A morte da professora Eloy Fiebig, 73 anos, deixou inconsoláveis os seus três filhos e comoveu a comunidade de Passo Fundo, onde era para lá de conhecida. Durante mais de quatro décadas, ela lecionou e dirigiu escolas na região do Planalto Médio, deixando uma legião de amigos ao longo da vida profissional. Ela morreu de após 26 dias hospitalizada por conta do coronavírus.
Formada em Magistério pelo tradicional colégio Notre Dame e em Letras pela Universidade de Passo Fundo (UPF), Eloy teve uma juventude bem difícil. Já tinha duas filhas e um filho, pequenos, quando perdeu o marido, Adalberto Osvaldo Fiebig, num acidente de carro. Ele era secretário da Fazenda do município.
— Isso foi há 45 anos. De uma hora para a outra, ela teve de nos criar sozinha. A vida dela era nos educar e trabalhar. Lecionou no município e no Estado, ao mesmo tempo — descreve a filha Taís.
Professora de Português, Eloy foi também coordenadora pedagógica na escola municipal Senador Pasqualini, localizada no Bairro Vera Cruz, professora no colégio Protásio Alves e trabalhou ainda na escola Jorge Manfrói, no município de Mato Castelhano, no início de sua carreira. Exerceu cargos de direção e já estava aposentada.
Eloy teve, em paralelo, uma vida comunitária muito ativa, atuando nas campanhas pelo trânsito seguro e em cargos diretivos do Lions Clube Passo Fundo Amizade, fazendo coleta de alimentos para a comunidade carente. Era das mais assíduas e conhecidas na entidade.
Foi em 15 de março, ao retornar de um cruzeiro pela costa do Nordeste, que Eloy manifestou sintomas de um resfriado leve e uma rinite persistente. O navio tinha uma pessoa infectada pelo vírus covid-19, ressalta a filha Taís. Por precaução, a mãe dela cortou abraço nas filhas e restringiu visitas.
O quadro evoluiu para um cansaço permanente. Como tinha diabetes e estava um pouco acima do peso, ela resolveu se precaver contra a covid-19. Foi a uma Unidade Básica de Saúde, que receitou comprimidos antitérmicos para a febre. Taís diz que também manifestou uma leve gripe, cansaço, dor de cabeça e tomou antitérmicos.
Só aí a situação de Eloy se agravou. Começou a ter falta de ar, reclamava de dor no peito. No dia 26, à noite, foi internada numa unidade do Hospital São Vicente de Paulo. Os médicos constataram sintomas graves de covid-19. Ela foi entubada e não saiu mais da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
— Foram 26 dias de tortura para a família. Ministraram hidroxicloroquina, ela chegou a se estabilizar. Pensamos que poderia ir para um quarto, mas voltou a piorar. A respiração ficou 100% artificial — descreve Taís Fiebig, que também manifestou sintomas da doença e teve de ficar em quarentena, em casa.
Os filhos só podiam ver Eloy através de um vidro.
Eloy morreu em 22 de abril. Deixou as filhas Taís e Fabiana e o filho Estevan, além dos netos Gabriel, Lucas, Felipe, Matheus e Maria.
Taís diz que resolveu contar a história da mãe para alertar sobre o quanto a covid-19 é uma doença traiçoeira.
— Minha mãe era muito higiênica, lavava até os sacos de lixo com álcool, respeitava afastamento das pessoas. E mesmo assim não resistiu — resume Taís, inconformada.