Um país próximo ao Brasil, com bons destinos turísticos e, somado a isso, com uma moeda desvalorizada frente ao real. Esses são três dos atrativos que têm feito brasileiros buscarem a Argentina nos últimos meses. Dados do Ministério do Turismo do governo argentino indicam que os turistas do Brasil representaram 22% dos mais de 2,5 milhões de estrangeiros que visitaram o país no primeiro semestre deste ano.
O bom momento ocorre devido ao câmbio favorável aos brasileiros nos últimos meses, que faz com que o dinheiro do Brasil se valorize frente à moeda argentina. No momento, com R$ 1, é possível comprar 27 pesos argentinos, segundo a cotação oficial. No câmbio paralelo, os turistas do Brasil têm conseguido mais vantagens, de acordo com Diogo Joel Jagnow, proprietário da Andes Turismo, de Porto Alegre — porém, esta não é uma modalidade recomendada pelas autoridades (entenda mais abaixo).
— Tivemos grupos em que o pessoal conseguiu trocar 63 pesos por R$ 1 (no mercado paralelo). Os passeios ficaram mais em conta e tudo isso acelerou o turismo brasileiro na Argentina. Mesmo que as passagens aéreas estejam mais caras ainda, os serviços locais, shows de tango, comida, roupas estão com bons preços para o brasileiro — explica o empresário.
De acordo com Jagnow, nos últimos meses, a agência registrou aumento de 200% na procura por pacotes de viagens para o país vizinho. Regiões como a cidade de Mendoza, Patagônia e norte da Argentina são citadas por ele como alguns dos destinos preferidos deste momento.
O crescimento foi notado após fim das restrições de entrada no país devido à covid-19, no fim do ano passado. Assim, a demanda reprimida de turistas somou-se ao fato de a Argentina ser um destino histórico para brasileiros e também à valorização do real frente ao peso argentino:
— A Argentina sempre foi um país muito buscado, porque tem muitas coisas para conhecer. Tínhamos procura, mas não igual à dos últimos meses. Esse "pós-pandemia" é algo que nunca tínhamos visto. As ruas de Buenos Aires estão tomadas por brasileiros, pelo o que temos acompanhado — diz.
Real valorizado mesmo com a inflação
De acordo com Oscar Frank, economista-chefe da Câmara de Dirigente Lojistas (CDL) de Porto Alegre, o bom período para viajar para a Argentina está relacionado à taxa de câmbio, que tem sido favorável para a moeda brasileira. Ele cita um exemplo: no fim de 2021, com R$ 1, era possível comprar 18 pesos argentinos. Hoje, o mesmo equivale a 27 pesos argentinos, na cotação oficial. De acordo com o especialista, neste cálculo, é preciso incluir a inflação (aumento de preços) na economia do país vizinho.
— A inflação oficial (argentina) no acumulado do ano é de 46%, enquanto tivemos a valorização do real em relação ao peso argentino de 52% no mesmo período. Ou seja, ainda a conta é positiva (para a moeda brasileira), mesmo considerando a inflação oficial para o consumidor argentino. Essa situação consegue gerar um poder de compra interessante para o turista que está viajando para a Argentina — pontua.
De acordo com o economista, não há hoje nenhum país com uma situação similar à da Argentina: tão próximo ao Brasil e com registro de uma valorização tão grande da moeda brasileira frente à nacional.
E o poder de compra do dinheiro brasileiro pode ser maior na Argentina, se considerada a hipótese de converter o real em peso no chamado mercado paralelo. No entanto, a prática não é recomendada. Além disso, existe o risco de golpes em solo argentino, explica o economista-chefe da CDL de Porto Alegre:
— Muitas pessoas levam reais ou dólares e trocam por pesos no mercado paralelo, mas existe o risco de fraude de não receber os valores efetivamente. Se a pessoa não quiser correr nenhum risco, ela deve trocar o dinheiro no Brasil ou ir em uma casa de câmbio na Argentina.
Dicas do governo argentino
De acordo com a página de turismo do governo da Argentina, a troca de dinheiro pode ser feita em casas de câmbio ou entidades bancárias. É preciso apresentar RG ou passaporte para fazer a transação. Outro alerta é feito: é comum que turistas sejam abordados por pessoas que oferecem a troca de dinheiro. "Enquanto o preço do câmbio deles é mais atrativo, essas operações são completamente ilegais e para a sua segurança recomendamos somente trocar dinheiro em instituições autorizadas", orienta o material.
O governo argentino indica também que o turista troque o dinheiro em pequenas quantidades por vez, devido à instabilidade da moeda local, que pode se desvalorizar de um dia para o outro. Outra justificativa para evitar portar grandes somas de pesos argentinos é que, com a mudança da cotação, um turista pode ter prejuízo quando tiver de converter os valores para real, no momento do retorno ao Brasil.