No último domingo (14), as unidades de terapia intensiva (UTI) de Porto Alegre bateram novo recorde de ocupação por coronavírus, quando 831 pacientes com covid-19 estavam internados em 18 hospitais, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. Além disso, o quadro também é de superlotação em emergências — Hospital de Clínicas e Santa Casa informaram o fechamento dessas áreas.
Ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, a coordenadora do Grupo de Trabalho de enfrentamento ao coronavírus do Clínicas, Beatriz Schaan, e o diretor-médico da Santa Casa, Antonio Kalil, descreveram a situação vivenciada nas instituições.
O Clínicas comunicou, na noite de domingo, o fechamento da emergência dedicada a casos da covid-19 para chegada espontânea de pacientes — só são atendimentos casos encaminhados pelo Samu ou Serviço de Gerenciamento de Internações. No mesmo dia, a Santa Casa de Misericórdia anunciou que fechou duas unidades que chegaram a quase 300% de superlotação.
O cenário é definido pelos coordenadores como "situação crítica". Veja os principais pontos das entrevistas.
Situação da emergência
"A situação é muito crítica, temos uma situação de lotação em todas as áreas que atendemos pacientes com covid. Ontem (domingo) fizemos uma reunião por uma demanda da emergência. Nossa emergência estava com 88 pacientes, sendo 48 críticos, apenas de covid, e 24 em ventilação mecânica. Tivemos que fechar a emergência pelo menos para a demanda espontânea, o paciente que chega por conta própria. Isso permitiu que, no decorrer da noite, alguns leitos fossem liberados. Então pudemos acordar hoje (segunda-feira) com a emergência com 74 pacientes. É um número grande, mas mais adequado, com 20 em ventilação mecânica", relatou Beatriz Schaan.
"A situação é realmente crítica. Estamos com a emergência com uma capacidade de atendimento de pacientes muito acima do que a gente poderia. Temos 13 pacientes entubados na emergência. E além desses, temos 23 pacientes nas unidades de internação que necessitam ir para a UTI. Pacientes abaixo de 45 anos, temos quatro pacientes que a gente vai precisar levar para UTI num espaço breve. A situação é dramática, como todo mundo tem visto. A gente faz de tudo para aumentar leitos", disse Antonio Kalil.
Estrutura no limite
"Não tem sistema que funcione com o volume de pacientes que a gente vem recebendo nos últimos tempos, tanto que hoje (segunda-feira) temos lotação de 74 apenas na emergência. O HCPA, que tem aproximadamente 800 leitos, cirúrgicos, clínicos etc, temos 300 pacientes com covid. Uma única doença ocupando 300 espaços dentro do hospital. Não tem como uma estrutura se manter a longo prazo porque tiramos espaço de outros pacientes", descreveu Beatriz.
"Temos 124 leitos de UTI. Para se ter uma ideia, em agosto do ano passado, quando tivemos o máximo, tínhamos 90. Mas a gente viu que a situação está cada vez mais dramática e pressiona muito a nossa emergência. Estamos agora fazendo mais um esforço, e vamos conseguir no nosso bloco de recuperação abrir mais 20 leitos de UTI, chegando a 144 na Santa Casa, mais os 20 que a gente tem em Gravataí. Mas sabemos que não é suficiente. A gente nota um aumento de pacientes que chegam com necessidade de UTI cada vez mais intenso", afirmou Kalil.
Cuidados
"Se isolem, procurem não transmitir a doença para os outros. É importante deixar claro: a vacina previne os casos graves. Ela não previne a pessoa de contrair a covid em casos leves a moderados. A vacina não libera as pessoas de usar máscara, de ter contato com outras pessoas. Eu posso estar vacinada e contaminar uma pessoa que não está vacinada", alertou Beatriz Schaan.
"Impressionante que a gente tenha que continuar com a mesma receita desde o início: evitar aglomerações, manter distância de pelo menos 1,5m, usar máscara, álcool gel. Agora mesmo recebi a ligação de uma médica chorando porque a mãe, que tem 70 e poucos anos, não consegue um leito de UTI. Parece que as pessoas têm que ver alguém da família, algum amigo, em uma situação dramática para reverter essa ideia e dar importância. Como não conseguimos vacinar, a única vacina é seguir todos esses critérios que a gente repete à exaustão. O que observamos, o pessoal do laboratório, é um número crescente de pessoas com PCR positivo. Provavelmente, ainda vamos ter uma pressão sobre o nosso sistema de saúde durante esta semana. Agora vem a Páscoa, as pessoas podem querer viajar", ressaltou Antonio Kalil.