Provavelmente seja do conhecimento de poucos, mas Porto Alegre teve a grata honra de servir como anfitriã para um "match" da dupla Fla-Flu. Isso ocorreu no domingo de 5 de junho de 1949, e era a quinta vez que o mais famoso clássico do país se realizava fora do Rio de Janeiro. Portanto, estamos a 68 anos desse inédito acontecimento. Imaginem a repercussão! Porto Alegre ainda tinha ares provincianos e a população nem chegava aos 400 mil habitantes. Hospedar os grandões da então capital da República alcançava um significado absolutamente incomum.
Um sonho incomparável. Rubro-negros e tricolores ostentavam o exuberante charme da elite futebolística. Quem não gostaria de assistir a um confronto entre eles? O palco escolhido foi o Estádio da Montanha, do Cruzeiro, também conhecido como Colina Melancólica (NR: local onde, hoje, está o Cemitério Ecumênico João XXIII), por sua capacidade de aglutinar o maior público.
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Desde cedo, a lotação esgotou. Enquanto a multidão se acotovelava, espremida, muita gente ficou do lado de fora, vendo os portões se fecharem. Para arbitrar o clássico, nada menos do que o maior apitador do Brasil – Mário Vianna. E, para variar, uma fria ventania açoitava a cidade. Nada, porém, ofuscava as expectativas. Tanto, que o governador do Estado, Walter Jobim, e sua comitiva compareceram nas tribunas.
Personagens exponenciais no Fluminense: o então jovem goleiro Carlos Castilho, o notável artilheiro Orlando Pingo de Ouro e o fabuloso Didi, revelado pelo Madureira.
No Rubro-Negro, o destaque era o veterano Jair Rosa Pinto, o Jajá da Barra Mansa, reconhecido pelo chute mais potente do futebol brasileiro e dono absoluto da camisa 10 da Seleção por quase uma década, o supremo craque. Jair seria o meia de ligação no Mundial de 1950, e Didi o do bicampeonato de 1958-1962.
Ao lado de Jair, estreava, na zaga central, o gaúcho Juvenal, que seria o titular na Seleção da Copa. Curiosamente, Luizinho e Bodinho compunham a ala direita que iria se consagrar no Inter por seis temporadas. E uma porção de outros craques.
O Fluminense predominou, mas o Fla-Flu de Porto Alegre terminou empatado. Rodrigues, de fora da área, fez o gol dos tricolores aos 26 do primeiro período. Na etapa complementar, logo aos cinco, Jair cobrou pênalti inexistente e empatou. Seis minutos depois, altercando-se com o árbitro, acabou expulso, originando-se um grande tumulto. O Fluminense teve um gol de Orlando injustamente anulado. Ficou no 1 a 1. O público aplaudiu sem se empolgar.
Pelo cartaz dos contendores, esperava-se mais desse Fla-Flu histórico.
Colaboração de Francisco Michielin