É claro que uma pessoa como eu, aos 65 anos de idade, tem um acervo de lembranças devidamente catalogado e arquivado na memória, muito maior do que se pode esperar de um jovem. Algumas manifestações de comportamento e de apreço pelo "vintage", tão em moda nos dias de hoje, soam para mim como fatos ocorridos, senão ontem, talvez, no máximo, anteontem. Certamente estou exagerando, mas, na verdade, as coisas que julgo representarem o passado são coisas que têm por volta de meio século, ou mais.
Vale para objetos, para a moda, para os filmes e atores, para a música, para os carros e outros meios de transporte, as maneiras de se comunicar, enfim, tudo aquilo que já não habita (a não ser como curiosidade) o mundo presente. Isso não quer dizer que não veja com muita ternura e consideração os suspiros dos mais jovens por coisas de um passado relativamente recente.
Um disco de vinil, uma bicicleta, uma fita cassete, um brinquedo dos anos 1980, um celular "jurássico" (de 15 anos atrás), uma câmera fotográfica que (ainda) usava filme... Sei que, no futuro, e ele parece se aproximar cada vez mais rápido, todos sentirão alguma coisa parecida com o que sinto hoje. Exemplo: como poderia existir vida antes de aparecer o plástico?
Estranho, mas, na minha infância, a chamada "matéria plástica" era matéria-prima que começava a ser utilizada para fazer quase tudo, como é agora em suas múltiplas fórmulas. Como se vê nas fotos desta página, antes do açucareiro de plástico, que se encontra em qualquer boteco, já existia "o açucareiro": de vidro, de porcelana, de alumínio, louçado, de prata...
Há muito tempo, eu buscava reencontrar aquele açucareiro das visitas, com meu pai, ao café que havia no saguão do antigo aeroporto Salgado Filho. Sobre o, para mim inatingível, balcão, muitos deles. Nas altas paredes de vidro, do teto ao chão, persianas. E, à esquerda, aquele incrível painel (do Aldo Locatelli) com Santos Dumont vestindo macacão de mecânico aviador. Se não cultivasse certa nostalgia, não deveria editar este Almanaque. Aqui em casa, muitas das coisas que guardo remetem ao passado.
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Graças ao nostálgico amigo Guilherme Ely, nesta semana, agreguei mais uma. Um velho açucareiro de vidro canelado com tampa metálica e borracha na base. Daqueles "da época do Café Ambergen".
Obrigado, Guilherme.