Milhares de andarilhos dirigem-se às Montanhas Brancas de New Hampshire todo ano para se hospedarem nas pousadas de montanha do Appalachian Mountain Club (AMC). Acessíveis apenas a pé e ligadas entre si pela Trilha dos Apalaches, as oito pousadas oferecem uma hospitalidade rústica, mas confortável. Para famílias com crianças pequenas ou alpinistas sem tempo, habilidades ou equipamento para realizar uma expedição de mochila mais dura, a caminhada entre as pousadas torna mais acessível a região.
Nos últimos 15 anos, James Wrigley, de 34 anos, já teve quase todo tipo de emprego relacionado a pousadas, desde membro de equipe até diretor de pousada, seu cargo atual. Tinha três anos de idade quando esteve na pousada do Lago Lonesome pela primeira vez; depois disso, caminhou até lá com a família ou com amigos quase todo ano.
"Quando eu era criança, as pousadas me permitiam ficar ao ar livre muito mais do que eu conseguiria de outra forma", conta Wrigley. Ele agora espera que seu próprio filho de três anos esteja disposto a fazer a caminhada no próximo verão.
Segundo Wrigley, o convívio forjado nas pousadas é um dos aspectos especiais delas.
"É raríssimo ver um punhado de estranhos ao redor de uma mesa conversando sobre a vida", observa. "Jantar e brincar com todo mundo junto é uma experiência de fato maravilhosa."
Sobre as pousadas
As oito pousadas estão interligadas num trecho de 80 km da Trilha dos Apalaches. A pousada Madison Spring foi a primeira, construída em 1888. Outras pousadas foram se somando ou se modernizando à medida que sua popularidade aumentava ao longo dos anos. Hoje em dia, cerca de 30.000 pessoas por ano se hospedam nas pousadas.
Uma estada noturna, que inclui jantar e café da manhã, custa entre US$ 110 e US$ 175 por pessoa, com preços mais baratos em dias úteis. Filiados à AMC e hóspedes de três ou quatro noites obtêm descontos. Uma assinatura anual na AMC custa US$ 50 por pessoa e US$ 75 por família. Idosos e menores de 30 anos pagam US$ 25 por cabeça.
A temporada de serviço completo dura de maio até outubro nas pousadas de baixa altitude, e até meados de setembro nas pousadas mais expostas e de maior altitude. Nesse período, os andarilhos são recebidos pela equipe; esta embala suprimentos para os hóspedes e lhes fornece refeições quentes e atividades educativas. Fora da temporada, algumas pousadas permanecem abertas, mas só contam com um zelador; os hóspedes devem trazer suas próprias provisões.
Como planejar a viagem
Algumas pousadas são mais acessíveis a pé do que outras; por isso, você precisa levar em conta seu nível de condicionamento físico e o tipo de viagem que gostaria de fazer.
O "White Mountain Guide", publicado pelo AMC, agora em sua 30ª edição, é um recurso inestimável para planejar sua viagem. Algumas pousadas são mais acessíveis a pé do que outras; por isso, você precisa levar em conta seu nível de condicionamento físico e o tipo de viagem que gostaria de fazer. Você também pode ligar para a linha de reservas do AMC (603-466-2727) para obter informações.
As reservas para o verão geralmente estão disponíveis a partir de agosto ou setembro do ano anterior. Elas se esgotam rapidamente para fins de semana na pousada Lakes of the Clouds e em outras bem requisitadas; mas, em outras pousadas, você reservar no início da primavera.
Como chegar
O centro para visitantes em Pinkham Notch, perto de Gorham, em New Hampshire, administrado pelo AMC, é um ponto de partida conveniente para os andarilhos. Na lojinha do lugar, você encontra mapas de trilhas e guias bem informativos, e também algum ou outro apetrecho que você possa ter se esquecido de trazer. O centro está a três horas de Boston e a seis horas e meia de Nova York. Você pode deixar seu carro no estacionamento. A empresa de ônibus Concord também oferece traslado até Pinkham Notch a partir do Aeroporto Internacional de Logan ou da Estação Sul de Boston. Muitos andarilhos passam uma noite no Joe Dodge Lodge antes de iniciarem a caminhada de pousada a pousada.
