A partir da próxima segunda-feira (1º), serão retomadas as atividades, de forma remota, para alunos de colégios estaduais do Rio Grande do Sul. Este primeiro momento deve ser de capacitação para que estudantes e professores se habituem ao ambiente digital.
Já o cronograma para retomada de aulas presenciais, prevista para ocorrer em cinco etapas, pode se estender até setembro. Parte da programação foi anunciada na quarta-feira (27) pelo governador Eduardo Leite (confira o cronograma aqui).
Como vai funcionar
As atividades educacionais da rede pública serão desenvolvidas por meio de plataformas do Google, em especial o Google Classroom. O ambiente virtual proporciona recursos que suportam atividades pedagógicas não-presenciais, inclusive com determinados tipos de avaliações.
Serão 37 mil turmas espalhadas pela plataforma, com salas específicas para recreio e para professores, além de orientação educacional e coordenação pedagógica. Serão oferecidas mais de mil turmas pré-Enem (Exame Nacional de Ensino Médio).
Os primeiros dias, no entanto, devem ser muito mais de adaptação e capacitação para o ambiente digital. Há muitos alunos e até professores que não sabem usar a plataforma, e todos devem passar por capacitação:
— Teremos tutores dentro da rede e estamos identificando professores e servidores com maior habilidade. Este início será de ambientação digital — explica o secretário estadual da Educação, Faisal Karam.
Nos três turnos, haverá equipes de suporte terceirizadas disponíveis para atender os professores por telefone ou por chat. Também haverá pessoas de referência nas escolas e nas coordenadorias regionais.
Alunos sem internet e possibilidade de rodízios
Na primeira etapa do ensino remoto, em março e em abril, 440 mil dos 812 mil alunos de colégios estaduais acessaram plataformas digitais, o que corresponde a 54,18%. A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) acredita que pelo menos 60 mil estejam “fora da sala de aula”, não no sentido literal, mas no sentido prático: são estudantes que já não estavam participando das atividades escolares.
Assim, cerca de 300 mil — ou 36,94% — ficaram sem participar do ambiente online por falta de acesso. Para estes, as atividades estavam sendo levadas e buscadas em casa. Agora, o governo tem um novo planejamento, que ainda não está completamente finalizado.
As 30 coordenadorias regionais de Educação iniciaram na semana passada um levantamento de todos os alunos que não têm acesso à internet. O objetivo é estabelecer estratégias para estes grupos, que envolvem, principalmente, estudantes de escolas rurais ou localizadas em áreas indígenas e quilombolas.
Há três opções avaliadas. A primeira delas é ampliar o acesso à internet nos casos de alunos que vivem com alguém da família que possui celular, mas sem acesso à rede. Para isso, a Assembleia Legislativa irá repassar R$ 450 mil mensais, por um ano — o contrato com as operadoras de telefonia está sendo finalizado nesta semana. Com o plano especial de internet, que terá velocidade de 50 megabits por segundo, será possível somente acessar conteúdos educativos.
A outra opção é permitir que os alunos se desloquem para laboratórios e bibliotecas de escolas para acessar plataformas digitais. A ida a estes locais será feita com revezamento, de forma agendada, para evitar aglomerações.
Por fim, para os casos de alunos com alguma doença crônica ou com deficiência, o que impossibilita ou dificulta o deslocamento, a ideia é seguir com o cronograma de envio de atividades em casa.
— As coordenadorias estão identificando quais são os gargalos para buscar chegar a estes alunos. Os professores estão desenvolvendo novas aulas, com complemento curricular. Este é um ano atípico. Tínhamos duas opções: ficarmos sentados, esperando terminar a pandemia, ou avançar nas questões tecnológicas, que estavam defasadas — diz Karam.
Equipamentos
A Seduc identificou que 73 mil equipamentos, de diferentes tipos, têm condições de uso em escolas estaduais. Muitos, no entanto, ficam guardados e não são inseridos na rotina das escolas por falta de conhecimento dos educadores ou dos servidores. Assim, a ideia é fazer com que os profissionais troquem conhecimento para impulsionar o uso de recursos tecnológicos.
Uma das ideias é adquirir Chromebooks, dispositivos semelhantes a notebooks usados para aprendizagem. O governo chegou a fazer um levantamento do preço em abril, mas, com a mudança do valor do dólar, os valores terão que ser revistos.
A previsão é de que sejam necessárias 60 mil unidades para educadores e outras 60 mil para as escolas, onde os alunos acessariam em forma de rodízio.
— Amanhã (sexta-feira) teremos uma reunião com a Secretaria da Fazenda para falar sobre isso. Há uma esperança de compra ou até de doação de recursos — projeta Karam.
Aulas até 2021
Apesar da expectativa para a retomada de aulas presenciais, Faisal Karam adianta que o uso de recursos digitais não terá volta — é algo que, segundo o secretário, deve ficar “de bom” após o fim da pandemia. O ano letivo, no entanto, deve ser atípico, estendendo-se até 2021:
— O Rio Grande do Sul e todos os Estados do país estão todos correndo contra o tempo, inventando o que é possível para não perder o ano. A gente deve entrar o ano letivo em janeiro de 2021, não sei se não entraremos em fevereiro. As aulas remotas serão até o fim do ano. Esta modelagem não volta mais atrás. Se a pandemia trouxe algo de bom, é de avançarmos nas questões tecnológicas — avalia.
O secretário destaca que não há garantia de como o cronograma vai ser alterado ao longo do ano. Tudo vai depender da curva de infecção:
— Pela amostragem que se tem no Exterior, o “vai e volta” tem sido constante. (...) Estamos há quatro semanas discutindo isso para acharmos alternativas que nos permitam voltar com certa segurança e que nos permitam voltar atrás caso tenhamos casos identificados dentro das escolas. Não é garantia definitiva do retorno. Tudo vai depender da curva (do número de casos de coronavírus), do grau de pessoas afetadas por isso.
Contratação de servidores
Pelo menos 11% dos servidores da Seduc possuem algum fator de risco para o coronavírus e, por isso, não poderão retornar às atividades presenciais. Assim, será necessário contratar profissionais.
A avaliação atual é de que serão necessários de 7 mil a 8 mil servidores contratados de forma emergencial. O número exato, no entanto, ainda não está definido. Eles vão atuar principalmente na higienização dos colégios e na área da merenda, aumentando a segurança para os estudantes.
A Seduc também tem autorização para contratar até 5.050 professores de forma emergencial, segundo Karam.