Os museus ferroviários no Brasil nascem, também, impulsionados pelo medo do desaparecimento do patrimônio material e do dano definitivo à memória coletiva. Esse patrimônio, que se acumulava nos almoxarifados e pátios desde que o governo brasileiro decidiu investir no reaparelhamento do sistema, substituindo as máquinas a vapor pelas de tração diesel-elétricas, mais modernas e potentes, corria (corre?) sérios riscos.
Sem levar em conta o valor histórico e os mecanismos de proteção, muitos itens desse acervo industrial ferroviário foram derretidos para a reutilização da matéria-prima, assim como foram vendidos ou simplesmente abandonados. Entre as primeiras iniciativas no Brasil, o Museu do Trem de São Leopoldo foi inaugurado em 26 de novembro de 1976, fruto de uma parceria entre Museu Histórico Visconde de São Leopoldo (MHVSL), prefeitura municipal e RFFSA (SR-6), em um dia ensolarado, conforme registro do professor Telmo Lauro Muller no livro de abertura.
Este não é um museu isolado, tampouco tem uma história linear. Foi remodelado pelo Programa de Preservação do Patrimônio Histórico (Preserve) do Ministério dos Transportes, integrando-se a um grande projeto nacional que o redenominou como Centro de Preservação da História Ferroviária do Estado (CPHFRS), com reinauguração em 9 de março de 1985.
Por sua vez, o Plano Nacional de Desestatização e a liquidação da RFFSA, no final da década de 1990, desencadearam novas dificuldades, mas o Museu do Trem se recuperou com a força da comunidade e do poder público, juntamente com ferroviários remanescentes. Outro momento importante foi quando se deslocou o projeto de construção da estação São Leopoldo (Trensurb), a fim de preservar a permanência do Museu do Trem no local original. Ocorreu, então, a terceira inauguração, sob coordenação da Fundação Cultural, no dia 18 de maio de 1991. Em meio a controversa situação, o Ministério dos Transportes, através da Trensurb, investe nos restauros e na cobertura do acervo.
Em 2005, foi criada a Secretaria Municipal de Cultura, que passou a geri-lo. Em 2009, foi lançado o Programa de Ação Educativa, com investimento na comunicação museológica e na recepção ao público. Em 2011, criaram-se cargos públicos para historiador e arquivista. Passo importante e que garante o almejado. Vida longa ao Museu do Trem de São Leopoldo!
Colaborou Alice Bemvenuti, mestre em Museologia (USP) e ex-diretora do Museu do Trem de São Leopoldo