Hoje um dos bairros mais famosos do Brasil, Copacabana tinha poucas edificações quando o então presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, propôs a construção de um hotel na região, em 1919. O objetivo era levar ao Rio de Janeiro, capital do país na época, um empreendimento que oferecesse estrutura e serviços de luxo, semelhante aos disponíveis na Europa, para celebrar o centenário da Independência — que seria completado em setembro de 1922. Tudo isso na beira do mar.
A construção ficou a cargo da poderosa família Guinle, que já possuía hotéis e outros empreendimentos na cidade. Os responsáveis, porém, impuseram uma condição para o investimento em um local então considerado distante e com pouca estrutura: a autorização para instalar, também, um cassino. Batizado de Copacabana Palace, o hotel, idealizado pelo arquiteto francês Joseph Gire, ficou pronto só em 1923, com inspiração em estabelecimentos de Cannes e de Nice, na França. O atraso virou apenas um detalhe diante do cumprimento, com louvor, do objetivo: da arquitetura à gastronomia, o hotel, que completa cem anos no dia 13 de agosto, transformou-se em um ícone.
Além de uma hospedagem luxuosa que atraiu — e segue atraindo — autoridades e celebridades, o Copacabana Palace virou ponto de encontro de artistas e berço para uma série de iniciativas culturais. Bares, boates, piscina, restaurantes, sala de concertos, teatro: ao longo dos anos, a estrutura foi sendo melhorada. A alta sociedade carioca e brasileira passou, nas décadas seguintes, a se encontrar no Copa, como o local é carinhosamente chamado, mesmo após o fechamento do cassino, em 1946, quando a atividade voltou a ser proibida no Brasil.
— A gente costuma dizer que o Copa é a esquina do mundo. Quem trabalha aqui há mais tempo sempre destaca isso: não é raro aparecer uma celebridade, um ministro, uma autoridade. Nas primeiras décadas, também era mais comum essas personalidades passarem longas temporadas no hotel — conta Cassiano Vitorino, gerente de comunicação do Copa.
A lista de celebridades que já passaram pelos corredores glamorosos é imensa, incluindo nomes como Brigitte Bardot e Nelson Mandela. Nos anos 1950, depois de fazer muito sucesso no Exterior, Carmem Miranda passou quatro meses no Copa. Em 1970, Janis Joplin chegou ao Rio de Janeiro em uma sexta-feira de Carnaval para hospedar-se no hotel — de onde foi convidada a se retirar algumas semanas depois por, segundo a lenda, ter entrado nua na piscina. Por falar na piscina, as imagens da princesa Diana nadando no local em 1991 rodaram o mundo. O luxuoso hotel também foi eleito pela cantora Madonna para seu show de celebração dos 40 anos de carreira.
Tombamento
Na década de 1970, com o surgimento de outros hotéis de luxo na região, o Copa viveu tempos com menos glamour. Nos anos 1980, chegou a se cogitar a sua demolição, pelo menos parcialmente, para levantar fundos para reformas. Com o tombamento do local como patrimônio histórico nas esferas federal, estadual e municipal, a família Guinle decidiu pela venda da estrutura, que foi adquira pela Orient-Express em 1989.
Hoje pertencente à Belmond, empresa responsável por hotéis e experiências de luxo pelo mundo, o hotel recebe, em média, 100 mil hóspedes por ano. São 239 quartos no total, divididos entre o prédio principal e o anexo construído posteriormente à inauguração, que fica atrás da piscina.
O Copa celebra o centenário ao longo do ano com programação intensa, valorizando sua sofisticação original. A lista vai desde eventos dos mais exclusivos até uma festa em plena areia da praia (veja abaixo).
