Em 1868, após mais de dois séculos de isolamento, a abertura do porto de Kobe gerou uma onda de influências internacionais sobre essa cidade ensolarada, situada na ilha japonesa principal de Honshu. Nos dias de hoje, o visitante encontrará ali mansões em estilo ocidental erguidas por diplomatas estrangeiros, música influenciada pelos EUA e dim sum em Chinatown, mas as principais atrações permanecem arraigadas na região. Kobe também é a vizinha ocidental de destinos turísticos mais badalados – Kyoto fica a menos de meia hora no trem-bala Shinkansen; Osaka, a quinze. Embora seja mais conhecida pela carne, quem se hospeda nessa metrópole receptiva e de grande mobilidade também descobrirá um cenário musical singular, museus memoráveis, opções de compras ecléticas, especialidades regionais pouco conhecidas e uma atmosfera tranquila que se funde aos sabores estrangeiros que continuam a fluir graças ao seu porto movimentado.
Sexta, 15h00
Museu instrumental
Não se deixe enganar pelo nome do Museu de Ferramentas de Carpintaria Takenaka; até quem não sabe a diferença entre uma chave Phillips e uma Torx ficará encantado com as mostras dessa bela instituição, pertinho da estação Shin-Kobe. O audioguia soberbo no iPod (gratuito) narra a história e fala das tradições, do capricho e da arte presentes na arquitetura e no trabalho com madeira dos japoneses; vale a pena reservar algumas horas para explorar tudo, desde os deveres cerimoniais de um mestre carpinteiro e as vigas centenárias dos templos locais até as intricadas treliças de madeira no estilo kumiko zaiku. Ingresso a 500 ienes, ou cerca de US$4,50.
17h30
Atrás de cachoeiras
Saindo da estação Shin-Kobe você dá de cara com a paisagem urbana, mas atrás dela quem manda é a natureza. Dê a volta no prédio, que fica lado a lado com as encostras verdejantes, e siga pela trilha que o levará, a menos de um quilômetro de distância, às Cataratas Nunobiki, uma série de cachoeiras majestosas que vale cada passo da caminhada cansativa.
19h30
Jantar de pé
Desenferruje seu japonês antes de entrar no Rakuzake, um bar sem mesas animadíssimo inaugurado, em abril de 2018, em uma galeria do centro. Ponto de encontro local, com balcões de madeira clara e arranjos florais coloridos, a casa serve pequenas porções harmonizadas com drinques, ou melhor, nihonshu (saquê). Peça um copo e várias opções, como as fatias gorduchas de sashimi de salmão e atum, quem sabe um tofu geladinho e, para equilibrar, uma porção de polvo frito escaldante. Na segunda rodada, não deixe de provar o karaage (frango frito), servido com repolho fresco e uma boa dose de maionese Kewpie. O jantar para dois sai por 3 mil ienes.
21h30
Jam session
Graças às influências estrangeiras, há tempos Kobe desenvolveu o ouvido para o jazz – inclusive diz a lenda que a primeira banda japonesa foi formada ali em 1923. A cidade abriga um festival anual e há shows animados toda noite em diversos clubes espalhados pela cidade, como o aconchegante Sone. Se quiser uma palhinha da música sem ter que desembolsar o preço salgado da entrada, desça um andar e entre na Jam Jam. Cafeteria durante o dia e café jazzístico à noite, o estabelecimento oferece uma vasta coleção de discos de vinil de new wave e clássicos do jazz de todas as partes do mundo, além de uma ótima seleção de uísques nacionais e cabines separadas para quem quiser conversar (perto do balcão) e ouvir o som (de cara para os alto-falantes).
Sábado, 10h00
Direto da fazenda
Eat Local Kobe, a iniciativa da comunidade local, estimula os moradores a consumir os produtos da região; por isso, promove a feira montada todo sábado pela manhã no Parque Higashi Yuenchi. Nos meses mais quentes, ali os produtores vendem frutas, legumes e verduras, ervas e especiarias, mel, ovos, tofu, sucos e muito mais. Se não quiser depender da temperatura, siga para a versão permanente, a Farmstand, inaugurada no ano passado, que também oferece delícias como morangos maduros, tomates da Tanishita Farm, Camembert da Laitiere Yuge. Se bater a fome, no café ao lado há guloseimas saudáveis, vitaminas variadas, novidades sazonais e um sorvete delicioso.
Meio-dia
Parada da arte
Se você tiver tempo para visitar apenas um museu enquanto estiver na cidade, esqueça o Hyogo, projetado por Tadao Ando, e dê preferência a seu primo mais insólito: o Yokoo Tadanori, de arte contemporânea. Inaugurado em 2012, exibe as obras do filho da terra ilustre, o designer gráfico que virou pintor que lhe dá nome. Além dos silk-screens warholianos psicodélicos dos anos 60 pelos quais ele é mais famoso, as galerias também exibem suas pinturas mais recentes, incluindo a série criada em locais públicos (em cartaz até seis de maio). Ingresso a 700 ienes.
14h00
Paraíso do guioza
O guioza geralmente é servido com um molho ralo de molho de soja e vinagre que às vezes leva umas gotinhas de óleo de pimenta para dar picância, mas em Kobe o acompanhamento preferido desses bolinhos fritos é o molho de misô, rico em umami. Vá ao Hyotan, especializado no petisco desde os anos 50. São apenas oito lugares espremidos ao longo do balcão (procure pelo noren vermelho). Depois de se acomodar no banquinho, fazer o pedido é fácil, já que a única opção no cardápio é guioza, com sete unidades por porção (390 ienes). Além do molho de missô, há também óleo de alho, vinagre, molho de soja e de pimenta para quem quiser criar a própria versão.
