Não é incomum, agora, o pessoal mais velho ficar reclamando ou pelo menos estranhando o fascínio dos jovens pelo telefone celular(ou pelas redes sociais acessadas através dele) e o longo tempo que eles dedicam a esse tipo de comunicação não presencial. É provável que muitos desses idosos estejam mais esquecendo do que se lembrando... Na verdade, parece que sempre foi assim, ou melhor, é assim, no mínimo,há algumas gerações. É certo que, hoje, o grau de sofisticação da conexão é bem diferente do que já foi um dia. Mas, na essência, a necessidade de estar plugado é a mesma de sempre.
Na década de 1950, aqui em Porto Alegre,possuir um telefone era para alguns poucos e mais abastados. Na minha família, por exemplo,só quem tinha telefone era o meu avô Natale e,imagino, principalmente por razões comerciais,pois era dono do Açougue Duque de Caxias, no Alto da Bronze. Não me lembro direito, mas, se não estiver enganado, havia uma chave que transferia a linha para a casa dele, ao lado, quando o açougue estava fechado.
Uma reportagem que encontrei, publicada na Revista do Globo em setembro de 1958, nos dá uma boa ideia da relação dos "brotos", como se dizia então, com o telefone. Sob o título de "Telefonite aguda", como se fosse uma doença,a matéria simula (ou reproduz) o diálogo entredois jovens namorados, que não faziam parte da"juventude transviada" – como faz questão de esclarecer o texto –, e discorre sobre os diversos assuntos tratados na interminável ligação: colégio,cinema, baile, esporte, falta de grana etc. No final, a menina diz: "Preciso parar de falar agora porque a mãe já está reclamando o telefone...".
Atualmente, com muito mais recursos e praticamente sem limites, é natural ouvir frases como a de uma sobrinha minha angustiada com a ausência de contato de um presumível namoradinho: "Putz! Faz mais de sete horas que ele não entra (na rede)...". No final da tal reportagem, após o encerramento da chamada telefônica com um "Tchau!", uma nota da redação esclarece: posou para essa reportagem a senhorita Suzana Menna Barreto Mattos, que é a Moça da Capa desta edição.