Para comemorar seu centenário, o Grande Hotel Canela lança, hoje à noite, na cidade serrana, o livro Uma história de Canela. A obra leva a assinatura do Canela Instituto de Fotografia e Artes Visuais e reúne nomes como Eduardo Bueno, Leticia Wierzchowski e Paula Taitelbaum escrevendo, Fernando Bueno, na edição de fotografia, Marília Ryff-Moreira Vianna, no design, e Liliana Reid, na edição. Fotógrafos conhecidos foram convidados para colaborar e ajudar a contar a história do único hotel do Brasil que, após um século, ainda é administrado pela família de seu fundador, João Corrêa Ferreira da Silva, o homem que construiu as estradas e ferrovias que proporcionaram o desenvolvimento e o início do turismo na serra gaúcha. João Corrêa (1863-1928) nasceu em Santa Maria e muito jovem foi morar no Vale do Sinos.
Em 1882, aos 19 anos e já casado com Maria Luiza Frederica Burmeister (de origem germânica), o gaúcho de origem lusa teria feito uma viagem a cavalo, rumo à Serra, onde se deslumbrou com um lugar chamado Campestre Canella, que, segundo ele, parecia "uma ilha perdida nos trópicos". Esse recanto relvado era um aprazível pouso no qual, rezava a lenda, os tropeiros descansavam, desde um século antes, quando a árvore que denominava o local já estava ali, espalhando a mesma sombra.
O tempo passou e João Corrêa tornou-se um empreendedor de sucesso, especialmente depois de se associar ao irmão Agnelo na firma Irmãos Corrêa, responsável por obras como a construção do ramal ferroviário Santa Maria-Cruz Alta. Em sua mente, o Campestre Canella manteve-se como um sonho e um objetivo. Por volta de 1903, ele comprou significativa área de terras naquela região. Em 1910, mudou-se com a família para lá. Em 1913, sua bela residência ficou pronta. As primeiras mudas de hortênsia vindas para a cidade teriam sido plantadas ali, no jardim, por sua esposa, Maria Luiza.
Em 1916, o número de visitantes e hóspedes em sua casa era tão grande, que, por sugestão da mulher, João Corrêa resolveu abrir um hotel, que veio a ser o embrião do atual Grande Hotel Canela, que continua, cem anos depois, sendo administrado por descendentes do pioneiro. João Corrêa, reconhecido como fundador de Canela, foi o responsável também pela construção da ferrovia Taquara-Canela. O trem chegou à cidade em 1924 e operou até 1963. O incansável João Corrêa morreu em 1928, no exercício da intendência de São Leopoldo.
Hoje, em um parque natural com 85 mil metros quadrados de área verde, o Grande Hotel Canela possui 34 chalés e 92 apartamentos, oferecendo um total de 276 leitos, equipados com ar-condicionado e calefação, com capacidade para receber 680 pessoas em suas cinco salas de eventos. Em umas das antigas cabanas, está instalado o museu, que reproduz em seus cômodos o ambiente antigo com móveis e pertences originais utilizados na época de sua inauguração. O quarto, com a cama de ferro e o berço, a sala de jantar, com utensílios de copa e cozinha, o banheiro, antigos objetos usados no dia a dia e documentos testemunham a história centenária do Grande Hotel Canela.