Talvez você imagine que precise de anos de treinamento, ou mesmo de uma jornada espiritual, para usufruir dos benefícios da atenção plena (mindfulness) e da meditação – mas, na verdade, a essência da prática é bem simples, e suas técnicas podem resultar em alívio, ainda que pequeno, para muitas situações estressantes, inclusive as viagens.
— Estamos falando de uma versão ligeiramente mais sofisticada do conselho que sua mãe lhe deu, quando era criança, aquele do “respirar fundo” — explica o americano Dan Harris, âncora do programa da ABC Nightline e da edição de fim de semana do Good Morning America, autor de dois livros sobre o tema. — Você não precisa acreditar em nada. É um exercício bem simples, secular, para o cérebro.
Considerando-se que um dos efeitos mais conhecidos do emprego da atenção plena é a redução do estresse e da ansiedade, ao viajante não faz mal se valer do benefício.
— Há um volume sólido de pesquisas que mostram que a meditação ajuda a melhorar a saúde mental. E também ensina a pessoa a estar mais presente, ver a si mesma e os outros a partir de uma nova perspectiva, encarando a vida de forma mais vibrante, mais pacífica. Isso ajuda muito em qualquer aspecto, mas principalmente durante as viagens — afirma Megan Jones Bell, diretora científica do aplicativo Headspace.
Aqui vão algumas dicas de prática da técnica de atenção plena para tornar sua viagem menos estressante e mais agradável.
O que fazer quando batem o estresse e a ansiedade
Seja pelo medo de voar ou pela preocupação em perder o voo de conexão, muita gente se sente ansiosa quando viaja.
— A gente não pode controlar o atraso do voo, a perda da bagagem ou o congestionamento na rua. O que a meditação e a atenção plena fazem é ajudá-lo a aceitar o desconhecido, e até se beneficiar dele — diz Bell.
Para começar, concentrar-se na respiração rende muitos benefícios. Se voar é uma experiência particularmente estressante para você, Harris sugere reservar alguns minutinhos para esse exercício antes da decolagem, seja na espera para o embarque ou já afivelando o cinto:
— Concentre-se na sua respiração, puxe o ar fundo algumas vezes; isso gera um benefício psicológico, pois envia mensagens ao sistema parassimpático, como se o induzisse a relaxar, dizendo que está tudo bem.
A ideia é encarar seu pensamento nervoso sob outra perspectiva.
— O exercício o ajuda a perceber que é apenas um estado mental de preocupação, e que você pode se desligar dele, ainda que por um segundo, pois não tem controle sobre sua pessoa – completa Harris.
Procure meditar regularmente, mesmo que por alguns minutos
Para compreender melhor como a respiração consciente e outras técnicas meditativas podem ajudá-lo, é melhor praticá-las antes da viagem. E, se você conseguir desenvolver algo que se assemelhe a um hábito regular ou diário, os efeitos são ainda maiores.
— Qualquer tipo de exercício de atenção plena, seja ao longo de um minuto ou 10, ajuda a mente e o corpo — enfatiza Bell, que recomenda começar com um exercício curto e estendê-lo aos poucos.
Quem já medita regularmente deve tentar não exigir muito de si mesmo se não conseguir manter o programa regular durante a viagem. Harris alerta:
— Você está de férias, faça o que puder. Encaixe um exercício aqui ou ali, mas não de forma que faça você se sentir desconfortável, ou seu/sua parceiro(a) ou filho(s). Aí a coisa toda perde o sentido.
Reduza as distrações e aproveite o momento
A atenção plena e a meditação também podem ajudá-lo a apreciar o destino que você está explorando.
— Viajar é um processo de descoberta, de exploração, e a meditação o ajuda a concentrar-se nele, ou resistir à tentação de projetar o futuro e/ou ruminar o passado, que o distraem do que está acontecendo no aqui-agora, ou seja, aquilo por que você pagou para vivenciar — resume Harris. — As distrações que vêm com o smartphone, como as redes sociais e a tentação de fotografar cada momento, também roubam o prazer genuíno de aproveitar o presente. Não estou dizendo que é errado tirar uma selfie ou contar para os amigos onde você está; o importante é aumentar o prazer do agora e reduzir a preocupação com o status social.
Se tiver dificuldade em se concentrar no momento, você pode seguir a sugestão simples que Harris dá:
— Pergunte a si mesmo se aquilo é útil, se vale a pena. Se não for, fica mais fácil se desligar. Não é nem “brigar” com a vontade de fazer outras coisas; é mais uma questão de identificar esse ímpeto e descartá-lo, permitindo-se fluir de volta ao momento presente, aquele que você está tentando aproveitar.
Por Justin Sablich