Esta segunda-feira (5) é o sexto dia consecutivo em que a ocupação geral das unidades de terapia intensiva (UTIs) de Porto Alegre é inferior a 110%. Embora ainda esteja em patamar de superlotação, o índice tem apresentado sinais de queda desde a última semana, e hoje chegou a 104,3%. Na segunda-feira passada (29), a ocupação era de 109%.
De acordo com a chefe do Serviço de Medicina Intensiva Adulto do Hospital Moinhos de Vento, Roselaine Pinheiro de Oliveira, há de fato uma diminuição no número de internações em unidades básicas de saúde e em emergências hospitalares, mas a queda na ocupação geral das UTIs também se deve ao aumento das taxas de mortalidade, e, por isso, não pode ser vista como um sinal de alívio.
— Para sobreviver, o paciente que chega na UTI não vai liberar o leito tão cedo, as altas são muito difíceis. Em média, ficam de 20 a 30 dias em ventilação mecânica. Se eles ficam menos tempo, em geral significa que eles faleceram. Isso vem acontecendo, também, pelo fato de que existem muitos locais em que os pacientes estão sendo cuidados em UTIs improvisadas — explica Roselaine.
Olhando para o total de 1.039 doentes que estão recebendo cuidados intensivos em Porto Alegre, 78% têm diagnóstico confirmado ou suspeito para a covid-19. Segundo informava o painel de monitoramento da pandemia mantido pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), em consulta feita por volta das 17h, são 759 casos confirmados e 52 suspeitos nas UTIs.
Para sobreviver, o paciente que chega na UTI não vai liberar o leito tão cedo, as altas são muito difíceis. Em média, ficam de 20 a 30 dias em ventilação mecânica. Se eles ficam menos tempo, em geral significa que eles faleceram
ROSELAINE PINHEIRO DE OLIVEIRA
Chefe do Serviço de Medicina Intensiva Adulto do Hospital Moinhos de Vento
Entre as pessoas que estão aguardando por uma vaga de terapia intensiva, há 135 sendo tratadas em leitos de emergência adaptados e nove em unidades de pronto-atendimento (UPAs). No total, a fila de espera soma 144 pessoas nesta segunda-feira. Para o presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do RS, Wagner Nedel, o cenário "ainda é de guerra":
— Se as UTIs estão com mais de 100%, elas ainda estão sobrecarregadas. Some-se a isso o fato de que, neste ano e ao longo do ano passado, todas elas aumentaram seu número de leitos. No meu entender, saímos do cenário de catástrofe, de 15 dias atrás, para um cenário que é péssimo. Há duas semanas, o paciente ficava cerca de 10 dias na emergência esperando leito de UTI. Hoje, espera de três a quatro dias. Para quem está cuidando deles à beira do leito, é essa a principal mudança.
No meu entender, saímos do cenário de catástrofe, de 15 dias atrás, para um cenário que é péssimo. Há duas semanas, o paciente ficava cerca de 10 dias na emergência esperando leito de UTI. Hoje, espera de três a quatro dias. Para quem está cuidando deles à beira do leito, é essa a principal mudança
WAGNER NEDEL
Presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do RS
De acordo com os especialistas, ainda não é possível projetar se a queda em índices como o da ocupação geral e o da fila de espera continuará a ser observada. Para eles, os números ainda não estão em um patamar confiável e os cuidados para evitar a transmissão do coronavírus precisam continuar a ser respeitados.
— Realmente diminuiu a chegada de pacientes em unidades básicas de saúde, emergências e hospitais, o que reduz a entrada na UTI. Mas estamos longe de uma condição boa porque essas alas continuam lotadas. Agora tivemos a Páscoa e, apesar de todos os avisos, as pessoas tiveram três dias de mais contato com amigos e família, e isso vai se refletir daqui a alguns dias, então, é preciso cuidado. Ainda não temos condição de cogitar, por exemplo, desativar áreas covid para transformá-las em não-covid — afirma Roselaine.