Por Mylene Rizzo, especial
A Indonésia evoca superlativos: o maior arquipélago da terra, com mais de 17 mil ilhas; o mais populoso país muçulmano, com 250 milhões de habitantes; e uma nação transcontinental, com terras na Ásia e na Oceania. Não precisava muito mais para aguçar o desejo de conhecer mais um destino para futuros grupos do Viajando com Arte, mas o melhor veio depois. No convite, estava inclusa a estadia no Nihi Sumba Island, que ganhou por dois anos seguidos (2016 e 2017) o prêmio de melhor hotel do mundo pela renomada publicação turística Travel and Leisure.
Chegar à Indonésia é como imergir em um mar de culturas, um melting pot único e saboroso. As milhares de ilhas formam um petit pois de pontos escuros no profundamente azul e tépido Oceano Índico. No interior, cursos de água abertos em meio a plantações de arroz são como veias numa mata tropicalmente verdejante que seguem o traçado da linha do Equador.
A grande população muçulmana, que tem seu núcleo em Java, convive com o universo hinduísta e espiritualizado de Bali e com o animismo primitivo de Sumba.
Sumba revela uma comunidade cristã em meio a construções tribais de torres chamadas Menara, onde eles acreditam viverem seus antepassados. Criam búfalos e pequenos cavalos, que são o troféu dado como iniciação aos meninos na puberdade. O artesanato tem uma riqueza única, em objetos rituais feitos de ossos e conchas, peitorais quase como cocares invertidos. A vida mantém intacta sua vocação em um sistema de castas ancestral que identifica mas não discrimina.
É nessa comunidade que está o Nihi Sumba Island, numa ilha duas vezes maior do que Bali. Além de oferecer o conceito de sustentabilidade em construção e funcionamento, o complexo ainda prepara os moradores para trabalhar em quase todas as funções do hotel, mantém uma fundação que abre poços artesianos, alimenta as crianças da região e está erradicando a malária na ilha.
Tudo ali fala sobre luxo despretensioso, pés descalços mesmo, focado na experiência e no serviço, sem nenhuma ostentação. Cada vila é decorada com o artesanato local e prima pela privacidade. Cada cantinho é pensado nos mínimos detalhes, os banheiros têm duchas a céu aberto e banheiras com vistas estonteantes. Tudo convida ao romance, e não é à toa que o Nihi Sumba é um dos hot spots para lua de mel no mundo.
E as experiências! Nihiwatu é famosa por suas ondas perfeitas para o surfe, e esse é um dos pontos altos da estadia. Mas cavalgar em uma praia virgem de águas cristalinas ao pôr do sol ou curtir um tratamento de spa de frente para o mar em total privacidade não deixa ninguém triste por não saber surfar.
Para além de praias intocadas, está a floresta rica e densa, onde macacos espiam com curiosidade e aldeãos copiam motivos naturais em panos e sarongs. No mar, golfinhos nadam livres junto com seu maior competidor, o surfista.
Bali e o hinduísmo
Um idioma nacional congrega, e os dialetos de cada ilha mantém viva a tradição e as diferenças. Em Bali, em todos os dias do ano se celebra algum deus, de algum templo, e as festas abundam. A religiosidade é uma espécie de inscrição de pertinência. E a responsabilidade de manter a tradição cabe ao homem da família, que também recebe toda a herança. Meninas são “dadas” à família do marido e não têm direito ao patrimônio paterno.
Na cidade de Ubud, que visitamos, chega a ser proibida a construção de qualquer igreja cristã ou mesquita islâmica, para não macular o hinduísmo vigente.
A vida coletiva está acima do individual. Todos têm templos em casa, na comunidade e na confraria profissional. Sustentam e oferecem seu tempo à manutenção da espiritualidade.
A natureza é profícua, flores são usadas em oferendas e se oferecem belas e perfeitas. Frangipani é onipresente, mas não faltam bouganvilies, flamboyants, jasmins e todas as espécies de tumbérgias azuis e brancas, formando cortinados pendentes. Apesar do trânsito caótico, com motorbikes cruzando em todas direções, a natureza parece desdenhar e se manter virgem e exuberante. É uma terra tão rica em diversidade quanto em sensações, cores, reflexos e aromas.
Bali leva nosso pensamento para a beira da praia, a parte mais desenvolvida e cosmopolita da ilha. Mas é no interior que está sua maior beleza. Em Ubud, desbravamos cachoeiras, terraços de arroz e alcançamos vulcões que ameaçam e encantam ao mesmo tempo. A atenção com o corpo faz parte da cultura, e aproveitamos para curtir o spa no Como Shambala Estate.
A gastronomia é tão diversificada quanto a mistura de raças e religiões, mas a pimenta reina soberana junto com o arroz. Patos, porcos e peixes complementam o cardápio, misturando sempre sabores ácidos e adocicados. A selva oferece abundantemente jacas, mangas, mangostins e lichias. Coco e tamarindo são ingredientes que dão o toque inusitado, criando uma nova paleta de sabores.
Influência ocidental
A história da Indonésia tem sido influenciada por povos estrangeiros atraídos por seus vastos recursos naturais. Na era dos descobrimentos, foram os ocidentais, em busca das famosas especiarias. Portugueses, ingleses e, por fim, os holandeses, que colonizaram e batizaram Jacarta como Batavia e demoraram até o século 20 para ir embora. Hoje, as influências são de povos diversos: australianos, chineses e até brasileiros figuram em uma longa lista.