Getúlio Vargas foi, sem dúvida, o mais popular presidente do Brasil da primeira metade do século 20 e também um homem de acentuada perspicácia, que não deixava escapar oportunidade para externar sua verve irônica e bem-humorada. Aqui, alguns exemplos.
Sem bairrismo
Quando foi criticado por nomear, em 1937, um baiano, o general Daltro Filho, interventor do Rio Grande do Sul, respondeu: "Mas, senhores, se um gaúcho pode governar o Brasil, por que não poderá um brasileiro governar os gaúchos?"
Sem limites
Certa vez, perguntaram a Getúlio que juízo ele fazia dos homens que participavam do seu governo. Resposta: "A metade deles não é capaz de nada; e a outra metade é capaz... de tudo".
Sem rancor
Em sua fazenda em Itu, nas comemorações da vitória de 1950, quando um repórter perguntou: "E agora que está eleito presidente, que vão fazer os generais que o depuseram?"
Getúlio, com toda a tranquilidade: "O que lhes cumpre fazer: continências".
Sem retoques
Assim que soube do sério acidente de automóvel sofrido pelo seu ministro da Agricultura, Apolônio Sales, na estrada Rio-Petrópolis, Getúlio foi visitá-lo no hospital. Já na chegada, o médico responsável o tranquilizou, dizendo que uma cirurgia plástica iria reconstituir com perfeição a face do ministro (um homem reconhecidamente destituído de beleza).
O presidente ainda insistiu: "E ele ficará exatamente como era antes?". "Perfeitamente igual, respondeu o médico.
E Getúlio, voltando-se para o ajudante de ordens que o acompanhava: "Então, quer dizer que para nada serviu o desastre?".
Sem moleza
Durante um encontro informal no Rio, o embaixador da Argentina Octavio Amadeo, fazendo graça, perguntou a Getúlio: "Presidente, usted, que es tan amable com nosotros y guarda tantos gratos recuerdos de Buenos Ayres, por que no nos regala uno de esos cerritos que decoran el paysage de Rio y hacen falta a la llanura de nuestra Capital?"
Getúlio, sorrindo, respondeu: "Con mucho gusto, embajador; pero el desmonte y lo flete serán por su cuenta".
Fonte: O Feiticeiro de São Borja, de Osvaldo Orico, 1976
*O colunista Ricardo Chaves está em férias