Não é necessário ser grande conhecedor de vinhos e espumantes para que a visita a uma vinícola se torne interessante. Pelo contrário. Um passeio guiado com didatismo pode, além de esclarecer questões específicas aos bons entendedores, ser um gatilho para o despertar de novas paixões pelo assunto. Uma das oportunidades para tais descobertas está no tour pela Salton, na serra gaúcha, do qual participei recentemente.
São diferentes tipos de roteiros disponíveis, e todos incluem a Galeria dos 100 anos, um espaço de arte com pinturas de Cristiano Fabris, artista local, que retrata a história da família. A trajetória vai desde a chegada de Antonio Domenico Salton a Bento Gonçalves, em 1878, passando pela fundação do negócio, em 1910, pela crise da década de 1980 – que forçou a venda de algumas terras –, até o momento em que a vinícola se firmou como uma das principais produtoras de espumantes do Brasil.
Leia também
Conheça 5 rotas turísticas para curtir Bento Gonçalves
O que ver e fazer nos caminhos que levam a Gramado
Onde fazer enoturismo no Rio Grande do Sul
A partir daí, os visitantes são apresentados aos variados passos da produção, em uma engrenagem que envolve 500 funcionários entre as unidades da Serra, da Fronteira e de São Paulo. O processo de seleção das uvas avança para prensa, fermentação e conservação. Ao final, a bebida é transformada em espumante ou vinho.
Tive a oportunidade de experimentar três desses produtos-base em fase de conservação, cada um guardado em um tanque de aço de 135 mil litros: um chardonnay da Serra, outro de Santana do Livramento e um pinot noir rosé (este, uma exclusividade oferecida ao nosso grupo e não disponível para roteiros de turistas). A experiência mostra um sabor intenso e rústico.
Entre os passos seguintes, está a produção dos espumantes, o carro-chefe da empresa, produzido pelos métodos charmat e champenoise, e dos vinhos finos. No charmat, a bebida fica nos tanques, onde é incluída a levedura responsável pela fermentação. Após o processo – cujo tempo varia para cada bebida –, o produto é engarrafado. No método champenoise, o princípio é o mesmo, porém a levedura é colocada dentro da própria garrafa, mudando a proporção entre líquido e sólido, resultando em um espumante completamente diferente.
Já para os vinhos, um ambiente climatizado abriga cerca de 2 mil barricas de carvalho vindas da França e dos Estados Unidos que guardam, cada uma, 225 litros de vinho tinto e branco. A bebida tem acompanhamento diário pelo tempo que for necessário. Um merlot, por exemplo, em geral, leva de seis meses a um ano para atingir a maturação, segundo o enólogo Gregório Salton, 27 anos. Mas não há regra, ressalta ele:
– O vinho é um ser vivo, cada safra é diferente, cada processo é diferente.
Os grandes tesouros da vinícola estão na chamada Cave da Evolução, um espaço charmoso e um tanto misterioso localizado a sete metros do chão que abriga os mais valiosos rótulos da marca. Guardados por anjos (literalmente) nas paredes, eles são o retrato das mais vitoriosas safras da vinícola. No final do labirinto, há uma grande mesa redonda que reúne pessoas em decisões ou comemorações importantes.
– Quisemos guardar aqui o que temos e tivemos de melhor – diz o presidente da empresa, Daniel Salton.
Os roteiros disponíveis
Tradicional
O passeio tem duração de 1h50min e custa R$ 30, com direito à degustação de seis produtos. Há um bônus para a compra de R$ 15. Só é necessário agendamento para grupos de mais de 10 pessoas.
Evolução
O passeio tem duração de 2h30min e custa R$ 80. A degustação é realizada na sala das Caves de Pedra. Os produtos são harmonizados com queijos e frutas secas. É necessário agendamento.
Ambos visitam vinhedos e relógio solar (exceto em caso de chuva), Galeria dos 100 anos, tanques de fermentação, autoclaves, Cave das Bordalesas, ala histórica, Cave da Evolução, engarrafamento e laboratórios. Mais informações sem salton.com.br.
*A repórter viajou a convite da Salton