No fim de semana antes do Natal, a diária do Ritz Carlton Bachelor Gulch, o hotel luxuoso que é destaque do resort de esqui Beaver Creek, no Colorado, sai por US$ 1.489; em julho, vai para US$ 659, mas, em um sábado recente, eu e minha mulher pagamos US$ 189 por um quarto bem parecido. Tivemos de desembolsar US$ 30 a mais pelo serviço de estacionamento com valet, mas o café da manhã estava incluído e, com os tratamentos do spa pela metade do preço, gastamos apenas US$ 80 por meia hora em uma banheira de cobre para dois, incluindo champanhe, robes, chinelos e música new age.
Adoro as cidadezinhas do esqui logo depois do fim da alta estação, durante o que o pessoal local chama de "temporada de lama". (A expressão é muito suja para Aspen, que prefere chamá-la de "temporada secreta".) Durante mais ou menos dois meses, as beatíficas vilazinhas nas montanhas se veem vazias, os hotéis chiques se tornam acessíveis, as promoções do tipo "beba até esvaziar o bar" surgem e as lojas vendem tudo pela metade do preço.
É claro que não dá para esquiar, mas o que não falta é atividade opcional. O Strawberry Park Hot Springs, por exemplo, pertinho de Steamboat Springs, oferece piscinas rochosas a 40 °C de várias formas e tamanhos. Em Aspen, o derretimento inicial do gelo leva a corredeiras bravas e 20 por cento nos pacotes com rafting ao longo dos rios Roaring Fork e Colorado. Em Breckenridge, o visitante pode se preparar para as eventualidades climáticas levando consigo tanto a bicicleta como o sapato de neve, explorando a pé as trilhas dos Lagos Mohawk, acima da cidade, ou os Flumes, ao norte, em cima da magrela.
O esquema se repete depois do feriado do Labor Day (que, este ano, cai em dois de setembro), principalmente em outubro, mas aí fica mais lotado e caro por causa dos "leaf-peepers", como são conhecidos aqueles que querem conferir as cores do outono. Em fins de abril, por exemplo, você tem o lugar só para si.
Em nossa escapada recente de fim de semana, saindo de Denver, passamos a noite de sexta no Steamboat Grand por US$ 120 (em julho, a diária custa US$ 229), onde encontramos apenas outro casal. No sábado de manhã, olhando pela janela do nosso quarto, no quinto andar, na direção do Monte Werner, ainda coberto de neve, vi um único carro (um veículo de manutenção) e uma pessoa (um corredor) na rua.
"Está tão tranquilo. Dá para atravessar a Lincoln Avenue, não tem trânsito. No feriado do Quatro de Julho a cidade vira um congestionamento só, de ponta a ponta. Durante a temporada de lama, dá para entrar em qualquer restaurante e sentar sem espera. Não tem ninguém", comemora David S. Criste, quiropraxista de Steamboat que atende esquiadores lesionados e cavalos.
Chegamos a Steamboat de carro, em meio a um aguaceiro, e jantamos no primeiro restaurante que vimos – o Mazzola's, onde as refeições para duas pessoas, com um copo de vinho cada, saíram por US$ 70. Nada mau, mas também não é barato. Em seguida, vimos a placa "Temporada de Valorização Local" na frente do The Barley, bar que fica na rua principal, a Lincoln Avenue. Lá dentro, puxamos as banquetas ao balcão, ouvindo o trio que fazia covers do rock 'n' roll e pedimos os drinques do happy hour estendido, que vai das três da tarde às oito da noite – com o copo de cerveja a US$ 4,50 e o vinho, a US$ 5.
Não demorou para darmos de cara com todo tipo de pechinchas – como o refil de café a US$ 1 no Powder Day Donuts, os vinte por cento de desconto nas bijuterias e lembrancinhas da Remember Me, e os US$ 10 por um hambúrguer com fritas e uma cerveja Montucky Cold Snack no Back Door Grill.