Durante os meses de pico no verão, o AMC oferece transporte até alguns inícios de trilhas. A partir de Pinkham Notch, também é possível ir a pé diretamente até as pousadas Lakes of the Clouds e Madison Spring.
Na trilha
O trecho das Montanhas Brancas, na Trilha dos Apalaches, é um dos mais difíceis da América do Norte. Até mesmo os andarilhos que estão percorrendo a trilha completa retardam o passo quando chegam lá. Depois de trilharem uma média de 24 a 32 km por dia em outros trechos, eles só conseguem administrar de 11 a 13 km nas Montanhas Brancas.
A lentidão é resultado do terreno extremamente irregular e das trilhas que sobem as montanhas em linha reta, ao contrário de outras cadeias montanhosas, que têm trilhas abertas em ziguezague para deixar a subida menos íngreme. Mas, para quem se dispõe a enfrentar o terreno árduo, as recompensas são muitas: vistas panorâmicas deslumbrantes da Reserva Pemigewasset, as Montanhas Presidenciais e, para os mais intrépidos, a chance de escalar o Monte Washington, um dos picos mais altos da costa leste.
A distância entre pousadas não costuma ser maior do que 13 km. Geralmente, é muito menos.
Nas pousadas
Após um longo dia de caminhada, é um alívio avistar a luz acolhedora de uma pousada na montanha. Chegando à pousada, você faz o check-in com um membro da equipe, que lhe passa as orientações. Cada pousada tem uma área comum e um ou mais dormitórios com beliches. É recomendável escolher uma cama e guardar seus pertences no dormitório – como não há quartos privados nas pousadas, você precisa ir preparado para conviver com estranhos. Há cobertores de lã e travesseiros (mas não fronhas); os calorentos se dão bem no verão. Muitos andarilhos também levam um lençol leve ou um saco de dormir. Nos meses mais frios, um bom saco de dormir é essencial.
Os banheiros são separados por sexo e contam com vasos sanitários de compostagem (que não cheiram muito, na verdade) e pias para escovar os dentes e se refrescar. Não há chuveiros nem toalhas.
Há pão fresco, lanches, chá e café para quem quiser se servir, além de uma abundância de jogos de tabuleiro e livros para passar o tempo. Um jantar substancioso é servido comunalmente às 18h, por isso prepare-se para conhecer seus companheiros de caminhada. Após o jantar, a equipe oferece palestras educativas sobre temas que vão desde vegetação alpina e florestas boreais até o sistema hidrelétrico usado numa das pousadas.
A hora de dormir chega cedo: as luzes se apagam às 21h30 e pede-se silêncio até as 6h30 da manhã. Se você não acordar com o raiar do dia, a equipe da pousada se encarrega disso cantando ou recitando um poema.
A previsão do tempo para o dia é transmitida via rádio a partir do observatório do Monte Washington e anunciada durante o café da manhã, servido às 7h. Um esquete cômico instruindo os hóspedes a não deixar vestígios, como manda a etiqueta, precede a limpeza.
O que levar
O site do AMC descreve o que você precisa levar para trilhar as Montanhas Brancas. Além de enumerar os 10 itens essenciais, o clube também dá uma lista mais abrangente de equipamentos que deixarão sua viagem mais confortável.
Alguns itens que vale a pena ressaltar:
Moleskin: Não, não estamos falando do caderno, mas de um protetor adesivo que previne bolhas. Se você já é um andarilho experiente, é provável que nunca saia de casa sem ele.
Bastões de caminhada: O terreno íngreme e irregular das trilhas das Montanhas Brancas castiga até os joelhos mais fortes, e pode ser difícil manter o equilíbrio e evitar quedas sem o auxílio de dois bastões.
Tampões de ouvido: Quase sempre há um ou dois roncadores no dormitório.
Dinheiro: Podem-se comprar lanches, sopa quente e acessórios de trilha em qualquer uma das pousadas. As equipes também aceitam gorjetas em dinheiro.
Lanterna de cabeça: Usar uma lanterna de cabeça é fundamental para encarar a noite na pousada, além de evitar problemas caso você se pegue caminhando após o anoitecer.
Por Emma L. McAleavy