O Brasil vai fazer um teste em massa para saber a porcentagem da população que já foi infectada pelo coronavírus. Cerca de 100 mil brasileiros serão testados, em três etapas, a partir da metade deste mês de abril.
O Ministério da Saúde deve aprovar a realização do estudo nesta quinta-feira (2), de acordo com o secretário de Atenção Primária a Saúde Erno Harzheim. O objetivo da pesquisa é estimar o alcance real da epidemia e o avanço do número de casos. Cerca de 33 mil pessoas serão testadas a cada duas semanas.
— Vai ser o primeiro retrato da doença pelo país, não apenas o retrato da situação daqueles que procuram os serviços de saúde com sintomas severos. Vai ser um grande instrumento para planejarmos o combate à doença, realizado por um grupo de cientistas independente — disse Harzheim.
Com dados mais precisos a respeito do espalhamento da doença, será possível fazer projeções do avanço da epidemia, descobrir quais são as regiões mais atingidas do país e planejar as medidas de contenção.
Parte da população, uma amostra, será testada para se saber quem foi infectado pelo vírus. Será semelhante a uma pesquisa de opinião, mas, em vez de contar suas preferências para o entrevistador, a pessoa sorteada pela pesquisa vai dar uma amostra de sangue da ponta do dedo, coletada em sua casa.
Com os números do levantamento e estudos dos epidemiologistas, será possível decidir com base em dados científicos a necessidade de isolamentos: de que tipo, onde e até quando devem ser implementados. Com tais informações, será possível decidir quando os brasileiros, aos poucos, poderiam voltar a suas atividades rotineiras.
Com a estimativa do número real de infectados, de doentes evidentes e de assintomáticos, será possível projetar ainda quantas UTIs, ventiladores e outros equipamentos serão necessários para tratar os doentes em cada região.
O trabalho será coordenado por Pedro Hallal e epidemiologistas da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel). O grupo de Hallal, que também é reitor da Ufpel, começa a partir deste final de semana um teste em massa no Rio Grande do Sul. A equipe científica vai contar também com pesquisadores de USP, FGV do Rio, Unifesp, Uerj e UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre).
Hallal disse que pretende começar a pesquisa (um "inquérito sorológico") na semana que começa no dia 13 de abril.
O trabalho será bancado por recursos federais, do Fundo Nacional de Saúde, diz Harzheim, o secretário do ministério da Saúde que supervisiona o projeto, também gaúcho e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul nas áreas de medicina social e epidemiologia. Os testes serão fornecidos pelo ministério. Harzheim diz que assinará nesta quinta-feira a medida para que o projeto deslanche e tenha recursos.
- Os dados que eles vão coletar poderão fazer toda a diferença. Não temos saída (a não ser fazer a pesquisa, o "inquérito sorológico"). Precisamos de dados para planejar. Esse isolamento não pode continuar por muito mais tempo - diz Claudio Struchiner, médico, matemático, epidemiologista e professor da Escola de Matemática Aplicada FGV do Rio.