Em entrevista ao programa Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha, na tarde desta quinta-feira (25), o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, esclareceu dúvidas de representantes de entidades da Capital sobre as medidas definidas pela prefeitura para conter o avanço da pandemia de coronavírus. Ouvintes também puderam participar do bate-papo enviando perguntas em áudio ao WhatsApp da rádio. No total, foram recebidas cerca de mil participações.
Confira, abaixo, as respostas do prefeito.
Perguntas de representantes de entidades:
João Ezequiel, diretor-geral do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa): Em vez de defender a flexibilização, não seria mais correto a prefeitura de Porto Alegre promover o lockdown, lutar para adquirir vacinas e apoiar a decisão da Justiça de suspensão da volta às aulas presenciais?
"Decisão judicial a gente cumpre. A liminar está tomada e será cumprida. Tomamos algumas medidas restritivas já, a partir de sexta-feira (26), por exemplo, para não andar passageiros em pé nos ônibus, os espaços culturais não poderão mais ser abertos, home office para toda a prefeitura, com exceção dos serviços essenciais, e vamos em busca de novos leitos. Tenho a convicção de que o trabalho econômico da cidade, em seus diversos setores, de forma organizada, com distanciamento social, precisa ser preservado. Por isso, nós estamos tomando todas as atitudes restritivas para que se mantenha as atividades econômicas."
Henry Chmelnitsky, presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre (Sindha): Com a cogestão, Porto Alegre passou a ter bandeira vermelha dentro das condições de operar até 20h, sendo que das 20h em diante até as 5h da manhã não é permitido. Sessenta por cento da nossa categoria foi duramente afetada, como o senhor pretende contornar essa questão?
"Acho que é importante dizer que a decisão de suspender as atividades econômicas a partir das 20h foi uma decisão do governador e que vale para todo o Rio Grande do Sul, não foi uma decisão da prefeitura, os comerciantes sabem disso. Eu tenho uma posição muito clara, não só agora, acho que quanto mais tempo abertas as atividades econômicas, menos pessoas vai ter lá. Tanto é que eu defendi a questão dos supermercados, pedi à minha equipe para percorrer a cidade depois do decreto e às 20h estavam todos tumultuados. Agora, a questão dos bares, acho que muito até em função do Litoral, o governador tomou essa decisão para todo o Rio Grande do Sul, mas é importante ratificar que essa decisão de suspender os horários foi uma decisão do decreto estadual do governador, que nós vamos fazer cumprir porque eu sou legalista. A decisão está tomada e nós vamos fazer cumprir através da fiscalização."
Irio Piva, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA): Acompanhamos há dias as aglomerações ocorridas nas praias e em festas clandestinas. O que a prefeitura pode fazer para ampliar ainda mais a fiscalização e inibir, aqui em Porto Alegre, esse tipo de comportamento das pessoas? Existe algum plano de ação para as próximas datas com potencial de neutralizar as aglomerações?
"Nós estamos publicando um decreto nesta quinta-feira (25), que envolve quatro medidas restritivas e duas recomendações, sendo que uma delas é que não se vá para a Orla do Guaíba e para os parques. Se as pessoas continuarem indo para a orla, eu vou fechá-la também. Eu não gosto de governo que fica publicando decreto e achando que vai funcionar, acho que o que tem que funcionar é a cabeça das pessoas. Hoje pela tarde, nas rádios que são mais ouvidas pela juventude, a prefeitura começa uma campanha tentando convencer as pessoas de que o momento é grave, que as UTIs estão lotadas, que a contaminação aumentou, para ver se essas pessoas não vão para os espaços públicos. Não gostaríamos de fazer por decreto o fechamento de parques, de orla, de espaços públicos, mas poderemos chegar lá. Tudo isso nós estamos fazendo para tentar preservar as atividades econômicas, que preserva não só a economia, mas também os empregos, a cidade tem muitos desempregados, muita miséria, muita gente passando fome, muitas dificuldades e, por isso, tudo que pudermos fazer para preservar a questão econômica, nós vamos fazer."
Claudio Oliveira, diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição: O que o senhor pensa e como acha que vai estar Porto Alegre no pós pandemia?
"O mundo não será o mesmo em todos os sentidos, haverá muito mais trabalho em casa, muito mais educação a distância, acho que haverá um fortalecimento do comércio local. Eu sou muito esperançoso de que toda essa dor que nós estamos passando, essa perda de vidas, sirva para um mundo mais compreensivo, mais amoroso e melhor. Agora, evidentemente que neste tema somos todos alunos, o mundo está aprendendo, o Brasil também, não existe uma posição única de como enfrentar. Mas precisamos recuperar o país, a autoestima dos porto-alegrenses, dos gaúchos, e eu tenho muita convicção, muita fé de que nós, juntos, vamos superar. É um momento difícil, mas também os momentos difíceis são momentos de união, de força, para superar. O mundo já passou por muitas crises, essa é mais uma e nós vamos superar porque somos mais fortes do que a crise."
