Por Lucas Peterson
Na Costa Rica, o comecinho da manhã é a melhor hora para estar acordado: na luz suave e azulada, em meio à brisa calma e fresca, o calor e a umidade do dia anterior são apenas uma lembrança.
Só que, neste dia em particular, havia um problema: me aproximei do Land Cruiser do meu anfitrião, Edu, e com ele cheguei à conclusão de que tínhamos um pneu traseiro furado. Eu havia marcado de fazer um passeio no Parque Nacional do Corcovado em meia hora, e ele deveria me levar ao ponto de encontro.
– Não tem problema – disse Edu, sacando do telefone para fazer uma ligação. – Pura vida.
Leia também
Roteiro de carro pela Costa Rica revela praias intocadas e pôr do sol espetacular
Costa Rica é o destino perfeito para quem está em busca de aventura
Guanacaste, um dos principais destinos da Costa Rica
A expressão, lema extraoficial local, raramente é usada no sentido literal na Costa Rica. Na verdade, é uma frase feita que pode ser aplicada a todo tipo de situação, como cumprimentos, despedidas ou, nesse caso, "não se preocupe".
Dez minutos depois, um motor distante podia ser ouvido na estrada de terra que leva à Fazenda Rio Drake, o pequeno hotel de que Edu cuida com a mulher, Sabrina. Era uma motinho cuspindo uma fumaça escura. Ele pôs umas notas na mão do rapaz e me disse para subir na garupa. E lá fomos nós, sacolejando nas trilhas no meio da floresta, na motoca barulhenta, enquanto o sol ia subindo no céu, correndo para ver se conseguia pegar o barco para Corcovado.
É fácil se perder na selva centro-americana: bater perna nas capitais europeias é sempre bom e vale muito a pena, mas você nunca consegue se desligar dos e-mails, das mensagens de voz e das contas à sua espera em casa. Já em Drake Bay, no litoral sudoeste da Costa Rica, rico e diverso, dá para esquecer tudo. Melhor ainda, pude aproveitar o que o país tropical tem a oferecer – caminhadas, mergulhos, vida selvagem – por um preço bem camarada.
Documentos na mão (você não pode embarcar para a Costa Rica se não tiver se vacinado contra a febre amarela – e ter o cartãozinho para comprovar), optei pela Osa à Península Nicoya, no noroeste, mais desenvolvida, justamente por ser mais remota e, portanto, com mais chances de me oferecer uma experiência dominada pela natureza, e não por outros turistas.
As melhores opções para chegar a Drake Bay são a Nature Air e a Sansa Airlines; eu voei com essa última. Prepare-se para pagar de US$ 80 (R$ 265) a US$ 120 (R$ 400) pela ida e outro tanto pela volta. O dólar norte-americano é aceito em todo lugar, mas recomendo trocar por alguns colones, a moeda local.
Algumas dicas essenciais: a companhia aérea não sai do terminal principal, em San José. Fica em um prédio ao lado, então preste muita atenção para não errar o caminho. Seu cartão de embarque é uma fita laminada reutilizável apenas com o nome do aeroporto de destino; não contém seu nome nem qualquer outra informação pessoal – por isso, não o perca.
Depois de 45 minutos em um Cessna minúsculo, cheguei à baía. Edu, de shorts cargo e boné verde-limão, me achou imediatamente entre as dezenas de passageiros e entramos em seu Land Cruiser. Dali, fiz um dos traslados mais curtos da minha vida, chegando ao hotel depois de mais ou menos um minuto.
No calor e na umidade da tarde, ele foi me guiando. Passamos pela placa em que se lia "Bienvenidos a Rio Drake Farm" e por mamoeiros e marañóns (cajueiros) para chegar ao meu quarto simples. A diária de US$ 54 (R$ 180) me garantiu um quarto com banheiro. Dá até para pagar menos, como nas Cabinas Manolo ali perto, por exemplo (US$ 40, ou R$ 130, mas você tem que pagar o transporte do aeroporto), e também muito mais: em um resort de ecoturismo exclusivo como o Luna Lodge, também na Península Osa, a diária de um chalé inteirinho só para você sai por US$ 200 (R$ 670).
