Há muito Bordeaux perdeu a fama de ser um fim de mundo, mas ainda é preterida por muitos viajantes interessados no circuito Paris-Provença. Aninhada em uma região vinícola e nas proximidades de áreas de cultivo de ostras, essa cidade elegante às margens do Garonne combina uma história como centro portuário próspero com uma ressurgência recente nas artes e infraestrutura, o que a tornou um destino atraente – e de dar água na boca –, de fácil locomoção, graças ao moderno sistema de bondinhos. E, com a inauguração do serviço de trens de alta velocidade, em 2017, ficou a apenas duas horas a sudoeste da capital francesa.
Sexta, 19h
Flutuando no rio
Sacuda a poeira da viagem e aprenda um pouco da geografia local durante um passeio de barco ao longo do Garonne, rio que atravessa a cidade antes de desembocar no Atlântico. Com uma hora e meia de duração, o Sardane, com quilha de aço e capacidade para 74 passageiros, oferece belas paisagens da arquitetura grandiosa do século XVIII à volta da Place de la Bourse e o chafariz de bronze e mármore que representa as Três Graças; os antigos galpões reformados do Quai de Bacalan; o imenso museu Cité du Vin; a maravilha da engenharia que é a ponte vertical Jacques Chaban-Delmas, tudo isso regado a dois ou três tipos de vinhos locais e tábuas de queijos e charcutaria. Adultos pagam 28 euros, ou cerca de US$ 31.
20h30
Música do lado de lá do rio
Pegue a Linha A do novo bondinho na Pont de Pierre e cruze o rio, descendo na margem direita, para se deparar com a Rocher de Palmer, casa de concertos e artes que oferece apresentações ecléticas de jazz, rap, música clássica e world music com ingressos entre 17 e 27 euros. De lá, volte para a Rue Notre Dame, para pegar a mesa que você já reservou no Chez Dupont, situado em uma viela do descolado bairro de Chartrons, para um jantar tardio que pode incluir steak frites, confit de pato ou linguado ao molho de manteiga e limão. O jantar para dois com vinho sai por volta de 100 euros.
Sábado, 9h
Força no pedal
Faça uma pausa no projeto de renovação urbana Darwin, considerado um núcleo ecológico, situado em um antigo quartel militar que hoje abriga um parque de skate, lojas pop-up, cervejarias e uma fazenda urbana.
Explore a cidade com a facilidade de uma bicicleta elétrica em um passeio guiado particular (duas horas, 50 euros). Comece cedo para evitar o tráfego de carros e pedestres – sem se esquecer do capacete que vem com a magrela –, passando pela monumental Catedral de Santo André; vire para o norte, atravessando a Place des Quinconces. Conte com a ajuda do motor para subir a ponte Chaban-Delmas e chegar à margem direita, menos desenvolvida. Faça uma pausa no projeto de renovação urbana Darwin, considerado um núcleo ecológico, situado em um antigo quartel militar que hoje abriga um parque de skate, lojas pop-up, cervejarias e uma fazenda urbana. Faça o caminho de volta cruzando a Pont de Pierre rumo à instalação Water Mirror, uma piscina de 2,5 cm de profundidade que reflete a paisagem e o céu antes de apagá-los em uma nuvem de vapor.
11h
Pausa para o bolo
Reponha as energias provando o canelé, bolo caramelado minúsculo, geralmente regado a rum, que é a especialidade local. Vendido em muitas patisseries, na "butique" Auguste K. Ele foge do tradicional, saindo da baunilha para ganhar versões como limão, laranja, cereja preta, chocolate e até opções sem glúten. Escolha alguns (o preço médio do pequeno é um euro) para acompanhar o café de alguma cafeteria da Place du Parlement.
Meio-dia
De olho nas vitrines
Encha os olhos – e, quem sabe, esvazie a carteira – com uma voltinha pela Rue Notre Dame, onde os fashionistas de plantão podem ir à Lily Blake ou Zazie Rousseau se quiserem roupas femininas, à Shoes Art se quiserem sapatos e echarpes suntuosas, e à Coutume para conhecer uma loja de ferragens para lá de moderna.
13h
Afiando a língua
Aprenda francês praticando as técnicas de corte e fatiamento com um curso rápido (17 euros) no Atelier des Chefs. As aulas são ministradas em um espaço de trabalho da cozinha, nos fundos de uma loja de produtos culinários, e os resultados são devorados no salão adjacente, com copos de vinho opcionais. Há várias opções de horário, por isso é bom checar antes. A aula da "pausa" do almoço de que participei, com franceses e norte-americanos, ensinou como preparar risoto de castanha em caldo com infusão de açafrão. A cópia da receita é enviada por e-mail depois da aula.
14h
La vie en vinho
Para conferir de perto os vinhos locais, tão badalados, invista no Wine Cab, um táxi preto londrino com chofer/guia bilíngue que vai pegá-lo ao lado da casa de ópera para uma tarde no interior. Aproveite a oportunidade de parar nas vinícolas centenárias de grand cru, pequenas e grandes (como o Château La Gaffelière, elegante e moderno, ou o Château Coutet, mais rústico, mas não menos charmoso), visitar as caves ou bater um papo com os produtores. As degustações são várias, e você pode saboreá-las sabendo que não terá de dirigir. Uma viagem de cerca de quatro horas para duas pessoas, incluindo uma parada no vilarejo medieval de St.-Émilion, fica em 450 euros.
