Quem passa pelo chafariz no calçadão da Rua Andrade Neves, bem no centro de Pelotas, já vê a nova estrutura marrom na Sete de Setembro. Uma formiga laranja destaca a fama daqueles que apreciam o principal produto ali vendido, e o colorido das bancas chama a atenção de turistas e de quem vive no município, no sul do RS. As opções são muitas e deixam qualquer um em dúvida: quindim tradicional, de nozes, com cobertura de chocolate, brigadeiro, branquinho, trufa de morango, camafeu, ninho e tantos outros. Recém-inaugurada, a Rua do Doce faz jus ao título da cidade, conhecida como a Capital Nacional do Doce. A novidade dá mais visibilidade ao trabalho das doceiras, que já percebem bons resultados: as vendas cresceram, pelo menos três vezes mais, depois da mudança de endereço.
Com investimento de R$ 368 mil, a estrutura conta com sete espaços para doceiras, um sanitário para o público em geral, área para alimentação e convivência, além de dois bancos externos e lixeiras. A inauguração da Rua do Doce foi em 1º de julho e o atendimento no local começou uma semana depois. As bancas ficam abertas diariamente, das 10h às 19h.
De acordo com a presidente da Associação dos Produtores de Doces de Pelotas, Simone Maciel Jara Bica, 45 anos, as doceiras acreditavam que o grande movimento seria temporário, impulsionado pela novidade, mas, um mês depois, puderam constatar que a demanda pelos produtos é constante naquele ponto da cidade, considerado o “coração da área central”.
— Antes, a gente não tinha noção de quantas pessoas de fora de Pelotas passavam aqui durante o dia e durante a semana, a circulação de turistas é bem grande. E tem sido sempre assim (muito movimentado). Claro que no final do mês cai um pouquinho as vendas, mas o pessoal tem gostado bastante e elogiado — afirma Simone, que também é doceira e vende seus produtos no local.
A presidente da associação explica que o antigo ponto de vendas era formado por banquinhas simples e existia há mais de 30 anos. O primeiro endereço foi no calçadão da Rua Andrade Neves, mas, depois, as doceiras foram transferidas para a Travessa Ismael Soares, conhecida como Beco da Khautz. Conforme Simone, esse local não dava valor aos produtos, que carregam uma tradição e representam a cidade até fora do Rio Grande do Sul:
— Realmente não era um lugar agradável, que chamasse o público e nem que fizesse jus ao trabalho que a gente faz. Por isso, esse novo espaço não é importante para as doceiras, é importante para Pelotas, para o povo pelotense, porque a gente recebe pessoas de fora o tempo inteiro.
A prefeita da cidade, Paula Mascarenhas, concorda que o espaço anterior era muito precário e não estava na altura da tradição doceira da cidade, que é um ativo econômico tanto pela comercialização dos doces quando pelo turismo. Ela comenta que a pandemia fez com que o projeto demorasse mais do que o previsto para ser concluído, mas que a nova estrutura próxima ao chafariz foi bem recebida pela população e pelos turistas, que agora têm acesso mais fácil aos produtos da Capital do Doce.
— Estamos muito felizes, foi um projeto que deu certo por todos os lados que a gente avalie, com certeza é um atrativo a mais. Pelotas é uma cidade cultural e comercial, então, ter colocado no coração do comércio da cidade o nosso produto mais característico e tradicional foi um acerto, porque mexeu com a economia, com as doceiras e com o turismo — aponta Paula.
Seis bancas da nova Rua do Doce são ocupadas por doceiras associadas à entidade presidida por Simone, que é responsável pela gestão da estrutura. O sétimo espaço é utilizado por profissionais da Cooperativa dos Doceiros de Pelotas. As doceiras foram responsáveis pela compra dos balcões e dos móveis de suas respectivas bancas – que foram divididas em duplas ou trios – e também ficam responsáveis por custos como luz, água, segurança e limpeza. Segundo Lizandra Cardoso, diretora de turismo da Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Inovação do município, as doceiras não pagarão aluguel.
Ligia Maria Henriques, 75 anos, presidente da cooperativa, esclarece que o quiosque da entidade ficava separado das colegas associadas e que agora estão juntas, porque todas trabalham com o mesmo propósito. Também acrescenta que a mudança foi muito boa para todos:
— Nós estamos muito felizes, porque esse realmente é um ponto nobre, está no coração da cidade. Todo mundo que passa pelo Centro vê, está digno.
Boom nas vendas
A visibilidade que a nova estrutura deu ao trabalho das doceiras tem impactado diretamente no bolso dessas empreendedoras. Simone ressalta que o setor veio de um período bem ruim, devido à pandemia. Com a mudança, a demanda aumentou e está fazendo a economia girar.
Sandra Siqueira, 56 anos, trabalha com doces há quase três décadas e tinha uma banca no Beco da Khautz. Conforme a empresária, naquele espaço, vendia de R$ 400 a R$ 500 em alguns dias, enquanto que, no endereço atual, consegue vender até três vezes mais.
— Melhorou bastante. Graças a Deus, estamos conseguindo trabalhar, produzir e vender, e estamos sendo vistas. Nos primeiros dias, se chegou a vender entre R$ 3 mil, R$ 4 mil — conta a empresária, destacando que, no beco, as lojas da ponta comercializavam bem mais, mas na Rua do Doce, o movimento é equilibrado em todas as bancas:
— Eu ficava para o final (na estrutura antiga), então sempre vendia menos, mas aqui, todo mundo está vendendo. Uns vendem R$ 1 mil, outros R$ 1,7 mil, outros R$ 2 mil, mas é bom para todo mundo. Então, estou bastante feliz com a mudança.
A presidente da associação sinaliza ainda que o aumento das vendas ajuda a melhorar a autoestima das doceiras, além de gerar mais empregos, já que, para dar conta da demanda, muitas precisam contratar ajudantes, um resultado positivo para a economia do município.