A ocupação de leitos de enfermaria – aqueles de baixa ou média complexidade – por covid-19 no Rio Grande do Sul atingiu, nesta segunda-feira (12), o menor número em 45 dias. São 2.806 pacientes em leitos do tipo hoje, contra 2.836 em 26 de fevereiro.
As internações em leitos clínicos têm uma queda acentuada em comparação com o pico, em 12 de março. Eram mais de 5,4 mil pacientes em instalações do tipo. A redução é de 48%.
Nenhuma das 21 regiões divididas pelo modelo de distanciamento controlado do governo do Estado apresenta percentual acima de 80% de ocupação em leitos clínicos.
O epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry afirma que “deve ser saudada” a redução de leitos clínicos em comparação ao pico da pandemia. No entanto, afirma que a taxa de ocupação é mantida alta, o que é necessário atenção.
Para ele, a redução é reflexo das medidas de restrição impostas pelo governo do Estado. Ele avalia, porém, que as medidas foram flexibilizadas “cedo demais”.
— Sem dúvida alguma, nós podemos atribuir essa queda às medidas de restrição. A prova de que surtiu efeito essa queda que acabamos de saudar. Mas convém lembrar que, infelizmente, essas medidas de restrição foram abolidas muito precocemente. Precisaríamos de um tempo maior para que o sistema pudesse se oxigenar e a redução seguisse a tendência de queda. Com a volta da circulação, não podemos prever o que vai acontecer — diz o especialista, que é também é doutor em epidemiologia.
UTIs ainda preocupam
Enquanto a redução é acentuada em instalações de baixa ou média complexidade, as unidades de terapia intensiva apresentam uma queda lenta. Na tarde desta segunda, são 2.188 pessoas em UTIs. O número é o menor desde 5 de março.
A ocupação geral de leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) é de 87,6%. Já a de hospitais privados é de 100,6%.
Apesar da queda, dez regiões do Estado monitoradas pelo governo seguem com mais de 100% de ocupação em leitos de UTI públicos ou nos leitos privados — Cachoeira do Sul, Canoas, Lajeado, Palmeira das Missões, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, Santo Ângelo e Uruguaiana.
Quando a ocupação passa de 100%, significa que há mais pessoas em atendimento do que o total de leitos oficialmente abertos. Na prática, isso quer dizer que há algum grau de improvisação no atendimento. O nível crítico de ocupação das UTIs é de 90%; acima desse patamar, é acionado o último nível de contingência hospitalar, com remanejamento de leitos e interrupção de atividades.
Ainda para o professor Petry, a queda menor nos leitos de UTI é algo observada devido ao maior tempo de permanência de pacientes com a variante P1.
— Isso faz com que haja um represamento de vagas e tenhamos filas de pessoas esperando por UTI. Isso é um grave problema, porque a pessoa que precisa de UTI necessita de tratamento especializado com urgência. Se ela fica aguardando vaga, faz com que seu quadro piore. Quando ela chega na UTI, já chega em um quadro mais grave e que demanda mais tempo de internação.
Por fim, o médico explica que a ocupação em leitos privados acima de 100% revela que os pacientes estão sendo atendidos em algum grau de improvisação.