Para o jantar de sábado fomos a Vail, a vilinha projetada para receber as hordas esquiadoras, que estava maravilhosamente deserta. Um estacionamento que vive normalmente entupido estava às moscas. O requintado Terra Bistro, no Vail Mountain Lodge, reduz os preços de seus pratos principais e drinques entre 35 e 50 por cento nesta época do ano; assim, pedimos salada, frango, dois copos de vinho e bolo de milho com mirtilo de sobremesa por US$ 85. Quando saímos, lá pelas dez da noite, para dar uma volta pela praça, todas as lojas e restaurantes estavam fechados, e as ruas, desertas, com exceção de um grupo de garotas à procura de um bar aberto.
Veja aqui o que está disponível durante a temporada de lama em algumas das cidadezinhas de esqui mais descoladas do Colorado:
Aspen
A opção mais exclusiva e badalada do Colorado se torna perfeitamente acessível durante a baixa estação – que, segundo o pessoal local, vai de meados de maio a meados de junho. Segundo a Câmara de Comércio municipal, os preços das acomodações chegam a ser 40 por cento mais em conta do que no período de alta, incluindo as mais bem localizadas, como o Hotel Aspen (US$ 119 pela diária no fim de semana em maio) e até o Hotel Jerome, um dos mais luxuosos do estado (cuja diária chega a US$ 275 em maio; em julho, custa US$ 518).
O restaurante franco-americano Betula Aspen, com vista para a Montanha Ajax, oferece um jantar de três pratos a US$ 59 de 10 a 31 de maio; o Mezzaluna tem promoções diárias com pizzas a US$ 13 no almoço durante toda a primavera. Só não vá a Aspen durante a temporada de lama (ou secreta) para fazer compras: praticamente todas as promoções acabam com o esqui.
Breckenridge
Segundo o Escritório de Turismo de Breckenridge, as diárias dos hotéis chegam a ficar 48 por cento mais baratas em junho, em comparação ao inverno.
As encostas ficam abertas até 27 de maio, mas Breckenridge já anuncia sua temporada de lama, oferecendo "passaportes gastronômicos" de US$ 10 por promoções como a cerveja de US$ 2 e o saquê por US$ 1 no Blue Fish, duas entradas pelo preço de uma na Breckenridge Brewery e uma refeição de quatro pratos a US$ 25 no Carboy Winery. Segundo o Escritório de Turismo de Breckenridge, as diárias dos hotéis chegam a ficar 48 por cento mais baratas em junho, em comparação ao inverno.
Crested Butte
Durante grande parte do mês de maio, a cidade em tons pastel, aninhada nas florestas montanhosas entre Aspen e Gunnison, recebe principalmente o pessoal da região. O restaurante The Last Steep serve Pabst Blue Ribbons (costeletas) a US$ 2, bloody marys de US$ 6, margaritas pelo mesmo preço e hambúrgueres a US$ 8. O Teocalli Tamale oferece duas margaritas pelo preço de uma o dia todo. A diária dos hotéis pode chegar à metade do preço praticado na estação de esqui ou no verão, incluindo a do hotel mais luxuoso, o Grand Lodge Crested Butte Hotel & Suites, a US$ 90; em julho, não sai por menos de US$ 190.
Telluride
O número de visitantes cai drasticamente nessa aldeia do sudoeste do Colorado; por isso, a maioria dos bares e restaurantes fecha, como também o bondinho que faz o transporte entre Mountain Village e a rua principal, a West Colorado Avenue. Alguns estabelecimentos permanecem abertos para os moradores, incluindo o Rustico Ristorante, que serve entrada e prato principal por US$ 25 nas noites de terça e quinta, e o Smuggler Union, que oferece dois hambúrgueres pelo preço de um para quem pedir.
"Não tem outro jeito de descrever; vira uma cidade fantasma mesmo. Mas adoramos isso", revela Tom Watkinson, vereador e diretor de comunicações do Visit Telluride.
(Steve Knopper escreve sobre a indústria da música para a "Billboard" e é autor de "MJ: The Genius of Michael Jackson".)
Por Steve Knopper