Passeio no mar
Qualquer falta de conforto material é compensada por outras mordomias, como o pôr do sol espetacular que se vê do pátio do salão de jantar, os passeios de caiaque que se pode fazer no Rio Drake e a proximidade das praias quase desertas e trilhas naturais.
Um dia atravessei uma ponte de corda para chegar a uma praia maravilhosa onde fiquei praticamente sozinho; em outra ocasião, peguei a trilha dos macacos, que sai da propriedade, e vi um casal de macacos-prego pulando nos galhos acima da minha cabeça.
É possível também marcar excursões de pesca (US$ 125, ou R$ 410) ou para ver as rãs-venenosas-granuladas (US$ 50, ou R$ 165). Preferi fazer mergulho de snorkel (US$ 89, ou R$ 295) e um passeio pelo Parque Nacional do Corcovado (US$ 99, ou R$ 325). Nesses casos, Edu é quem organiza tudo. Se quiser economizar alguns dólares, dá para fazer a reserva diretamente com a agência (aqui, a Manolo Tours), mas é bem mais prático fazer tudo através de um intermediário. Às 6h, depois de uma madrugada de chuva, saí para minha expedição.
Grupo reunido (constituído de aproximadamente uma dúzia de pessoas, a maioria europeia), cumprimentamos o guia, Gustavo, e o filho. Foram 45 minutos de barco até a Isla del Caño, ilhota a oeste de Drake Bay. Durante o percurso, vimos um grupo de golfinhos brincando na água espetacularmente azul e atobás-de-patas-vermelhas e marrons voando ao nosso lado.
O passeio no Parque Nacional do Corcovado também é ótimo, perfeito para quem prefere ficar em terra firme – pelo menos a maior parte do tempo. Fizemos meio que uma aterrissagem anfíbia na chegada, em Sirena Beach (leve chinelo e sapato impermeável, além de água e filtro solar). Depois de sair quase voando de Rio Drake, entrei no barco faltando dois minutos para a saída. O caminho é longo, saindo da península rumo ao parque. Nosso guia, Julián, era extremamente prático e bem direto.
– Cuidado! Temos algumas das cobras mais venenosas do mundo – alertou.
Eu, inconscientemente, subi minhas meias.
– Esta é a terra do puma, da onça, da capivara – completou. – E também de 22 mil espécies de borboletas só nesta floresta – arrematou.
Com olhos treinados, apontou um quati-de-cauda-anelada fofo brincando na terra e, a seguir, um caracará.
– Temos de fazer silêncio – alertou ele, levando-nos para uma pequena clareira onde uma capivara imensa, que parecia ter no mínimo quase dois metros de comprimento, estava deitada com o filhote.
Passamos por ceibas majestosas e figueiras frondosas, o tempo todo de olho nas brincadeiras dos macacos-aranha, um casal de bugios sonolentos e um tucano-de-mandíbula-preta (Julián, muito solícito, tinha um pequeno telescópio e pudemos examiná-lo mais de perto).
Algumas das atrações eram meio que planejadas, como a árvore por que passamos e onde Julián parecia saber que haveria uma preguiça-de-três-dedos escondida com o filhote. Porém, mais ou menos na metade do passeio (que dura aproximadamente quatro horas), o rosto do guia se iluminou.
– Aí está uma coisa que nem eu tinha visto ainda – anunciou, depois de falar rápido com um colega.
Depois de mais 10 minutos, ele ajeitou o telescópio e deu uma espiada.
– Aí está! – e nos convidou a dar uma espiada.
Havia dois tamanduás-pigmeus no alto da árvore ali ao lado, os rabos de ambos, espigados e amarronzados, presos um ao outro. Foi difícil não se entusiasmar com Julián, que parecia totalmente estupefato.
– É a primeira vez que vejo – anunciou, um sorriso estampado no rosto.
Não demorou para que eu ficasse com a mesma expressão.