Faltavam 20 minutos para que todas as atividades essenciais do Rio Grande do Sul tivessem que ser encerradas, em razão de decreto do governador Eduardo Leite para conter a pandemia, e ainda havia gente fazendo pedidos em restaurantes, bares e crepes no centro de Capão da Canoa, no Litoral Norte. Faltando 17 minutos, em uma mesa de um desses estabelecimentos, um dos clientes ainda estava com meia torre de chope por tomar. Em três restaurantes, a música ao vivo rolava tranquilamente. A última canção terminou às 21h57min.
Quando o relógio marcou 22h, parte dos estabelecimentos fechou. Mas quem tinha clientes dentro, seguiu com eles consumindo em suas mesas ou mesmo em pé. Em uma das esquinas, eram mais de 15 pessoas na fila de um crepe.
— Estou com minha esposa aqui comprando açaí. Eu sabia do decreto. Mas começa a valer hoje? Então por que estão vendendo? Xi, então isso aí vai longe — disse o eletricista Leandro Carvalho, 40 anos, morador de Rosário do Sul, perto das 23h.
Quem conseguiu se antecipar foi o gerente de uma pizzaria na Avenida Paraguassu. Antes mesmo das 21h, Paulo de Bona, 69 anos, já não deixava mais clientes entrar.
— Temos que fechar às 22h, então não vai dar tempo de vocês jantarem — disse ele a uma família que chegava.
Segundo De Bona, com o fechamento mais cedo, o número de rodízios servidos deverá cair pela metade.
— Nós cumprimos todos os protocolos. Além dessa redução de horário, a temporada já foi ruim. Na passada, nós vendemos cerca de 11 mil rodízios. Nesta, pouco mais de 5 mil — disse ele.
A preocupação do gerente é ainda maior se a chamada cogestão deixe de ser aplicada. Nesta segunda-feira (22), o governador Eduardo Leite vai se reunir com prefeitos para sugerir a suspensão dessa regra que permite aos municípios adotarem protocolos da bandeira imediatamente anterior a aplicada para a região. Ou seja, a região de Capão da Canoa, que está em bandeira preta, teria de fechar a partir de terça-feira (23) todos os bares e restaurantes, por exemplo, mantendo apenas o sistema de tele-entrega e pague e leve, caso seja suspensa a cogestão.
Na praia de Atlântida, a maior parte dos estabelecimentos estava fechada. Mas a reportagem flagrou pelo menos três restaurantes abertos depois das 23h na Avenida Central.
Pelo decreto, toda a atividade não essencial deve ficar fechada das 22h às 5h do dia seguinte. A medida vale até as 5h de 2 de março.
Fiscalização, orientação, vaias e aplausos
O secretário de Administração de Capão da Canoa, Raphal Ayub, disse que essa primeira noite serviu mais para orientar os estabelecimentos sobre o decreto estadual.
— No primeiro dia, a gente está usando o bom senso. Amanhã, teremos outras ações e durante a semana também — adianta Ayub.
No primeiro dia, a gente está usando o bom senso. Amanhã, teremos outras ações e durante a semana também
RAPHAL AYUB
Secretário de Administração de Capão da Canoa
A reportagem voltou por volta das 23h ao mesmo local onde estabelecimentos estavam abertos e encontrou viaturas da Brigada Militar e um veículo da prefeitura de Capão da Canoa.
— Montamos equipes para trabalhar em conjunto com a Brigada Militar. Sabemos que tem alguns estabelecimentos que resistem. Mas estão entendendo e fechando quando a gente chega — disse Marcos da Silva Pascoal, coordenador da fiscalização da Secretaria da Fazenda da cidade.
Em Arroio do Sal, a chegada de fiscais e policiais militares em uma lancheria para orientar sobre o fechamento foi motivo de vaias pelos clientes. Mas não houve tumulto. Já no centro de Capão da Canoa, uma situação inversa. Em sacadas de um dos prédios da região, aplausos a quem estava tentando fazer cumprir a lei.
— Vocês são nossos heróis — dizia uma senhora aos policiais e fiscais.
Em Torres, Tramandaí e Imbé, também houve ações de fiscalização.
— Estamos trabalhando em conjunto com as prefeituras. Hoje foi uma ação mais de orientação. A parte de notificação é com os municípios. Não tivemos nenhum problema maior. Quando chegamos, os locais ainda abertos fecharam as portas — relata o major Jairo Francisco de Oliveira, subcomandante do 2º Batalhão de Áreas Turísticas, responsável pela segurança de Torres a Nova Tramandaí.