Tradicional hospedagem nos Campos de Cima da Serra, o Veraneio Hampel, em São Francisco de Paula, surpreendeu os hóspedes na noite de Réveillon e está projetando um novo tempo para o turismo e a gastronomia local. Entre as 40 pessoas que escolheram o friozinho e a natureza de São Chico para a virada, muitas fizeram a reserva esperando encontrar o hotel que conheceram com seus avós, aberto desde 1899. Foi quando o novo dono, o chef Marcos Livi, proprietário dos bares Verissimo, Quintana, Botica e outras badaladas cozinhas de São Paulo, anunciou: "O jantar desta noite será servido no pátio. E não teremos fogos de artifício, caros hóspedes".
– Muita gente passou a tarde olhando para o céu para ver se não ia chover. Foi incrível – diverte-se Livi.
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O espaço entre o prédio histórico construído pelos fundadores alemães e o mais recente, de 1964, virou o restaurante a céu aberto. Mesas, cordão de luz para iluminar a noite e artefatos de uma cozinha especialíssima foram instalados, como um antigo arquivo de ferro usado para defumar e assar legumes e tubérculos. A noite se fez estrelada, como há muito não se via na região. E o filho pródigo, que deixou a cidade natal há 25 anos, deu início ao projeto para a vida, ao lado da família e de seus hóspedes.
Livi cozinhou ganso defumado, de São Lourenço do Sul, leitão 12 horas, de um produtor orgânico de São Chico, e preparou um polvo com Linguiça Blumenau, de Santa Catarina. Para a sobremesa, peras com sal grosso assadas no carvão e figos na brasa.
– Quero entregar mais experiência e preservar a natureza. Com simplicidade. Estamos trabalhando para trazer de volta as cotias, os bugios e os jacus. Por isso, não podíamos ter fogos na noite de Réveillon – conta.
O jantar foi um sucesso e marcou o começo do Parador Hampel – o novo nome do antigo veraneio. Desde maio, quando fechou o negócio da compra do estabelecimento, depois de seis meses de difíceis tratativas, está observando e entendendo o comportamento dos hóspedes, mapeando cachoeiras e trilhas para depois acelerar o investimento na propriedade que marcou a sua infância – o pai era colono, vizinho do hotel, e levava cavalos velhos para os turistas passearem no Hampel.
Ao lado da mulher, Vera, dos filhos gêmeos Guilherme e Frederico e do cão Simba, Livi já providenciou o essencial para o início da operação:
– O chuveiro é quente, a cama é nova e o edredom de lã de carneiro é novo.
Com a ajuda de dois vizinhos paulistas, instalou fibra ótica e oferece Netflix em todos os quartos para os dias de neblina ou chuva na Serra.
– Não somos novos, não somos modernos, mas estamos vivos. E prontos para atender. Este é o nosso desafio. Estamos pensando nas crianças, nos idosos, nos pets. Como os mais velhos vão chegar na cachoeira? Nossa preocupação também é voltar à origem. Tudo o que os alemães (fundadores) fizeram foi mais inteligente do que foi feito ao longo dos anos. Em 1964, por exemplo, criaram um acesso principal pelos fundos do hotel. Vamos resgatar o traço do alemão, o bom gosto que se perdeu – diz o proprietário.
Para a revitalização do ambiente, Livi chamou o arquiteto Alexandre Rodrigues, de Pelotas. Os primeiros traços do projeto serão apresentados no Carnaval e incluem um mirante de vidro entre o prédio histórico e o mais moderno para acomodar observadores de pássaros internacionais que visitam São Chico. Conforto, natureza e gastronomia são as palavras que regem o projeto que vai misturar a cultura alemã com o requinte do Uruguai.
A partir de agora, uma vez por mês e em todos os feriados prolongados do ano, o chef estará no Hampel para cozinhar e receber as pessoas. E a motivação é uma paixão antiga:
– Eu levei a cozinha do Sul para São Paulo. E sempre achei que devia retornar alguma coisa para São Chico, a minha cidade. Esta é a minha volta. Aqui tem muita coisa boa. Nosso turismo é simples e acolhedor. É tudo o que as pessoas querem e precisam.
Turismo do simples
O Hampel não é recomendado para quem gosta de porcelanato, talheres de prata e carpete. A proposta é o turismo do simples, uma experiência com a natureza e com a hospitalidade. A ideia é ganhar tempo com as pessoas, falar com os donos, escolher o que vai comer fora do cardápio, tomar café da manhã na cozinha e ver o cozinheiro em ação. A filosofia segue a tendência de novas formas de consumo, sem protocolo, sem rituais de hotelaria. Se o hóspede chegar à meia-noite, será atendido. Se precisar sair às 5h, terá o café da manhã.
Cozinha de produto
Do colono para a mesa. A cozinha do Hampel é conjugada com o salão principal do hotel. O objetivo é quebrar barreiras e aproximar as pessoas. O café da manhã é reforçado e servido até o meio-dia. À noite, o serviço é à la carte. Em feriados, café da manhã, almoço e jantar são oferecidos a quem não está hospedado. É só avisar ou bater na porta, diz o chef. Livi cozinha todos os feriados prolongados no Hampel. A refeição pode ser servida no salão, à beira do lago, no pátio ou na cachoeira.
Parador Hampel
A área do hotel é de 21 hectares. Há mata virgem, araucárias, xaxins, samambaias e nascentes. A água que nasce dentro da propriedade forma um lago e uma cachoeira. Outras duas cachoeiras estão nas divisas do Hampel e ganharão duas novas trilhas. Todas as camas foram trocadas, assim como os chuveiros e os edredons, em lã de carneiro. Há TV com Netflix nos quartos. A revitalização prevê obras nos próximos meses. Na lista, estão a construção de horta, estufa, academia, sauna/spa, piscina, piscina natural, recepção, playground, casinha na árvore, melhoria do acesso às trilhas, nova recepção e um observatório de pássaros, além de reforma nos quartos. O local teve o nome trocado de Veraneio Hampel para Parador Hampel. O lugar, fundado por alemães em 1899, é endereço fixo de biólogos que estudam samambaias e xaxins.
Conheça o chef
Marcos Livi estudou hotelaria na Escola Castelli, em Canela, e deixou São Francisco de Paula há 25 anos para estagiar em São Paulo. Hoje, aos 44 anos, emprega 220 pessoas em seis empreendimentos gastronômicos na capital paulista. É conhecido por propagar a cultura da cozinha do sul do país e se tornou um dos maiores pesquisadores no assunto. A lógica do chef é a mesma em todas as suas cozinhas: entender e se adaptar às novas formas de consumo. Em 2016, além do Parador Hampel, o empresário abriu a pizzaria Napoli Centrale no Mercado de Pinheiros, onde também tem o Bioma Pampa, um box com produtos do Sul, e, em outubro, pôs para funcionar o Oficcina, padaria, pastifício e empório, no Brooklin Novo. Livi é dono dos bares Verissimo, Quintana e Botica.
Informações 24h: (54) 3244-1363
Tarifa: diária para casal durante a alta temporada (até 31 de janeiro) varia de R$ 300 a R$ 500.