19h
Cardápio estrelado
Invista em uma experiência gastronômica refinada, com direito a toalha branca e candelabro, na La Grande Maison, uma mansão neoclássica cujo restaurante é dono de duas estrelas do guia Michelin. Recentemente, passei por lá e saboreei uma refeição sazonal no salão da biblioteca que começou com robalo com mexilhões e maionese de couve-flor, e prosseguiu com vieiras em musse de endívia e nozes frescas, seguidas de uma caçarola de carne de porco pata negra assada com ervas. Para encerrar, cinco amostras de sobremesas impecáveis dos chefs Pierre Gagnaire e Jean-Denis Le Bras. Claro que o capricho, a qualidade dos ingredientes e a precisão do serviço têm um preço: o menu degustação de quatro pratos para uma pessoa sai por 145 euros. Quer harmonizar com vinhos? Ponha mais 95 euros nessa conta.
22h
Máquina de vender vinho?
Pare para aquela saideira no Le Vertige, no agitado bairro de St. Pierre. O wine bar, moderno e bem iluminado, tem um ambiente acolhedor e um sistema inteligente de pedidos no cartão que permite que você escolha o tamanho das porções para degustação de uma série de vinhos em uma máquina automática sofisticada e pague de acordo com o consumo. É uma maneira divertida de provar um ou dois copos de um grand cru caro sem ter de pagar pela garrafa inteira.
Domingo, 10h
Mercado de pulgas
As feirinhas de bairro e "brocantes" são ótimas para quem procura lembrancinhas diferentes. Se essa é sua intenção, vá à Place St. Michel, onde os vendedores oferecem, em estandes ou tapetes, o que esperam que você veja como tesouros de segunda mão – e que podem incluir bolachões de vinil, muita cerâmica e um conjunto de pente e escova banhado em prata da Servan, no estojo de couro original, forrado de cetim, ao lado da pintura do pastor alemão favorito de alguém em esmalte sobre metal. Por 5 euros, dá para subir os 230 degraus da torre do sino da Basílica de São Miguel e desfrutar de uma vista espetacular.
Meio-dia
Cidade do "Vinho, sim, por favor"
Há muita coisa para ver no La Cité du Vin, um museu impressionante inaugurado em 2016; para isso, há uma série de opções de tours com audioguia bem interessantes para adultos e crianças, com gráficos bem úteis e tradução em inglês. A chamada "The Essentials", por exemplo, inclui uma visão da história da produção de vinho e como Bordeaux – onde a bebida é feita desde o tempo dos romanos – se encaixa nela, além de vídeos nos quais vinicultores de diferentes países falam sobre seus terroirs. Já a "Juniors", para visitantes entre sete e doze anos, inclui um vídeo animado que mostra os romanos atravessando o mar levando vinho, e um "bufê para os cinco sentidos", com testes de olfato para identificar aromas e sabores na bebida. O ingresso de vinte euros dá acesso ao elevador para o observatório Belvedere, no oitavo andar, e inclui degustação.
14h
Uma pausa gastronômica
Saindo do museu, basta atravessar os trilhos para chegar ao Halles de Bacalan, uma praça de alimentação interna/externa com duas dúzias de opções, onde se podem provar as delícias gourmets locais. Peça uma porção de ostras fresquíssimas e um copo de vinho branco mineral, ou combine trufa e foie gras com um tinto robusto. Encerre a refeição com uma tábua de queijos ou uma musse de chocolate intensa. (O preço médio da dúzia de ostras com vinho é de 20 euros.)
Onde ficar
O que não falta em Bordeaux são imóveis para alugar por meio de empresas como Airbnb e Homeaway. (A primeira recentemente começou a oferecer um apartamento perto da casa de ópera por uma diária de US$ 150.) Uma opção independente é a pousada Chartrons Ecolodge (23 rue Raze; diária dos quartos duplos a partir de 125 euros), situada em um edifício com escadarias de pedra, ventiladores de teto, pisos de madeira e antiguidades. Ecologicamente correta, tem painéis solares e lâmpadas econômicas. O café da manhã, farto e preparado com itens orgânicos, é servido no pátio coberto.
Com vista privilegiada da Place du Parlement, o Villa Reale (9 Parliament Square; diária dos quartos duplos a partir de 300 euros) combina o conforto de uma casa bem projetada com a conveniência de sua localização central, em uma bela praça perto das principais estações de trem. A estrutura do século XVIII oferece cozinhas bem equipadas em três suítes com ar-condicionado. (Confira a lista de preços antes de sair estourando aqueles champanhes.)
La Course (69 rue de La Course; diária dos quartos duplos a partir de 185 euros) fica em uma rua silenciosa, praticamente ao lado do Jardin Public e da Linha C do bondinho que vai para a Gare St. Jean, no sul. A localização é excelente para quem quer explorar as butiques e os bares. Tem bicicletas, uma pequena academia e sauna, além de uma adega que organiza degustações. Alguns quartos têm pias duplas, banheiras gigantescas ou apenas boxes, sendo que um oferece também uma claraboia e piscina privativa na cobertura.
Por Susanne Fowler