Perguntas de ouvintes:
Luis Henrique: Não seria interessante fechar, encerrar as atividades religiosas e também as quadras esportivas abertas e fechadas para diminuir a circulação de pessoas?
"Nós tomamos algumas iniciativas restritivas hoje, que serão publicadas no Diário Oficial de Porto Alegre (Dopa) ainda nesta quinta e começam a funcionar a partir de sexta-feira, e o nosso comitê da covid tem uma reunião diária. Se for necessário fazer mais restrições a partir de sexta, faremos. Tudo para que a economia e os empregos sejam preservados, mas vamos avaliar todas as posições e elas serão levadas em conta para as nossas decisões."
Leonardo Santos: A abertura de leitos em hospitais que estavam desativados será suficiente? Não está na hora de providenciarmos pelo menos um hospital de campanha para março? E quantos profissionais de saúde adicionais estão sendo contratados?
"Com muita tristeza, quero dizer que a nossa capacidade de leitos e de profissionais é finita, e o vírus está acontecendo de forma geométrica. Nós abrimos leitos no Hospital Porto Alegre, requisitamos via decreto o Hospital Beneficência Portuguesa, vistoriamos o Hospital Parque Belém, e, depois que eu for ao Conceição, irei ao Hospital Álvaro Alvim, que hoje é administrado pelo Hospital de Clínicas. Tudo o que puder, nós vamos fazer. Eu estive em Brasília com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e ele deu a palavra de que garantiria os recursos extras, mas se a multiplicação do vírus continuar desse tamanho, é difícil ter leitos. A prefeitura está fazendo tudo que é possível, em parceria com o governo do Estado, não está medindo esforços, inclusive autorizei o secretário da Fazenda a liberar todos os PLS que forem necessários enquanto não tiver dinheiro do governo federal."
Marcelo Fernandes: Por que o prefeito não implementa o sistema de rodízio de horários para as empresas, sejam elas de serviços, indústria ou comércio, para diminuir as aglomerações em ônibus e nas ruas, ou até mesmo estender os dias de trabalho de domingo a domingo? O que poderia ser desenvolvido nesse sentido?
"Eu falei agora há pouco com o Paulo Cruz, que está articulando uma reunião ainda para hoje. Eu tenho essa posição muito antes da covid, acho que a cidade precisa ser mais inteligente em tudo. Por que as atividades devem começar sempre nos mesmos horários? A mobilidade urbana é uma das coisas mais desafiadoras de uma cidade, se você articula horários de abertura e fechamento, você tem uma cidade mais humana. Então, se depender da vontade do prefeito, esse assunto está dado, só não quero decretar isso sem conversar com os setores. Paulo Cruz está organizando essa reunião, e acho que nós podemos encaminhar muito bem, porque acho que essa medida não vem só com a pandemia, ela podia funcionar também pós-covid."
Pedro Soares: Por que o poder público e a prefeitura ainda não compactuaram com o governo do Estado e ainda permitem a abertura generalizada de todos os comércios?
"Desde o dia 1º de janeiro nós temos combatido festas clandestinas, bares que aglutinam na frente, e temos fiscalizado os estabelecimentos para cumprir os regramentos e protocolos estabelecidos pelo governo do Estado e que são também os protocolos da prefeitura. Acho que essa discussão é mais profunda, as pessoas dizem 'fecha o comércio que a gente resolve', mas será que é isso mesmo? Tem algum laudo científico de algum cientista no mundo que diga que apenas fechar o comércio resolve? E se nós fecharmos o comércio e as pessoas continuarem circulando pela cidade? Para fechar, tem que fechar tudo. Fechar por parte não vai resolver, fechar o setor produtivo e o improdutivo ficar circulando pela cidade, acho que não está correta essa posição."
Mauricio: O que vai ser feito para aumentar a fiscalização?
"Nosso canal da prefeitura, o 156, é o canal de maior entrada, então você pode contribuir com isso. Agora, não há no Brasil um sistema fiscalizatório para qualquer situação capaz de dar conta de fiscalizar, no caso de Porto Alegre, 1,5 milhão de pessoas. Nós temos 500 guardas municipais, a Brigada Militar tem um efetivo pequeno e nós temos os fiscais da prefeitura, nós estamos fazendo uma fiscalização não truculenta, mas eu quero te convidar a nos ajudar a conscientizar pessoas, porque se for só na fiscalização não resolve, não tem como fazer, estou sendo sincero. Não é porque não quero fazer, não tem perna para qualquer governador ou prefeitos do Rio Grande do Sul todo, se não houver uma tomada de consciência de que o momento é grave e que cada um tem que fazer a sua parte. Não é momento de buscar culpados."
Sander Golveia: Como vai funcionar a volta às aulas da Educação Infantil?
