O turista gaúcho ávido por colocar o pé na estrada terá de recalcular seus planos e permanecer mais um tempo dentro de casa. Da América do Sul à Ásia, os principais destinos internacionais seguem fechados para os brasileiros, por conta do coronavírus, sem perspectiva de retomar as boas-vindas.
Atualmente, o mais longe que um brasileiro consegue chegar, caso não tenha cidadania ou residência em outro país, é em uma das cidades fronteiriças com o Uruguai, como Rivera. O visitante, de carro, até pode circular pelo território vizinho, mas, ali adiante, uma barreira sanitária impedirá que avance país adentro.
Por todos os cantos do mundo, fronteiras de nações estão fechadas, e rotas aéreas, canceladas. Aos poucos, países da Ásia, Oceania e Europa têm reaberto o turismo para moradores e seus vizinhos. O Brasil, onde a crise do coronavírus está cada dia mais aguda, não tem sido convidado – a entrada de viajantes saídos daqui ainda está barrada por tempo indeterminado nos Estados Unidos, por exemplo.
— Há risco muito grande de, se continuarmos batendo recordes mundiais de mortes e contágio, ficarmos de fora da festa. Nos próximos meses, alguns países podem até liberar o acesso de brasileiros, mas mediante quarentena no local. Para o turismo, isso é mortal. Quem tem condições de se bancar durante 14 dias em um hotel, pagando em euro ou libra, para começar a curtir só depois? — pergunta Leonardo Cassol, economista e editor do site Melhores Destinos.
Uma das principais plataformas de promoções de passagens aéreas do país, a Melhores Destinos passou mais de dois meses sem publicar anúncios. Nas últimas semanas, recuperou suas atividades apostando em roteiros que, segundo Cassol, serão os primeiros a receber brasileiros. Entre eles, as populares praias do Caribe, como Cancún, no México, que devem reativar seus hotéis ainda neste mês.
Rotas domésticas
No ramo do turismo, acertado em cheio pelo coronavírus, há consenso de que a normalidade nas rotas internacionais acontecerá apenas com a descoberta da vacina contra a covid-19. Até lá, a volta das viagens a lazer terá de ser doméstica. E quanto mais perto de casa, melhor.
— Desconheço países que, neste momento, estejam sem restrições. Brasileiros só estão conseguindo viajar para fora se tem cidadania, residência ou visto de trabalho — afirma a presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens no Rio Grande do Sul (Abav-RS), Lúcia Hoffmann Bentz. — Acho que, assim como a Europa está reabrindo para os europeus, o Brasil terá de ser explorado pelos brasileiros.
Preocupado com a paralisia, o setor lançou, na semana passada, o movimento Supera Turismo Brasil. Um de seus idealizadores, o empresário Aldo Leone afirma que a ideia é estimular a compra antecipada de viagens nacionais e elaborar um plano sanitário para passeios seguros:
— Pedimos que o brasileiro viaje pelo Brasil. E rápido. Isso não significa que ele tenha de viajar amanhã. E, sim, que tem de comprar amanhã para viajar quando quiser. Aqueles que, agora, quiserem investir em uma ida à Tailândia… Não vai rolar.
Volta ao mundo da pandemia
Cenário nos países mais procurados por brasileiros (por continente), segundo o Melhores Destinos
AMÉRICA DO SUL
Argentina – No interior do país, a quarentena começou a ser flexibilizada nesta segunda-feira (8). Em Buenos Aires, no entanto, seguem valendo regras rigorosas que requerem, por exemplo, permissão especial para sair de casa. Todos os voos domésticos e internacionais estão suspensos, ao menos, até 1º de setembro. A fronteira terrestre também está fechada.
Chile – Todas as fronteiras terrestres, marítimas e aéreas estão fechadas desde a segunda quinzena de março. Ainda não há previsão de reabertura.
Colômbia – Voos internacionais estão proibidos até 31 de agosto. Já os domésticos seguem suspensos até 30 de junho.
Peru – As fronteiras permanecem fechadas. Há expectativa de retomada de voos internacionais a partir de agosto. Buscando recuperar o turismo local, o país anunciou a entrada gratuita em reservas naturais, incluindo Machu Picchu, a funcionários públicos, crianças e idosos peruanos, de julho a dezembro.
Uruguai – Voos internacionais seguem suspensos no país. Nas cidades que fazem fronteira com o Brasil, a entrada de brasileiros está liberada.
AMÉRICA DO NORTE
Canadá – Está proibida a entrada de passageiros no país, e a fronteira com os Estados Unidos seguirá fechada, ao menos, até 21 de junho.
Estados Unidos – Desde o final de maio, a entrada de estrangeiros saídos do Brasil está barrada nos Estados Unidos. A retomada, de acordo com o governo americano, depende da melhora da situação da pandemia no Brasil. Símbolo do turismo no país, o Walt Disney World tem planos de reabertura total na metade de julho, seguindo uma série de protocolos – visitantes não poderão abraçar o Mickey, por exemplo.
