Já que pensar no próximo está na moda – ainda bem, finalmente – e ficar em casa virou imposição, temos aqui uma bela oportunidade para evoluir: separando lixo direito. Sim, é um excelente indicador para mensurar o grau de cidadania de uma população.
Nós, aqui em Porto Alegre, estamos mal – os índices de reciclagem são um fiasco. Todo dia, 65 toneladas de resíduo reciclável são aproveitadas nas unidades de triagem. Esse número poderia ser quatro vezes maior, poderia chegar a 260 toneladas, se as pessoas descartassem o lixo direitinho. Mas não. Elas misturam o resíduo seco com o orgânico, e aí o que poderia ser reutilizado se inviabiliza.
Por que isso é falta de cidadania? Primeiro, pelo mais óbvio: quando as pessoas fazem a separação correta, temos menos imundície no mundo, menos lixo no ambiente – porque aquilo que jogaram fora retorna para a gente usar. Certo.
Mas o segundo motivo é essencialmente solidário, e não há momento melhor para ser solidário do que agora. Só em Porto Alegre, 200 famílias vivem da venda de material reciclável nas unidades de triagem. Ou seja: quanto mais resíduos em condições de serem reaproveitados chegarem lá, mais dinheiro esse pessoal ganha.
Portanto, quem descarta errado, quem não separa nada, quem joga o lixo orgânico em cima do seco, quem faz isso está deixando de gerar renda para famílias de baixa renda. É uma desumanidade – embora nem sempre seja por mal, claro, as pessoas não sabem disso. Mas é hora de saberem.
Até porque, quanto mais lixo se recicla, mais o governo pode investir em outras coisas. Se o resíduo seco chega todo melecado às unidades de triagem, não tem como ser reciclado – e aí a prefeitura precisa pagar um novo transporte para levar a porcariada até o aterro sanitário. Um desperdício.
Não é à toa que todos os países desenvolvidos têm índices de reciclagem muito superiores aos nossos. Nem tudo depende da gente para o país melhorar, mas muita coisa começa por nós. Separar o que presta do que não presta, num momento de crise, parece bem oportuno.