A ocupação das UTIs de Porto Alegre por pacientes de todos os tipos alcançou 80% na tarde desta quarta-feira (27), em um patamar superior ao de semanas anteriores. Uma das situações mais complicadas é a do Hospital Nossa Senhora da Conceição, uma das referências no Estado, que operava acima de 90% da capacidade. Para reduzir o risco de sobrecarga, a diretoria da instituição pretende abrir mais 10 leitos de terapia intensiva até a próxima semana.
A ocupação por pacientes com confirmação ou suspeita de coronavírus se manteve estável em relação a exatamente uma semana atrás, mas em um patamar superior ao de períodos anteriores. Eram 76 pacientes no levantamento realizado no dia 20 por GaúchaZH (43 com exame positivo e 33 suspeitos), e até o meio-dia desta quarta havia 77 internados (46 confirmados e 31 em análise).
A tendência já foi mais favorável. Nos últimos sete dias, foram registrados, em média, 45 doentes internados em UTI com certeza de covid-19 na Capital. Na semana anterior, essa média era de 42 internações diárias. Analisando-se mais uma semana para trás, entre 7 e 13 de maio, esse número ficava em 40.
O diretor-técnico do Grupo Hospitalar Conceição, Francisco Zancan Paz, afirma que os casos de covid-19 têm se mantido estáveis nos últimos dias, mas há uma maior demanda por vagas para atender outras variedades de síndromes respiratórias, além das demais patologias, provavelmente em razão da mudança no clima.
— Dos nossos 69 leitos, 29 são covid e 40 não-covid. A pressão maior, no momento, é sobre os leitos não-covid. Por isso, esperamos ampliar em mais 10 vagas até a semana que vem — revela Paz.
O diretor de Regulação da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Jorge Osório, afirma que o patamar de 80% de ocupação não é estranho à Capital pelo fato de ser referência de atendimento para outros municípios. Esse percentual teria sido reduzido recentemente pela suspensão preventiva de procedimentos eletivos em razão da pandemia. Esses procedimentos começaram a ser retomados na última semana de abril.
— Nós sempre esperamos um aumento gradativo (da ocupação de leitos). Nossas UTIs nunca foram ociosas, sempre tiveram muito uso. Por isso, nosso plano sempre foi achatar a curva para ampliar a quantidade de vagas para comportar essa nova demanda que é a covid — afirma Osório.
Ao longo da última semana, o painel de monitoramento da SMS passou a contabilizar mais 10 vagas abertas no Clínicas e chegou a 624 leitos operacionais na Capital. Desde o final de março, quando havia 525 vagas, a ampliação na rede de atendimento na cidade é de 19%.
Infectologista teme aumento de casos de covid
Apesar desse investimento na infraestrutura de saúde, o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas, Eduardo Sprinz, afirma que a ultrapassagem da marca de 80% nas UTIs, no cenário atual, deve servir como “sinal de alerta” ao longo das próximas semanas para as equipes médicas.
— Nessa situação ainda dá para trabalhar, mas, acima disso, já começa a ficar complicado. A questão é que a flexibilização das medidas restritivas deverá levar a um aumento dos novos casos de coronavírus e de internações. Pode vir a ser um grande desafio — analisa Sprinz.
Jorge Osório informa que o município seguirá monitorando diariamente a situação nas alas de terapia intensiva e, caso necessário, podem ser adotadas medidas complementares. O prefeito Nelson Marchezan havia afirmado, ao dar sinal verde para a reabertura dos shoppings, em entrevista ao programa Bom Dia Rio Grande, da RBS TV, no dia 15 de maio, que um crescimento acelerado na demanda das UTIs poderia levar a uma retomada de restrições.
Osório lembra ainda que estão sendo realizadas reuniões periódicas com representantes dos hospitais de Porto Alegre para ajustar detalhes como o fluxo de pacientes para garantir a manutenção do atendimento.