Uma vacina chinesa que vem sendo testada contra o coronavírus apresentou, pela primeira vez, capacidade de induzir a criação de anticorpos para a doença. A dose se mostrou "segura" e "bem tolerada" de acordo com o estudo, que foi publicado na sexta-feira (22) pela renomada revista científica The Lancet.
Em artigo publicado, pesquisadores chineses relatam que a vacina foi testada em 108 adultos saudáveis com idades entre 18 e 60 anos em Wuhan, na China, onde a pandemia começou. O grupo foi acompanhado por 28 dias na fase 1 da pesquisa. Eles serão monitorados ainda por seis meses, quando os resultados finais deverão ser divulgados.
Conforme o estudo, um terço dos participantes recebeu uma dose baixa, um terço uma dose média e um terço uma dose alta da vacina. Nenhum dos participantes relatou ter tido reações graves, mas alguns afirmaram ter sentido dor no local da injeção, febre, fadiga, dores de cabeça e musculares.
Duas semanas depois de a dose ter sido aplicada, o sistema imunológico das pessoas que receberam as três doses mostrou um nível de resposta. A maioria desenvolveu, segundo os cientistas, um tipo de anticorpo que pode se ligar ao vírus, mas não necessariamente o destrua. Alguns dos pacientes desenvolveram os chamados anticorpos neutralizantes, que podem matar o vírus.
Ainda não ficou provado se essa vacina, e outras do tipo, podem gerar anticorpos neutralizantes suficientes para proteger contra o vírus, afirmou o reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical da Baylor College of Medicine, em Houston, Peter Jay Hotez, ao USA Today.
— Em geral, parece que o nível de anticorpo neutralizante, que é um tipo especial de anticorpo necessário para a proteção, é relativamente baixo — afirmou Hotez.
Ainda não se sabe também qual o nível de anticorpos neutralizantes é necessário para proteger contra a doença.
A vacina é feita a partir de uma versão atenuada do vírus SARS-CoV-2, e é aplicada de forma intramuscular.
— Esses resultados representam um marco importante. O estudo demonstra que uma dose única da nova vacina produz anticorpos e células T específicas para o vírus em 14 dias, tornando-a um candidato potencial para investigação futura — afirmou o professor Wei Chen, do instituto de Biotecnologia de Pequim, responsável pelo estudo.
— Os desafios propostos pela covid-19 não têm precedentes, e a habilidade de acionar o sistema imunológico não significa, necessariamente, que estaremos protegidos da covid-19. Ainda estamos longe de ter essa solução disponível para todos — afirmou Chen, no artigo publicado.
Para Chen, os resultados devem ser "interpretados com cautela", já que a capacidade de desencadear essas respostas imunes "não indica necessariamente que a vacina protegerá os seres humanos" contra a doença.
— Este resultado mostra uma visão promissora para o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19, mas ainda estamos longe de que ela esteja disponível para todos — completou.
Professor de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Alexandre Zavascki destaca que a vacina atingiu resultado satisfatório para os objetivos a que se propunha naquele momento e a curto prazo.
— O que é diferente de dizer, agora, que ela é segura e eficaz. Não é um questão de pessimismo, mas existem etapas que precisam ser alcanças, desenvolvidas. Essa é apenas a fase 1. Ao longo do estudo, é preciso que se comprove que essa vacina garante a segurança do paciente e que ela gera uma resposta imunológica por mais tempo, se tornando eficaz contra o vírus.