospital São Paulo S.A. Foi eleita uma diretoria provisória e distribuídas fotos da planta do prédio que se desejava construir.
Dois anos depois, elegeu-se a primeira diretoria, ocupando a presidência Demétrio Dias de Moraes. Buscaram-se a imediata compra de um terreno e a construção do prédio, escolhendo-se João Azevedo Ramos, construtor do 3º Batalhão Rodoviário, para examinar a planta do hospital e dar um parecer.
Em agosto de 1940, o projeto foi abandonado por prever um prédio grande demais. Em vez de uma sociedade anônima, surgiu, então, a Sociedade Beneficente Hospital São Paulo. Ela seria mantida por sócios, com pagamento de joia e mensalidades, e em contrapartida haveria desconto de 20% em todos os serviços do hospital.
A prefeitura foi autorizada a doar o terreno onde seria construído o prédio. Em 24 novembro de 1940, foi lançada a pedra fundamental e, em janeiro de 1942, um grande número de lagoenses aderiu, tornando-se sócios do hospital.
No mês seguinte, o projeto, encomendado um ano e meio antes, foi aprovado e decidiu-se começar as obras assim que as autoridades sanitárias autorizassem. Em maio, o presidente determinou a demarcação do terreno e o início das obras. A construção estava em pleno andamento quando um violento vendaval destruiu tudo. Decidiu-se, então, alugar um prédio para instalar o hospital. Resolveu-se, também, arrendar o cinema local para obter recursos destinados às obras.
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Em 11 de maio de 1943, foi eleito um novo presidente, Heliodoro (“Athos”) Moraes Branco, que viria a exercer três mandatos sucessivos. Ele encomendou novo equipamento para o cinema, mas, quando esse chegou, o hospital não tinha recursos para pagá-lo. Num gesto de desprendimento, os sócios Heliodoro Moraes Branco, Octacílio Mello, Octacílio Motta e Nívio Castellano compraram o cinema e o deixaram à disposição da direção do Hospital São Paulo e ainda ficaram como fiadores perante o fornecedor.
A prefeitura, por sua vez, abriu mão da cobrança de energia elétrica e impostos do cinema. Nesse período, o doutor Danilo Luiz Davi foi contratado como diretor do hospital. Em 26 de setembro de 1943, após seis anos de lutas, foi finalmente inaugurado, com celebração de missa em ação de graças. Dois meses depois, a senhora Dileta Cunha propôs arrendar o hospital por três anos, o que foi aceito a partir de janeiro de 1944.
Em março de 1947, a Sociedade Literária São Boaventura, proprietária do prédio onde o hospital funcionava, dispôs-se a construir, no local, um hospital-modelo. Para isso, pediu a doação dos seus móveis e utensílios.
A doação foi aprovada e devolveu-se à prefeitura o terreno que nunca fora definitivamente usado. Assim, a Sociedade Beneficente Hospital São Paulo dissolveu-se. Vários sócios venderam suas cotas, mas pelo menos oito deles, entre os quais o presidente Heliodoro Branco, entregaram-nas como doação. O novo Hospital São Paulo foi então construído, sendo inaugurado em 5 de dezembro de 1955.
Passados 62 anos, o Hospital São Paulo, o único de Lagoa Vermelha, vive hoje uma situação muito difícil, com frequente risco de encerrar suas atividades.
Não merece.
Colaboração de Pércio M. Branco