México – Destinos populares do Caribe, como Cancún, tinham planos de reativar hotéis na primeira semana de junho. Por causa do aumento no número de casos de coronavírus, a previsão foi adiada, mas pode ocorrer ainda neste mês.
EUROPA
Alemanha – Por terra, as fronteiras com França, Suíça e Áustria estão parcialmente abertas para casos pontuais, como visitas a familiares e tratamento de saúde. A partir do dia 15, o país deverá relaxar completamente suas fronteiras para países da União Europeia. A Alemanha segue proibindo viagens de fora do bloco até, ao menos, 14 de junho.
Espanha – Residentes espanhóis e profissionais da saúde, entre outras categorias, estão liberados para acessar o país, mas precisam permanecer em uma quarentena de 14 dias, saindo apenas para necessidades especiais. Fechadas desde março, as fronteiras devem ser liberadas para o turismo a partir de julho. O Museu do Prado, em Madri, reabriu no último sábado (6), mas com apenas 20% de seus quadros em exibição. Visitantes só podem entrar se comprarem ingresso pela internet e se submetendo a um teste de temperatura.
França – Até 15 de junho, as fronteiras seguem fechadas, exceto para pessoas que necessitam se deslocar a trabalho. No último sábado (6), a reabertura do Palácio de Versalhes, em Paris, marcou a retomada do turismo no país. Porém, apenas para moradores. A aguardada reabertura do Museu do Louvre foi marcada para 6 de julho, seguindo novas regras para visitação. Entre elas, a exigência de reservas com antecedência.
Grécia – O país anunciou a reabertura de seus aeroportos, a partir de 15 de junho, para turistas de 29 países, incluindo 15 da União Europeia – o Brasil ficou de fora da relação. Voos internacionais devem ser liberados a partir de 1º de julho.
Holanda – À exceção de residentes, entre outros, as fronteiras do país estão bloqueadas. Passageiros que entram na Holanda têm de cumprir quarentena de 14 dias.
Inglaterra – Sem fechar suas fronteiras, a Inglaterra está exigindo quarentena obrigatória de 14 dias para qualquer pessoa que chegue ao país.
Itália – Epicentro da pandemia na Europa, a Itália reabriu suas fronteiras para turistas da União Europeia no último dia 3. O retorno, contudo, foi cercado de polêmica _ na Sardenha, o governo propôs um "passaporte sanitário" para comprovar que os turistas não estejam contaminados. Local mais visitado da Itália, o Coliseu reabriu no último dia 1º após quase três meses de fechamento. Reservas passaram a ser obrigatórias e, na estreia, apenas 300 pessoas foram ao anfiteatro.
Portugal – O acesso ao país está liberado desde o último sábado (6) para a União Europeia, à exceção da Espanha e Itália. Para a recuperação do setor, o governo anunciou um plano de 20 milhões de euros para o lançamento e o desenvolvimento de rotas turísticas.
Turquia – Sem previsão de permitir a entrada de passageiros do Exterior, a Turquia segue com voos internacionais suspensos, ao menos, até 10 de junho. O país tem liberado, aos poucos, seus pontos turísticos – no último dia 1º, o Grande Bazar de Istambul reabriu após mais de dois meses fechado.
ÁFRICA
África do Sul – Permanecerá com as fronteiras fechadas para o turismo até fevereiro de 2021, anunciou, na semana passada, o governo sul-africano. O turismo interno deve ser retomado no final deste ano.
ÁSIA
Emirados Árabes Unidos – Restaurantes e shoppings estão funcionando, com capacidade reduzida, no país. Os voos diretos entre São Paulo e Dubai devem ser reativados em julho, enquanto do Rio de Janeiro para Dubai, no final de agosto.
Israel – À exceção de residentes permanentes e cidadãos, a entrada de passageiros em Israel segue suspensa. No início de maio, o país deu início ao retorno do turismo doméstico, permitindo o acesso a parques e atividades ao ar livre.
Japão – Está com a entrada de passageiros que passaram, nos 14 dias anteriores, por uma lista de países, proibida, incluindo o Brasil. Recentemente, o governo japonês anunciou um programa de subsídios de mais de 12,5 bilhões de dólares para incentivar o retorno do turismo. O plano irá financiar metade dos gastos de viagem e, em um primeiro momento, será destinado a japoneses.
Tailândia – O país reabriu seus aeroportos no início de maio, além de uma série de outras atividades, como restaurantes. Já os voos internacionais estão suspensos, ao menos, até 30 de junho.
OCEANIA
Austrália – A entrada de passageiros está proibida, sendo liberada apenas para residentes. Em parceria com a Nova Zelândia, a Austrália programa um "corredor" de viagens entre os dois países, possibilitando o livre trânsito de turistas.