Com sete casos confirmados de coronavírus e 30 suspeitos, Bagé é o município do interior do Estado com o maior número de pacientes que testaram positivo para a covid-19. A maior cidade da região da Campanha, onde o vírus se alastra inclusive pela comunidade médica, planeja ações para atender um grande contingente de contaminados. Entre elas estão a utilização de um condomínio habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida com 564 moradias que poderá ser usado para abrigar leitos de internação.
A entrega das casas populares com dois dormitórios na zona leste da cidade estava prevista para abril, mas foi adiada em função do avanço da doença. Segundo o prefeito Divaldo Lara (PTB), o Exército tem condições de fazer o isolamento das entradas e saídas do condomínio:
— Quero fechar aquela área residencial exclusivamente para tratamento de doentes. Pretendo fazer desta área um local de retiro e contenção para casos de média complexidade. Vou aguardar para ver como será a evolução da doença nesta semana. Se for necessário, o Exército vai isolar a área, ocupar cada uma dessas moradias para pessoas que por ventura venham a precisar.
O prefeito avalia utilizar o espaço das 564 moradias quando o número de casos confirmados for superior a 50 e houver mais cinco vias de contaminação – atualmente existem duas. Na cidade, o Exército já tem auxiliado na triagem de paciente em frente à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) e à Santa Casa de Caridade. O Exército também disponibilizou o Hospital Militar do município para operar como unidade de campanha, caso seja necessário.
O local deverá ter uma estrutura básica com macas e equipes de atendimento. Os materiais serão deslocados das unidades de saúde do município e de hospitais menores da região que não terão condições de atender pacientes com covid-19.
Vacinação contra a gripe
No último sábado (21), a prefeitura de Bagé adiantou a campanha de vacinação e imunizou 5 mil idosos contra a H1N1. A meta é vacinar mais 15 mil. Para defender o público com mais de 60 anos do inverno rigoroso da Campanha, o município pretende comprar 10 mil vacinas contra pneumonia.
— Confiamos no nosso sistema de contingenciamento, mas o que nos afetou gravemente é a questão do contágio ter começado pela classe médica. Temos hoje duas linhas de contaminação em Bagé: uma na classe médica e outra de uma pessoa que veio de Porto Alegre — afirmou Lara.
Na cidade, a doença atingiu a cúpula do principal hospital da região. Entre os casos confirmados estão o provedor da Santa Casa de Caridade, médico ortopedista Jorge Moussa, que está internado em Porto Alegre na UTI. O diretor-administrativo, Raul Vallandro, está em casa, em isolamento. Também estão contaminados a secretária de Moussa, dois médicos, uma estilista de 31 anos e uma vendedora de joias de 51 anos. Todos estão em isolamento domiciliar em Bagé. Entre os 30 casos suspeitos, seis são de pessoas que estão na linha de frente do atendimento de saúde.
Equipamentos de proteção
Outro aspecto que preocupa é a falta de Equipamento de Proteção Individual (EPIs) para as equipes de saúde. Segundo o prefeito, estão faltando luvas, jalecos, máscaras e álcool gel:
— Esses materiais, em alguns locais já não há mais. A Santa Casa já tem faltas. Nossas equipes estão fazendo o máximo esforço, tudo que é possível. Mas há itens que não tem mais onde comprar e o Estado não mandou.
De acordo com Lara, o Estado deve R$ 4 milhões em repasses atrasados ao município, recurso que poderia ser usado na compra de EPIs e aparelhos respiradores. Atualmente, Bagé tem 10 respiradores e receberá, por cedência, quatro equipamentos de Aceguá, município vizinho.
Nesta segunda-feira (23), o juiz Humberto Moglia Dutra, de Bagé, atendeu a um pedido do Ministério Público que obriga o Estado a repassar recursos para a Santa Casa para a compra de equipamentos essenciais para a proteção dos profissionais que estão envolvidos no combate à covid-19, sob pena de bloqueio das contas do governo.
A Secretaria Estadual de Saúde informou que está equipando e habilitando a Santa Casa de Bagé com quatro leitos de UTI para o enfrentamento ao coronavírus. Atualmente, a cidade tem 18 leitos de UTI.
Na tentativa de conter o avanço do vírus na cidade de 120 mil habitantes, a prefeitura decretou calamidade pública. Na tarde desta segunda-feira, diante da confirmação do sétimo caso, o prefeito baixou um decreto com toque de recolher das 22h às 6h, sujeito a multa de R$ 900 por descumprimento. A medida será fiscalizada pela Brigada Militar e Guarda Municipal:
— Se necessário, acionaremos o Exército — frisou Lara.
O comércio está fechado. É permitido funcionamento apenas de farmácias, supermercados e postos de gasolina. Agências bancárias operam apenas com caixas eletrônicos e alguns serviços básicos, como cartões extraviados. Bares e restaurantes operam por telentrega.