Na véspera da retomada da sistema de cogestão da pandemia, o Rio Grande do Sul tem uma ocupação de 107,9% dos leitos públicos e privados de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) neste domingo (21), o que inclui pacientes com coronavírus e outras doenças.
Ao fim do dia, 2.613 pacientes estavam internados em leitos públicos ou privados em estado gravíssimo de coronavírus – menos do que no sábado, quando havia 2.628, um dos seguidos recordes atingidos em março. Neste domingo, havia ainda outros 148 internados em UTIs com suspeita para a covid-19.
São, portanto, 2.761 pacientes em estado gravíssimo relacionados à pandemia, contra 756 indivíduos hospitalizados em UTIs por outras causas. Na prática, quase 80% as UTIs estão em uso por pacientes relacionados à pandemia, cenário verificado também em Porto Alegre.
A região com o pior lotação é a dos Vales, onde quase 140% de todos os leitos de UTI estavam ocupados no sábado (20). Em seguida, as regiões Metropolitana e da Serra causam mais preocupação, com lotação próxima dos 110%. Na outra ponta, a maior folga é na Região Sul, com lotação de 85,8%.
Quando um hospital opera com lotação acima dos 100% é porque há pacientes instalados em áreas fora de UTI, como na emergência, em leitos clínicos ou no bloco cirúrgico.
Há um grande grau de improvisação, com médicos não especializados deslocados para tratar pacientes, em regime de grande sobrecarga de trabalho, o que eleva a chance de mortalidade para um paciente.
Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que 80% dos intubados de fevereiro a dezembro de 2020 por covid-19 no Brasil morreram. A média mundial é de 50%.
O Rio Grande do Sul se tornou, nesta semana, o Estado com a maior taxa de mortes por coronavírus a cada 100 mil habitantes: 16,95. Em segundo lugar, está Rondônia (16,66) e, em terceiro, Mato Grosso (12,34). As estatísticas são do Comitê de Dados do Palácio Piratini.
Distanciamento social na base de 40%
Com a bandeira preta, o distanciamento social cresceu, mas ainda ficou em patamares aquém do necessário para uma melhora efetiva no controle da covid-19. Durante o período, o índice de pessoas sem sair de casa no Rio Grande do Sul subiu, mas ficou, no geral, abaixo dos 40%, segundo dados da consultoria InLoco. O ideal seria entre 60% e 70%, de acordo com especialistas.
Ainda assim, o maior distanciamento resultou na queda pela metade das novas infecções por coronavírus no Estado. O número de internados em leitos clínicos e de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) parou de subir, mas analistas afirmam que isso ocorre porque hospitais estão sem vagas livres. As mortes, o último indicador a mudar, seguem batendo recordes.
A melhora no cenário hospitalar foi a justificativa apresentada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) para permitir a retomada da cogestão, além da necessidade de parcela dos gaúchos de trabalhar, dada a ausência de auxílio-financeiro.
No entanto, analistas e integrantes do Comitê Científico que aconselha o governo do Estado afirmam que a melhora é discreta e não suficiente para permitir o aumento da circulação de pessoas.
Médicos e epidemiologistas argumentam que a lógica de um vírus respiratório é de que, quanto mais pessoas interagem, maior é a transmissão da doença, o que exige a necessidade de as pessoas ficarem em casas.
De outro lado, lojistas, empresários e comerciantes afirmam que o setor segue os protocolos sanitários e não é a causa da piora da pandemia.