Larissa Tarouco Mello, 22 anos, sonhava em ser jogadora profissional de futebol. Conseguiu realizar parte da meta ao integrar sucessivos times da sua cidade, Dom Pedrito, junto à fronteira com o Uruguai. Foi com surpresa que ela reagiu ao aparecimento de leucemia (câncer no sangue), em outubro passado. De lá para cá, a vida foi uma sucessão de tratamentos. Foi numa das idas e vindas a hospital que ela contraiu o coronavírus. Após dias de internação, morreu em 26 de abril. É a mais jovem vítima de coronavírus no Rio Grande do Sul.
O pai de Larissa, João Batista Madruga Mello, está acostumado com questões de saúde. Trabalha na recepção do hospital de Dom Pedrito. Foi lá que diagnosticaram, ano passado, leucemia na filha dele.
Larissa teve de fazer o tratamento, quimioterapia, em Porto Alegre, no Hospital Conceição. Após idas e vinda, terminou as sessões em fevereiro e retornou para Dom Pedrito. Perdeu o cabelo, mas não o ânimo. A ideia era retomar os estudos, interrompidos após concluir o Ensino Médio.
— Ela estava alegre, contente, caminhava, sempre foi uma guria forte. Aí de repente, em março, apareceu uma febre de 39ºC, logo após uma consulta em Porto Alegre — recorda Mello.
Ninguém na época desconfiou de coronavírus, algo inexistente em Dom Pedrito. Ela foi internada no hospital local, com dores para urina. Diagnosticaram infecção urinária, bacteriana. A suspeita é que as defesas estivessem baixas pelo tratamento imunoterápico contra a leucemia. Voltou a Porto Alegre, para o Hospital Conceição.
Larissa começou a ter falta de ar e dor no peito, em 18 de abril. Tomografias constataram inflamação na membrana de um dos pulmões e também um coágulo. Foi submetida a duas cirurgias no Conceição e depois precisou ser entubada. Só respirava com a ajuda de aparelhos.
Os médicos começaram a suspeitar que ela estivesse com coronavírus. Larissa ficou em isolamento, e os pais não puderam mais realizar visitas à filha no hospital.
— A gente acha que ela pode ter pego o vírus usando o banheiro do hospital quando foi na consulta de rotina — cogita Mello.
Larissa morreu num domingo, 26 de abril. Os pais, que estavam em Dom Pedrito, foram avisados por telefone. Por precaução, foram colocados em isolamento domiciliar o pai de Larissa, a mãe dela, Liliane, e o irmão caçula, Douglas, 12 anos. Nenhum manifestou sintomas de coronavírus.
O pai de Larissa diz que teve todo o atendimento possível e não culpa os hospitais pelo destino da filha. Sabe que ela estava debilitada pelo tratamento contra o câncer.
— A Larissa foi tratada pelos profissionais de saúde como se fosse da família. Cuidavam dela com carinho. Vão ficar para sempre no nosso coração, assim como ela.