- O estudo tem a participação de 28 pesquisadores brasileiros. O portal estimou em 11 de abril 3.993 pessoas contaminadas com o coronavírus no Rio Grande do Sul, isso representaria que 16% dos casos foram notificados e 84% estariam sem registro oficial.
- No Brasil, a infecção teria alcançado 313.288 pessoas, apenas 6,6% do casos confirmados e 93,4% subnotificados.
- Outra pesquisa do projeto Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), formado por especialistas em nove instituições, divulgou que em 10 de abril a notificação no Rio Grande do Sul chegou a 25,1% dos casos, o segundo melhor índice nacional, e no Brasil, a taxa seria de apenas 8%.
A pandemia do coronavírus no Rio Grande do Sul já atingiria 3.993 gaúchos, segundo estimativa do portal Covid-19 Brasil, que reúne 28 pesquisadores de 11 universidades no país.
O cálculo indica haver 3.353 pessoas infectadas não incluídas em relatórios oficiais. O número de subnotificações é seis vezes maior do que os 640 casos apurados como confirmados pelo portal, em 11 de abril, data da coleta dos dados. O índice de casos não notificados chegaria a 84%.
No Brasil, seriam 313.288 contaminados, superando em 15 vezes as 20.727 confirmações naquela dia, com taxa de subnotificação de 93,4%.
O estudo elaborou um ranking com 14 Estados e o Distrito Federal, no qual o Rio Grande do Sul aparece na 11ª posição em números absolutos de pessoas que teriam contraído o coronavírus.
Análise em percentuais indica variação 623,9% entre os casos projetados e os confirmados entre os gaúchos, 13º da lista. A maior distorção é no Maranhão, 5.177%. Paraíba com 4.750% e Amazonas com 3.745% estão logo abaixo.
Se por um lado a pesquisa mostra volume elevado de infectados, por outro revela que a taxa de letalidade se reduz quando se compara o número estimado de casos com o de óbitos. No Rio Grande do Sul seria de 1,4% em vez de 2,34% o índice de mortes em relação aos casos confirmados. No Brasil, o percentual diminuiria de 5,7% para 1,08%, aponta o estudo.
Integrante do grupo que realizou o trabalho, Domingos Alves, professor e pesquisador da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto (FMRP/USP), explica que o objetivo do estudo é mostrar um cenário mais próximo da realidade, pois considera autoridades de saúde sem condições de monitorar a expansão da doença adequadamente.
— Quando se ouve dizer que são 640 casos, alguém vai pensar: "Ah, não é comigo". Mas o número é bem maior. Uma pessoa infectada pode estar ao seu lado sem sintoma da doença — afirma Alves, que comanda o Laboratório de Inteligência em Saúde da FMRP/USP.
Ele classifica como grave a subnotificação em algumas regiões do país, defende o distanciamento social para estancar o avanço da infecção e a massificação da testagem para se ter a real noção da população atingida pelo coronavírus:
— Não podemos permitir no Brasil uma tragédia como nos Estados Unidos, onde as pessoas estão morrendo em casa, ou como a do Equador, com óbitos no meio da rua.
Tendência mantida em outra pesquisa
Outra estudo apresentado com dados de 10 de abril contém dados diferentes, mas com segue na mesma tendência dos números do portal Covid-19 Brasil.
O trabalho do projeto Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), do qual fazem parte pesquisadores de nove instituições, incluindo USP, PUC-Rio e a Fiocruz, concluiu que as notificações no Rio Grande do Sul alcançaram 25,1%. É o segundo melhor índice, atrás apenas do Mato Grosso do Sul, com 27,8%. No Brasil, o índice é de 8%.
A falta de testes também é apontada como uma das razões para a subnotificação, e a restrição de circulação como medida de prevenção contra o coronavírus.
— A manutenção do isolamento social se faz mais do que necessária para evitar uma sobrecarga nos sistemas de saúde. Outros países que adotaram ações rígidas assim tiveram um impacto menor da doença entre a população — avalia Marcelo Prado, da empresa BizCapital e pesquisador do NOIS.
As metodologias adotadas pelas pesquisas envolvem equações complexas. Utiliza dados de outros países com a evolução da doença em estágio mais avançado para estimar a letalidade esperada para o Brasil, além de mortes e casos confirmados e número de doentes recuperados. São consultados boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde, dados da Fiocruz e da Organização Mundial da Saúde, entre outras fontes.
A médica gaúcha Lessandra Michelim Rodriguez Vieira, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia, prefere não avaliar se as pesquisas retratam a realidade, mas lembra que o Brasil notifica casos graves ou aqueles detectados em profissionais de saúde com síndrome gripal.
— Não é proposital, faltam insumos para os testes — resume.