"Nós tomamos uma decisão aqui na prefeitura de voltar primeiro o ensino infantil, porque o ensino infantil em Porto Alegre tem uma rede de 200 creches conveniadas e mais de 40 escolas públicas. As públicas voltaram e as conveniadas também, sendo que nas públicas houve uma decisão judicial hoje e, portanto, nós vamos cumprir a decisão judicial que determinou que (a retomada) seja suspensa. As conveniadas estão funcionando, mas nenhum pai e nenhuma mãe está sendo obrigado a levar o seu filho na creche conveniada, e as particulares também estão funcionando. No caso da rede municipal, a nossa rede atende uma comunidade muito carente, às vezes a mãe não tem com quem deixar o filho, então nós temos o entendimento, e o mundo já nos ensinou isso, que com as cautelas necessárias as escolas devem voltar. Nós voltamos, a Justiça entendeu que não, mas as conveniadas vão continuar e os pais e as mães são soberanos para decidir se vão levar seus filhos ou não, e nós respeitamos essa decisão."
André Azambuja: Por que não se faz um lockdown pensado de 15 dias em Porto Alegre?
"Nós não estamos dizendo que não podemos fazer, o que tenho defendido é que quero fazer parte dessa decisão como prefeito que foi legitimamente eleito. O governador adotou um sistema de bandeiras e esse sistema de bandeiras tem uma gestão, que ele vai semanalmente atualizando essas bandeiras e lá no meio desse processo ele criou a cogestão, dizendo que os prefeitos iriam ajudar a administrar. No final do ano passado, ele acabou suspendendo a cogestão por entender que vivíamos um momento grave, e até penso que ele vai fazer isso agora também, pelo que estou acompanhando, mas quero dizer que acho que o governador tem toda a autonomia. A minha posição é diferente, mas se ele tomar a decisão, evidentemente que nós vamos cumprir a decisão dele, mesmo que eu seja contrário a ela, porque estou convencido de que não é só fechar as atividades econômicas que vai resolver a questão de mais pessoas infectadas pelo coronavírus."
Áureo Almeida: Por que o senhor ainda está permitindo acesso aos parques?
"Nós estamos entrando com uma campanha de conscientização, e se a população não compreender o recado que a prefeitura está dando, nós vamos fechar esses espaços públicos. Mas pensei primeiro em fazer um apelo para que as pessoas não tomem conta dos espaços públicos."
Paulo Santos: Como fica a situação das academias de ginástica? Vão fechar ou vão abrir com restrições?
"Nós hoje estamos operando em bandeira vermelha, e as academias podem funcionar diante de determinadas restrições. O governador deve anunciar a mudança de posição a partir desta quinta ou na sexta-feira, então essa resposta vai depender do que vai acontecer. Se o governador suspender a cogestão, todas as academias estarão fechadas, se ele não suspender, elas estarão funcionando de forma restritiva."
Sandra Pinto: Estive na rodoviária e vi vários taxistas sem máscara, isso não é prejudicial também?
"É verdade, os taxistas e outras pessoas, tem muita gente (andando sem). O uso da máscara é obrigatório, mas a prefeitura não tem condições de fiscalizar todos que não usam máscara. Por isso, vou trazer aqui um tema que é o uso do cigarro: por que as pessoas deixaram de fumar? Por várias razões, mas por constrangimento também, quando passou a ser proibido fumar em alguns espaços e as pessoas reclamavam, constrangiam aquela pessoa que fumava. Acho que está na hora de a população, com educação, dizer "o senhor não tem o direito de não usar máscara porque o senhor está prejudicando a sociedade". Eu também faço parte da sociedade, o que eu não posso é transferir para o governo tudo. Governo tem que estar ao lado, não tem que estar na frente nem atrás. Esse prefeito está ao lado do povo para resolver os problemas, mas não sou o salvador da pátria."
Perguntas de jornalistas da RBS:
Eduardo Matos: Há alguma mudança prevista em termos de restrição na mobilidade urbana que atingiria os motoristas de aplicativo e motoristas em geral?
"Não, a única medida que tem, que vai ser publicada no Dopa desta quinta-feira, é que a partir de sexta-feira não aceitaremos circulação de ônibus com passageiros em pé e vamos estender mais linhas nos horários de pico. Tudo isso vai depender muito da decisão do governador de suspender a cogestão, mas na prefeitura não tem nenhuma decisão tomada sobre isso, até porque logo que decretada a suspensão da cogestão, a cidade vai estar parada e, portanto, essa preocupação está resolvida."
Kelly Matos: Na sua visão, a cogestão deve ser mantida ou suspensa?
"Penso que a cogestão é uma forma de dividir responsabilidades, estou disposto a sentar com o governador, com a equipe dele e a nossa equipe de saúde, e até fazer mais restrições, mas eu não quero abrir mão das decisões. Volto a dizer: sou um legalista, se o governador decidir, mesmo que eu não concorde, porque eu acho que fechar as atividades econômicas não vai resolver essa questão, nós vamos fazer cumprir a decisão."