A glória de um "desfile em carro aberto", coberto por aquela "chuva de papel picado", através das ruas do centro da cidade, proporcionava imagens lindas que parecem ter desaparecido dos costumes contemporâneos. Talvez não seja justo atribuir o desuso dessa modalidade de homenagem à falta de personagens que mereçam a distinção. Acabou desaparecendo, mas que era bonito, era. Para que isso acontecesse, fazia-se necessário, naturalmente, um carro à altura. Em 1931, o então governador, Flores da Cunha, comprou, de segunda mão, um majestoso automóvel conversível Stutz, fabricado nos Estados Unidos em 1928.
Foi nele que durante muito tempo foram transportadas as autoridades e os homenageados oficiais. Estiveram a bordo do velho Stutz figurões eleitos, como João Goulart, e autocratas, como Castelo Branco, além de Getúlio Vargas, misses, heróis de guerra, como Mark Clark, e presidentes estrangeiros, como o português Craveiro Lopes. Mais recentemente, o carro (reformado) chegou a ser usado por governadores, como Yeda Crusius, nos desfiles da Semana Farroupilha.
Uma reportagem de Teresa Rocha para a Revista do Globo de novembro de 1958 revela que o primeiro chofer deste solene carro oficial foi Ernesto Kilian. Entrevistado aos 71 anos, aposentado, de bombachas e morando numa chácara fora da cidade, o motorista revelou que era boleeiro e havia começado a trabalhar no Palácio ainda na época das carruagens.
Pitando um palheiro, ele disse que iniciou a vida profissional como embarcadiço (marinheiro), mas: "Falaram tanto de Porto Alegre, que um dia resolvi conhecer a cidade e acabei ficando... Fui trabalhar no Palácio com o doutor Borges de Medeiros e apareceram os primeiros carros. Tornei-me então chofer do carro oficial e foi assim que, mais tarde, dirigi o velho Stutz até 1944, quando me aposentei".