De seu ateliê em Porto Alegre, a professora encontra nas aulas online uma maneira de ajudar outras pessoas e compensar uma exposição suspensa. De sua casa em Madri, a aluna aprende uma habilidade e aplaca a tristeza de vivenciar sozinha a quarentena imposta pela pandemia do coronavírus. Assim, a artista Teresa Poester e a fisioterapeuta Josefa Sanchez transformaram as frustrações da quarentena em experiências positivas.
Radicada na França, a artista e professora gaúcha Teresa Poester viajou a Porto Alegre em fevereiro para realizar workshops e seminários na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com a escalada da pandemia de coronavírus, Teresa teve de permanecer na cidade, suspender todas as atividades planejadas e encerrar antecipadamente a exposição Até que meus Dedos Sangrem, em cartaz na Sala Fahrion da universidade. Confinada no ateliê que mantém na capital gaúcha, Teresa não hesitou quando o Departamento de Difusão Cultural da Ufrgs a convidou para um novo projeto: aulas de desenho online.
Toda semana, Teresa é filmada compartilhando lições e propõe exercícios, que podem partir da observação de um vaso de cactos, por exemplo. Depois, aproveita o conhecimento em softwares de edição para montar aulas curtas que são publicadas às sextas-feiras. Embora tenha lecionado por 40 anos, Teresa é nova no universo das aulas à distância, por isso também está aproveitando para aprender bastante. Revê suas técnicas, aprimora a edição de vídeos e adapta o conteúdo conforme o retorno dos internautas:
– Demoro praticamente toda a semana, estou aprendendo a dinâmica das vídeo-aulas. Agora estou ensinando desenho de observação, mas em algum momento vou mostrar como organizo meu trabalho na exposição, meu processo de trabalho, vou trazer uma entrevista com o Eduardo Veras (curador e professor da UFRGS) e bolar coisas diferentes – empolga-se a professora.
Teresa explica que não é preciso ter experiência em desenho para botar a mão na massa, mas as aulas não são para crianças pequenas:
– Tenho procurado fazer uma coisa lúdica, para gente a partir dos 10 ou 12 anos. Cada um vai ter um entendimento conforme o seu referencial. Quem já é artista vai entender de um jeito, quem é leigo, de outro.
Disponibilizados nas redes sociais da artista e do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS, os vídeos já atingiram mais de mil alunos e cruzaram oceanos. Ajudaram pessoas como a professora e fisioterapeuta espanhola Josefa Sanchez, que contraiu coronavírus no hospital de Madri onde trabalha e precisou ficar de quarentena em casa.
– Junto com outros seis funcionários, eu me contaminei com covid-19 ao tratar de pacientes. Tive sintomas leves e agora estou bem, mas ainda confinada em casa – compartilha Josefa.
Abalada com a doença e o isolamento, pois mora sozinha na capital espanhola, Josefa tem desenhado todos os dias.
– O confinamento na Espanha está tendo consequências terríveis em todos os níveis e esta ferramenta da Teresa é uma saída, é uma questão de manutenção e reconstrução de saúde para mim – conta a fisioterapeuta. – Vejo os vídeos, tomo notas e sigo as instruções durante toda a semana. Vou somando as lições e incluindo coisas minhas – acrescenta.
As aulas ajudam tanto a aluna quanto a professora, que tem recebido diversas mensagens de agradecimento.
– Sou apaixonada pelo meu trabalho e devo a ele a minha sobrevivência psíquica. Então, para mim, está fazendo muito bem, é o que posso fazer para ajudar as pessoas – diz Teresa.