Você está na praia, cercado de areia branca. Uma brisa fresca passa, gentil, vinda das águas cor de turquesa, bem ali a seus pés. Você beberica aquela piña colada, tirando o guarda-sol minúsculo que enfeita o copo. O som das ondas embala um quase cochilo, enquanto você pensa: "Isto é que é vida. Acho que nunca mais vou embora."
Ou você está na praia. Pelo menos acha que é uma, já que cada centímetro quadrado está tomado por gente. Pela décima vez em cinco minutos, tira areia do cabelo, que foi parar ali graças aos chutes do bando de adolescentes que não sossega e não para de gritar ao lado. Além da orla rochosa se encontra um mar tão encapelado e cheio de correntes que é impossível nadar em segurança. Dois alto-falantes, cada um de um lado, tocam músicas que você detesta a volumes ensurdecedores.
Tenho certeza de que você pode imaginar a decepção, depois de planejar uma viagem durante meses, na expectativa de se ver na primeira praia, de chegar à segunda. Duas semanas no meio de uma muvuca terrível, preso a um quarto de diárias não reembolsáveis em um lugar miserável.
Para isso, há solução: faça reserva apenas para os primeiros dias. Embora eu saiba que para a maioria dos viajantes, principalmente os que saem com a família, uma falta de planejamento radical assim seja impossível, quase desaconselhável, recomendo fortemente que você pense em se planejar menos, mesmo que seja para deixar pelo menos uns dias em aberto.
Planejar menos não leva ao caos
Várias semanas antes da minha primeira aventura mais longa, achei que seria mais prudente fechar o itinerário para o mês todo: reservei albergues, voos e até um tour de duas semanas pelo Sudeste Asiático. O problema foi que, na minha primeira parada, em Melbourne, eu me vi no meio de um grupo incrível e me diverti horrores – e o pessoal ficou na cidade e tive de seguir viagem. O mesmo aconteceu na semana seguinte, em Brisbane. Perdi tanta coisa bacana que jurei a mim mesmo nunca mais reservar nada com tanta antecedência.
Útil também foi a possibilidade de poder ir embora mais cedo de lugares dos quais achei que fosse gostar, mas não curti.
Há cinco anos que só planejo dois ou três dias à frente, o que acaba resultando em oportunidades incríveis. Em Cherbourg, na França, por exemplo, fiquei uns dias a mais em um apartamento aleatório, mas fantástico. Cruzei a Inglaterra de carro com amigos, mas conheci gente nova, com quem pude passar mais tempo. Útil também foi a possibilidade de poder ir embora mais cedo de lugares dos quais achei que fosse gostar, mas não curti.
Seja flexível
Surpreendentemente, esse método raramente gera problemas, embora exija flexibilidade de vez em quando. Talvez seja o albergue lotado, o melhor voo que é caro demais ou a balsa que já está cheia – mas, se você estiver decidido a ficar em um hotel específico ou pegar um determinado voo, vai conseguir encontrar opções bem próximas das escolhas iniciais.
Uma exceção digna de nota são as excursões a várias ilhas. Esses voos e barcos/balsas lotam rápido, portanto talvez não seja aconselhável deixar para o último minuto. Alguns países, principalmente os insulares, exigem que você já tenha reservado o voo de volta na chegada, como também a acomodação para a primeira noite, pelo menos.
Planejamento durante a viagem
Para que isso dê certo, você tem de ter a capacidade de fazer as reservas ao longo da viagem. O primeiro passo, essencial, é ter um telefone que funcione, com cobrança de taxas mínimas de roaming; a partir daí é só uma questão de usar aplicativos como Orbitz, Hostelworld e Airbnb para encontrar algo novo. O Rome2Rio pode ajudá-lo a descobrir como chegar lá, usando os meios de transporte disponíveis para o trecho. Vale a pena também questionar o pessoal local e outros viajantes com quem cruzar pelo caminho.
Vale a pena tentar
Se você faz questão de fazer uma excursão concorrida ou se hospedar em um hotel específico, não confie na sorte, mas, se está indo viajar disposto a ficar em qualquer hotel e pegar qualquer voo, vale a pena deixar alguns dias em aberto.
Se for uma viagem de duas semanas, faça reserva para os dois ou três primeiros dias e talvez a última noite. Depois do primeiro momento, você já terá uma ideia muito melhor da sua localização, do que quer dela e, quem sabe, achar outra ou um lugar melhor para ficar. Por exemplo, depois de quatro dias em um resort horroroso, você pode descobrir que aquela praia que realmente queria fica do outro lado da ilha.
A descontração e as piñas coladas estão à sua espera.
Por Geoffrey Morrison