A administração trabalha na renovação da fachada, de forma a oferecer aos hóspedes e a quem passa pelo local a visão mais parecida possível com a de cem anos atrás. Foram feitas mudanças na pintura principal, detalhes e grades das janelas — sempre com aval dos órgãos responsáveis pelo patrimônio. Além disso, está sendo montada uma nova iluminação cênica, para valorizar o prédio histórico, a cargo de uma empresa que já realizou trabalhos semelhantes em monumentos do mundo.
— O Copacabana é mais do que um hotel, é uma instituição. Com essas mudanças, vamos fazer com que a nossa "grand dame" fique ainda mais bonita — diz o gerente-geral, Ulisses Marreiros.
A experiência do hóspede
O glamour inaugurado em 1923 segue em 2023. Preservado, o Copacabana Palace é reconhecido por quem passa diante do prédio imponente, na Avenida Atlântica, ou por quem vê salas e quartos retratados em inúmeras produções de cinema e televisão.
Chamam a atenção, logo de cara, na recepção, a decoração cuidadosa e o "cheiro do Copa": um aroma cítrico, fresco, mistura de capim-limão com outras ervas, desenvolvido exclusivamente para o hotel. Também é possível perceber acentuada no local uma característica do Rio de Janeiro: a forte presença dos estrangeiros. Além de inglês com diferentes sotaques, espanhol, italiano e francês são comuns nos corredores, apesar de a ocupação ser composta, em sua maioria, por brasileiros, segundo a administração.
Foi em uma das suítes do prédio principal, de frente para o mar, que a reportagem ficou hospedada por duas noites no início de julho, a convite do hotel. Além da vista, que enche os olhos por si só, a sofisticação está em detalhes como os amenities — da marca Granado e com rótulos que remetem ao centenário —, o brasão do hotel estampado em itens de banho, o pé direito altíssimo e os móveis elegantes. O serviço inclui, além do "básico", itens como menu de travesseiros, com 11 opções, e experiências de turismo exclusivas montadas em parceria com operadores da cidade. Mais do que aproveitar tudo isso, porém, hospedar-se no Copa é respirar a atmosfera de sofisticação, tranquilidade e história extremamente rica.
A experiência do visitante
Há formas de conhecer o local e aproveitar a estrutura sem ser hóspede. Os três restaurantes — dos quais dois possuem estrelas Michelin — e o spa atendem público externo. Em qualquer um dos casos, a reserva com antecedência é indispensável.
No restaurante Pérgula, é possível almoçar, jantar (entradas a partir de R$ 65 e pratos a partir de R$ 135), aproveitar o café da manhã tradicional, também servido aos hóspedes, além de brunch aos sábados e feijoada aos domingos. O local desenvolveu um menu especial para os cem anos do hotel, com pratos que lembram grandes momentos da história do centenário. Entre eles, está o Delice de sole à la Newburg (R$ 160 + taxas), servido no jantar em homenagem a rainha Elizabeth II e ao príncipe Philip, em 1968: linguado grelhado com legumes, molho de natas, bisque, especiarias e vinho branco.
O restaurante pan-asiático MEE tem menu degustação (R$ 480 + taxas por pessoa) e pratos (entradas a partir de R$ 28 e pratos a partir de R$ 75).
No italiano Ristorante Hotel Cipriani, desde a pandemia são servidas apenas opções de menu degustação (a partir de R$ 495 + taxas por pessoa)
O spa também oferece atendimento ao público externo.
Quanto custa uma diária?
Assim como qualquer hotel, o Copa tem tarifas que mudam conforme o dia da semana e a época do ano. Durante a semana e em quarto mais simples, uma acomodação para uma ou duas pessoas custa a partir de R$ 2,4 mil por dia (mais taxas). Se o hóspede fizer questão de enxergar o mar, a diária passa a custar a partir de R$ 3,5 mil (vista parcial) e R$ 4,1 mil (de frente para a praia). Não há "baixa temporada", mas há, é claro, épocas com mais procura, como feriados, o Réveillon e Carnaval — nestes períodos, as tarifas sobem, e não é possível reservar menos do que três dias. Mais informações neste site.