Os dados mais recentes de monitoramento do coronavírus mantêm o Rio Grande do Sul em uma incômoda posição como um dos epicentros globais da pandemia de covid-19.
A média de novos casos contabilizados nos sete dias anteriores a esta segunda-feira (22) coloca os gaúchos na primeira posição do ranking de crescimento da doença no Brasil — um dos países mais afetados pelo vírus na atualidade. Além disso, o Estado fica na segunda posição nacional pelo número acumulado de óbitos por 100 mil habitantes nesse mesmo período, atrás apenas de Rondônia.
— O Rio Grande do Sul está, hoje, entre os piores lugares do mundo em relação à gravidade do coronavírus. É um dos Estados mais atingidos dentro do Brasil, que por sua vez é um dos países mais afetados neste momento — avalia o infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki.
O número de diagnósticos confirmados de covid-19 cresceu em uma média de 0,9% ao dia contra um patamar nacional de 0,63%, conforme o boletim divulgado pelo Comitê de Dados do Piratini. O comitê lembra que as cifras estão apresentadas “por data de registro, sujeitas a flutuações e a subnotificação em alguns Estados”.
Zavascki fez um cálculo envolvendo os óbitos, que são um indicador mais preciso, para confirmar a difícil situação do Estado no momento em que o governo autorizou a volta da cogestão no sistema de distanciamento controlado e a reabertura de parte da economia sob regras sanitárias. Se a taxa de vítimas registrada nesta semana no Rio Grande do Sul fosse aplicada a todo o Brasil, a média diária de mortes por coronavírus superaria 5 mil vítimas em todo o território nacional. Isso é mais do que o dobro do que o país vem contabilizando.
Rio Grande do Sul está, hoje, entre os piores lugares do mundo em relação à gravidade do coronavírus
ALEXANDRE ZAVASCKI
Infectologista e professor da UFRGS
Nos sete dias anteriores a esta segunda, o somatório de mortes ficou em 16,8 por por 100 mil habitantes conforme o boletim de monitoramento. Ou seja, para cada grupo de 100 mil pessoas, o equivalente à população de uma cidade como Guaíba, 17 morreram em razão do coronavírus neste prazo. O número nacional foi calculado em 7,5. O boletim seleciona ainda alguns países para comparar o avanço do coronavírus. A média gaúcha de mortes ao longo da semana foi, por exemplo, oito vezes mais alta do que nos Estados Unidos e 3,6 vezes superior à cifra italiana.
Zavascki avalia que a nova mudança nas regras do distanciamento controlado pode comprometer a expectativa de alguma estabilização da pandemia no Estado, dando lugar a um avanço ainda mais acelerado. Ao defender a volta da cogestão, o governador Eduardo Leite sustentou na semana passada que a taxa de contágio pelo vírus baixou de 2,35 para 1,41 graças à adoção da bandeira preta e que a retomada parcial das atividades não é um “libera geral”, mas um modelo com “restrições severas” e fiscalização.
Ainda assim, até as 15h desta segunda, a taxa geral de ocupação em unidades de terapia intensiva (UTIs) de hospitais públicos e privados seguia acima da capacidade prevista no Rio grande do Sul, com uma média de 107% de leitos em uso — o que envolve a utilização de espaços em caráter emergencial.
— O quadro gaúcho segue preocupante, porque ainda observamos um índice de lotação das UTIs acima da capacidade, com profissionais da saúde sobrecarregados e falta de condição de absorver uma quantidade maior de pacientes. Outros Estados estão adotando medidas mais severas nesse momento — analisa o infectologista do Hospital de Clínicas e professor da UFRGS Luciano Goldani.