Em meio à pandemia do coronavírus, têm sido recomendado o distanciamento social para todas as pessoas. Sair de casa apenas quando extremamente necessário é uma das medidas apontadas como essenciais para impedir a proliferação do vírus. Entretanto, de acordo com o médico Drauzio Varella, é necessário também construir mais estruturas hospitalares para atender aqueles que ficarem doentes.
— Nós não sabemos fazer um hospital em duas semanas como os chineses fizeram. Mas nós podemos adaptar estádios de futebol, podemos adaptar lugares públicos, para construir rapidamente leitos. Podemos montar barracas para você atender os que não estão bem, para não precisarem ir ao hospital, para serem cuidados ali mesmo, encaminhados para a casa — defendeu.
O médico também demonstrou preocupação quanto à questão social e à desigualdade do Brasil.
— A situação no Brasil é muito mais grave do a que dos outros países. É pela primeira vez que nós vamos ver como se comporta a epidemia com tanta desigualdade social como o nosso.
Ouça, abaixo, a entrevista completa:
Drauzio destacou a realidade das pessoas na periferia, os quais, de acordo com ele, ganham apenas o suficiente para sobreviver ao longo dos dias. Essas pessoas, pontuou, não têm como sobreviver dois ou três meses sem trabalhar.
— Como eles vão comer? E o que vai acontecer se não tiverem acesso à alimentação? Nós temos que distribuir urgentemente cestas básicas para essas populações e dar recursos financeiros, um tipo de Bolsa Família, para um grande número de pessoas que vivem na periferia. Se não, vai acontecer o que? Aí é um caos social. Nós vamos acrescentar a essa epidemia, de um vírus que pode provocar uma doença grave em algumas pessoas, nós vamos ter uma violência urbana. Se você está com seus filhos, numa casa precária da periferia, sem um real no bolso. Você vai ter que dar comida para os seus filhos, não vai? — indagou.
O médico também defendeu que não é só o Estado que tem a capacidade de ajudar e mudar a realidade da pandemia no Brasil. O médico contou estar sendo procurado por diversos empresários discutindo ideias.
— Nós temos pessoas que têm uma condição muito boa, algumas pessoas tem recursos na ordem de bilhões de reais. Essas pessoas estão perdendo dinheiro, porque está acontecendo uma crise e elas estão perdendo dinheiro. Agora, elas não podem arriscar de perder dinheiro e ao mesmo tempo ver as cidades convulsionadas, ver o caos nessas cidades. Nós temos que urgentemente criar fundos administráveis por pessoas impolutas, pessoas honestas, que não tenham nenhum interesse em fazer uma malversação de verbas, que criem uma estrutura paralela. Não para competir com o Ministério da Saúde, mas para assessorar o Ministério da Saúde. Para o Ministério ver onde estão as principais carências — disse.