Em uma sala do Hospital de Aeronáutica de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, cinco profissionais de saúde se debruçam no atendimento ao seu João, 60 anos, recém-chegado com sintomas da covid-19. Ele está sem respirar e precisa receber uma massagem cardíaca. A equipe não disfarça a apreensão, enquanto um professor vai acrescentando novos desafios ao atendimento. Seu João é, na verdade, um boneco que imita um paciente acometido da forma mais severa da doença. Os profissionais aprendem a fazer a reanimação cardiopulmonar e os procedimentos que podem salvá-lo.
— Já temos o conhecimento teórico e dominamos os protocolos. Vivenciar na prática a dificuldade do atendimento é diferente. Os equipamentos de proteção são pesados, a viseira embaça e a máscara dificulta a comunicação. É um desafio muito grande — comenta a primeira-tenente Letícia Miranda, que atua como fisioterapeuta na instituição.
O combate ao coronavírus exige preparação, mesmo de quem já atua na área. Por isso, hospitais militares do Brasil estão oferecendo treinamento direcionado para a atuação em emergências clínicas e cuidados intensivos aos pacientes. No Rio Grande do Sul, até o final de maio, serão 40 militares prontos para o combate. Conforme a demanda, a intenção do Ministério da Defesa é abrir vagas para profissionais civis.
— A evolução da doença é muito incerta. O paciente pode não apresentar falta de ar, por exemplo, e já está tendo comprometimento do pulmão e baixa oxigenação do sangue — avalia o diretor do hospital, tenente-coronel médico Mauro Amim.
Momento delicado
No mundo inteiro, os profissionais da saúde têm enfrentado o inimigo de perto. Além de estarem mais expostos, precisam evitar falhas no momento de realizar a paramentação adequada. O médico tenente-coronel Frederico Fuhrmeister comenta que a retirada dos equipamentos é um momento delicado, pois o lado de fora das roupas apresenta potencial risco de contaminação. Por isso, esse ritual é feito acompanhado de um colega, que observa se todos cuidados estão sendo tomados.
— Esse treinamento possibilita uma padronização de condutas e protocolos. Se toda a equipe tomar as medidas necessárias, o tratamento do paciente se torna mais fácil — explica.
O treinamento é feito em etapas que simulam desde o suporte básico até a entubação nos casos mais graves. Os profissionais passam oito horas por dia envolvidos com as práticas. Os bonecos aumentam a confiança durante o aprendizado, e ao lado deles estão os respiradores, tão necessários neste momento.
— O profissional com conhecimento em terapia intensiva apresenta melhores condições para prestar a assistência ao paciente neste momento — afirma o diretor da instituição.
Além de Canoas, o Hospital das Forças Armadas, em Brasília (DF), e a Escola de Saúde do Exército, no Rio de Janeiro (RJ), também estão oferecendo o treinamento.