15h30
Hora das compras
Há excelentes brechós e lojas de discos, pequenas galerias de arte, um designer de joias de prata e até um quiosque de impressão de camisetas.
Sob os trilhos das estações Motomachi e Kobe fica uma galeria curiosa, onde dá para garimpar verdadeiros achados como bolachões de vinil e o aquele controle esperto sumido do Nintendo de sua infância. Siga pela Motoko Town, como é chamada, para fuçar nas lojas de badulaques, com prateleiras abarrotadas de computadores do século XX, por exemplo, e fivelas de cintos kitsch, ou uniformes militares dos EUA e Alemanha. Há excelentes brechós e lojas de discos, pequenas galerias de arte, um designer de joias de prata e até um quiosque de impressão de camisetas. Perto da estação Kobe ela se transforma meio que em uma cidade fantasma, com apenas uma ou outra loja oferecendo brinquedos da era Showa e caixas de controles remotos usados; vale mais a pena começar pela outra ponta.
18h30
Direto da grelha
Muita gente visita a cidade só para provar in loco o Kobe beef, preparado das maneiras mais variadas em toda a cidade, desde barraquinhas de rua até restaurantes exclusivos como o Ishidaya. Porém, se você prefere algo mais leve, vá ao Hanare, uma casa intimista com apenas oito lugares especializada em sumibiyaki, ou preparo sobre a grelha. Comece com saquê e sashimi – mas em vez de oferecer o cardápio em inglês, o chef certamente vai sacar dos peixes do dia para que você escolha sua opção. Para os mais ousados, ali é o lugar parar provar o torisashi, ou sashimi de frango. Se quiser algo mais familiar, o yakitori – momo (coxa), hatsu (coração), kawa (pele) – e a especialidade da casa, uma seleção lindamente disposta de legumes chamuscados. Jantar para dois a 9 mil ienes.
21h00
Saideiras
Depois do jantar, prove as cervejas artesanais locais no In Tha Door Brewing, um dos poucos pubs especializados na bebida da cidade. O espaço de clima industrial, em concreto e madeira, serve opções produzidas no local, como a Shiroinon White Ale (taxa de ocupação, 300 ienes). Vale também seguir para o Minato Hutte, pequena pousada com bar no térreo, lotado de destilados locais. A pedida ali é o gim-tônica na versão com Ki No Bi, cítrico, com tons de yuzu e cipreste da pequena Kyoto Distillery. Antes de encerrar a noite, passe pelo Taco Stand Anga, uma portinha minúscula com decoração colorida que vende tacos, drinques e um petisco minúsculo chamado dagashi.
Domingo, 10h00
Montanha acima
Eleve-se acima das copas das árvores a bordo do Shin-Kobe Ropeway, um bondinho que leva os passageiros montanha acima, a um deque de observação com visão panorâmica da cidade (1.500 ienes ida e volta). Depois de admirar a paisagem, que nos dias claros revela até o Mar Interior de Seto, você pode se aventurar em uma caminhada no meio da floresta ou explorar o Nunobiki Herb Gardens, cuja flora sazonal inclui tulipas e nasturtium na primavera, girassois e lírios no verão e as folhas vermelhas tradicionais do outono.
12h30
Pausa para o café
Em uma viela sossegada atrás do Templo Ikuta, faça uma parada no Beyond Coffee Roasters, uma excelente operação de microtorrefação com cafeteria própria do outro lado da rua. Inaugurada no ano passado, a casa, com balcão de madeira trabalhada e paredes coloridas, é adorável, mas não tem mesas; por isso, se estiver cheia, vale mais a pena pedir um expresso com tônica para viagem. Se não estiver com pressa, espere pacientemente pelo café coado que pode ser preparado por Bunn, cujo bigodão inspirou o logotipo do estabelecimento.
14h00
Museu e memorial
Em 17 de janeiro de 1995, às 5h46, Kobe e a área ao seu redor foram arrasadas por um terremoto poderoso que deixou mais de seis mil mortos e destruiu quase 250 mil casas. Para compreender o trauma que se abateu sobre a cidade, visite o Great Hanshin-Awaji Earthquake Memorial, um museu emocionante, dedicado a preservar as lembranças da tragédia e educar o público caso tenha de se preparar para/agir diante de uma ameaça natural. Apesar do tema assustador, o museu é educativo e interessante, e vive lotado de excursões escolares. Porém, aqueles que sofrem de vertigem e/ou ansiedade talvez prefiram pular a introdução, que reproduz em vídeo um abalo poderoso, com direito a sacolejos e som ambiente. Ingresso a 600 ienes.
Onde ficar
Praticamente ao lado da estação Motomachi, o Candeo Hotels Kobe Tor Road foi inaugurado no ano passado com 159 quartos minimalistas, sauna e casa de banho, saguão com uma vista adorável das montanhas e bufê de café da manhã com opções japonesas e ocidentais (3-8-8 Sannomiya-cho, Chuo-ku; candeohotels.com/kobe-torroad; diárias a partir de 10 mil ienes).
De frente para o porto, o Okura Kobe é ponto de referência da cidade, situado em um arranha-céu na orla com um saguão elegante, funcionários receptivos, diversos restaurantes e 475 quartos espaçosos, muitos com uma vista noturna espetacular do cais iluminado (2-1 Hatoba-cho, Chuo-ku; kobe.hotelokura.co.jp/en; diárias a partir de 10.500 ienes).
A região de Sannomiya, bem central, é ótima opção para aluguel de apartamentos, que geralmente inclui Pocket Wi-Fi, ou a versão portátil. A diária da versão com um quarto no Airbnb fica por volta de US$110.
Por Ingrid K. Williams